Comunidades tradicionais reivindicam políticas públicas

A inclusão social dos povos e comunidades tradicionais foi assunto de uma audiência pública realizada pela Comissão d...

18/12/2007 - 00:01
 

Comunidades tradicionais reivindicam políticas públicas

A inclusão social dos povos e comunidades tradicionais foi assunto de uma audiência pública realizada pela Comissão de Participação Popular da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, a requerimento dos deputados Almir Paraca (PT) e André Quintão (PT), na tarde desta terça-feira (18/12/07). O objetivo "nivelar informações, comparar políticas e dotações orçamentárias dos governos federal e estadual e discutir ações das duas esferas".

Indígenas, ciganos, quilombolas, geraizeiros, vazanteiros, extrativistas, seringueiros, castanheiros, caiçaras, jangadeiros, pescadores, ribeirinhos. Todas essas categorias servem para designar o que os antropólogos chamam de comunidades tradicionais, ou seja, grupos culturalmente diferenciados que se reconhecem como tais, com práticas geradas e transmitidas pela tradição. Nessa definição, caberiam 25 milhões de brasileiros, ou 14% da população.

A presença maciça de representantes quilombolas na platéia e na Mesa polarizou o debate em torno dos interesses dessas comunidades, que mereceram um debate específico no Plenário no último dia 30 de novembro, promovido pela Comissão de Direitos Humanos.

O deputado Paraca disse que era preciso reconhecer o esforço do Governo Lula para tirar da invisibilidade segmentos sociais diversos, e que a criação da Secretaria Especial de Políticas de Promoção e Igualdade Racial (Seppir) demonstrava isso.

"Para todas as comunidades tradicionais identificadas no Norte e Noroeste de Minas, sejam quilombolas, indígenas, geraizeiros, ou vazanteiros, a questão territorial é decisiva. Também são importantes as questões culturais, ancestrais, religiosas, sociais e econômicas, mas fazer respeitar esse território é o grande problema", afirmou o deputado.

Abordagem tem que ser adequada

O representante do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Aderval Costa Filho, concordou com o deputado de que a questão territorial é a principal dentre a lista de 12 demandas prioritárias com as quais trabalham. "Estamos sempre administrando conflitos com a superposição de parques de proteção integral, sejam eles estaduais ou nacionais, sobre áreas reivindicadas por comunidades tradicionais", alertou ele.

A respeito das práticas extrativistas dessas comunidades, Costa Filho disse que é preciso respeitar as tradições e não tentar, como alguns técnicos fazem, impor restrições da legislação trabalhista. "É o caso dos colhedores de açaí. A destreza para subir nas palmeiras se adquire na infância. Se exigirmos que os meninos cheguem aos 17 anos para subir no açaí, eles vão cair e quebrar o pescoço", exemplificou.

Roberta Albanita, da Secretaria de Desenvolvimento Social, concorda com Aderval. "O grande desafio para quem trabalha a inclusão dessas comunidades é a desconstrução do seu saber para aprender, entender o que está lá e não intervir erradamente", esclareceu. Albanita admite que as ações ainda são dispersas, e que as iniciativas ainda pecam com o viés costumeiro de levar os pacotes existentes.

Quatro lideranças comunitárias presentes na Mesa defenderam os interesses dos quilombolas. Maria das Graças Sabóia pediu uma política de reparação dos danos infligidos à comunidade negra, e a implementação da Lei 10.6349, que introduz a História da África nas escolas. Marielle Patrícia Brasil de Figueiredo, do Cedefes, listou as formas de participação que seriam ideais para as comunidades participarem da formulação de políticas próprias, e defendeu o protagonismo dos quilombolas na defesa dos seus interesses.

Helen Santa Rosa disse que o Centro de Agricultura Alternativa atende cinco tipos de comunidades tradicionais: os geraizeiros, que vivem encurralados pela monocultura do eucalipto; os quilombolas, que são 30 comunidades apenas no Gorutuba; os vazanteiros, que cultivam as vazantes do São Francisco e se deslocam de canoa; os caatingueiros, que convivem com a vegetação do semi-árido; e os indígenas xacriabás, que vivem em São João das Missões.

Quilombolas exigem respeito e políticas reparatórias

Maria Luzia Sidônio, da Federação Quilombola, discorda de Helen, ao dizer que apenas os indígenas, quilombolas e ciganos podem ser classificados como povos tradicionais. "Geraizeiros e vazanteiros podem ser hoje, e amanhã não", distinguiu. "Nós precisamos de território para nossas práticas, que usam o barro e as plantas medicinais. Também sofremos com a invasão dos eucaliptos da Aracruz Celulose em nossos quilombos", denunciou. Sidônio disse que os negros têm votos, mas não têm voz e vez. "Sofremos tantos desrespeitos que não estamos mais pedindo. Estamos exigindo nossos direitos. Somos 476 quilombos em Minas", disse ela.

O deputado André Quintão disse que várias emendas discutidas na Comissão para beneficiar comunidades tradicionais estão sendo incorporadas ao PPAG e devem se incluídas no Orçamento, com um expressivo volume de recursos. Carlin Moura, deputado do PCdoB, afirmou que "a inclusão social é marca do Governo Lula, e o resgate da dívida com os quilombolas é tarefa monumental. Até a resistência dos povos tradicionais foi excluída da História do Brasil", lembrou.

A deputada Elisa Costa disse que 25 milhões de pessoas que compõem as comunidades tradicionais merecem políticas públicas urgentes, e informou que a reclamação dos xacriabás quanto à assistência de saúde prestada pela Funasa também é replicada no Leste de Minas, pois os krenaks e os machacalis também reclamam da saúde. "É urgente a demarcação das terras indígenas. Uma parte dos machacalis já foi beneficiada, mas ainda faltam outros grupos". Elisa cobrou a criação de uma coordenadoria de igualdade racial em Minas.

Presenças: Deputados André Quintão (PT), presidente; Carlin Moura (PCdoB), Almir Paraca (PT) e Elisa Costa (PT).

 

 

 

 

 

 

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