Leite brasileiro pode ter selo de qualidade em 2008

Laticínios de todo o Brasil poderão contar, no próximo ano, com um selo de qualidade para o leite, concedido por uma ...

18/12/2007 - 00:00
 

Leite brasileiro pode ter selo de qualidade em 2008

Laticínios de todo o Brasil poderão contar, no próximo ano, com um selo de qualidade para o leite, concedido por uma agência de fiscalização, nos moldes do selo da Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic). A informação é do presidente do Sindicato das Indústrias de Laticínios de Minas Gerais (Silemg), Celso Moreira, que participou, nesta terça-feira (18/12/07), na Assembléia Legislativa de Minas Gerais, de debate da Comissão de Saúde sobre as conseqüências da adulteração do leite para o organismo humano. Moreira enfatizou que o leite produzido e comercializado no Estado é de ótima qualidade.

O debate foi requerido pelo deputado Carlos Mosconi (PSDB), presidente da comissão, a partir de notícias veiculadas pela imprensa de que a adição de soda cáustica ou água oxigenada ao leite, em pequenas quantidades, poderia ser tolerada pelo organismo. Essa fraude foi descoberta em cooperativas do Sul de Minas e do Triângulo, no mês de outubro. "Todas as medidas administrativas foram tomadas, com prisões, inquéritos e recolhimento do produto. Mas os casos de intolerância ao leite, por exemplo, não podem estar sendo provocados por substâncias estranhas ao leite?", questionou Mosconi.

A nutricionista Flávia Helena Paiva citou a falta de estudos aprofundados sobre os efeitos da soda cáustica e da água oxigenada adicionadas ao leite, mas, a partir das características desses produtos, citou como possíveis conseqüências alterações gastrointestinais graves. "A soda é corrosiva, pode causar queimaduras", detalhou. Segundo ela, a legislação brasileira permite pequenas quantidades de soda, como redutor de acidez, em produtos como balas, pastilhas e gomas de mascar, mas não no leite. A nutricionista reforçou ainda a importância do leite na alimentação humana, como fonte de cálcio e proteína animal, contribuindo para prevenir desnutrição.

Também a gerente da Vigilância Sanitária de Alimentos da Secretaria de Estado da Saúde (SES), Cláudia Parma Machado, enfatizou que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) está estudando os efeitos das substâncias adicionadas ao leite, mas que o procedimento demanda tempo e protocolos de experiências com cobaias. Por essa razão, o foco do trabalho tem sido a fiscalização da indústria e do comércio, para evitar que a fraude continue acontecendo. A gerente acrescentou que existem outros tipos de fraude, no Brasil e no mundo, inclusive com substâncias para as quais não há metodologia de identificação.

Representando o diretor-geral do Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), Altino Rodrigues Neto, as veterinárias Lílian Luiza Pires e Liliane Denise Miranda Menezes enfatizaram que o órgão se responsabiliza apenas pela fiscalização do leite de saquinho, tipos C e B. Já o leite de caixinha ou UHT (tratado em altas temperaturas), objeto da fraude em Minas, é fiscalizado pelo Ministério da Agricultura. Liliane acrescentou que a soda cáustica pode também pode apresentar contaminação por metais pesados, o que geraria, no organismo humano, sensação de formigamento na boca e irritação da mucosa.

Produtores reclamam da queda no consumo

O presidente do Silemg, Celso Moreira, fez um apelo aos deputados para que ajudem a divulgar a qualidade do leite mineiro. Segundo ele, após a fraude, considerado um problema pontual, todo o leite produzido em Minas ficou sob suspeita, o que gerou uma queda de 50% no consumo do produto UHT, no primeiro momento. Hoje, a queda está na casa de 30%. Essa redução, de acordo com o sindicalista, tem conseqüências não só para a economia, mas para a nutrição e prevenção de doenças como osteoporose. "A estatística de consumo no Brasil já é baixa. Está em 136 litros/habitante/ano, quando a Organização Mundial de Saúde recomenda 200 litros", comparou.

Os deputados sugeriram que a situação desfavorável seja revertida com orientação. "Ficou uma incerteza, e é preciso que a população saiba que a fiscalização é bem feita", afirmou Mosconi, criticando o modelo de fiscalização com fiscal fixo no laticínio. Celso Moreira explicou, porém, que desde o episódio das fraudes, esse modelo já foi alterado. "A inspeção está sendo feita com alto rigor em todas as empresas. Em algumas, as vendas estão suspensas até o laudo dos exames. Isso garante a qualidade do leite comercializado", enfatizou o presidente do Silemg.

O deputado Ruy Muniz (DEM) também sugeriu uma articulação entre os produtores e o poder público para uma campanha sobre a importância do leite, inclusive para a economia de Minas. "O episódio foi uma exceção, e não a regra", afirmou. O deputado Carlos Pimenta (PDT) acrescentou que não viu nenhuma campanha publicitária de grandes laticínios para recuperar a imagem do produto. "Em Montes Claros, as três indústrias fizeram uma campanha sobre a qualidade do leite da região", exemplificou. Segundo ele, a população de baixa renda, que recebe leite do governo e precisa do produto, pode ter deixado de consumi-lo, por insegurança.

A gerente da SES, Cláudia Parma, informou que, em nível nacional, foi criado um centro integrado de monitoramento da qualidade do leite, com vários órgãos coordenados pela Anvisa, para unificar e padronizar as ações de fiscalização, inclusive do leite tipo C, que é monitorado pelos Estados. As informações, segundo ela, estarão disponíveis no site da Anvisa, para consulta da população.

Já o deputado Hely Tarqüínio (PV) cobrou ações de apoio do poder público em toda a cadeia produtiva do leite, a começar pela ordenha. "Falta essa cultura no País, e a Assembléia poderia legislar nesse sentido, dentro das nossas limitações", opinou. Ele questionou o prazo elástico de validade de alguns tipos de leite e sugeriu a confecção de uma cartilha para todos os produtores. Cláudia Parma reforçou a preocupação de Tarqüínio e disse que a Anvisa tem encontrado no País traços de drogas veterinárias, antibióticos e parasitários em algumas amostras de leite. "Esses produtos não são eliminados nem com altas temperaturas. Se não houver boas práticas de produção no campo, isso chega ao consumidor", alertou, salientando que esse é um problema mundial.

Presenças - Deputados Carlos Mosconi (PSDB), presidente; Hely Tarqüínio (PV), vice; Carlos Pimenta (PDT), Doutor Rinaldo (PSB), Ruy Muniz (DEM), Fahim Sawan (PSDB) e Weliton Prado (PT).

 

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