Associação pede fim de impostos para produtos diet

Isenção de impostos para produtos diet, distribuição dos produtos na periferia, adequação da merenda oferecida e vend...

17/12/2007 - 00:01
 

Associação pede fim de impostos para produtos diet

Isenção de impostos para produtos diet, distribuição dos produtos na periferia, adequação da merenda oferecida e vendida nas escolas e inclusão de disciplina sobre educação alimentar no currículo escolar. Essas foram algumas das propostas apresentadas pela presidente da Associação de Diabetes Infantil, Maria Aparecida Marques, na Assembléia Legislativa de Minas Gerais. Ela foi uma das palestrantes do debate público que a Comissão de Educação, Ciência, Tecnologia e Informática promoveu nesta segunda-feira (17/12/07), no Plenário. O Debate Público Alimentação escolar e os cuidados com a dieta das crianças com diabetes tipo 1 foi solicitado pelo 1º-secretário da ALMG, deputado Dinis Pinheiro (PSDB). Quem presidiu o debate foi o deputado Carlin Moura (PCdoB). Também estiveram presentes os deputados João Leite (PSDB), Délio Malheiros (PV), Fahim Sawan (PSDB), Gustavo Valadares (DEM), Vanderlei Jangrossi (PP) e Maria Lúcia Mendonça (DEM).

"Será que a sociedade sabe o que representa uma criança com diabetes? Quais as necessidades dessas crianças?", esses foram alguns dos questionamentos do deputado Dinis Pinheiro, que lembrou a tramitação do Projeto de Lei (PL) 1.613/07, de sua autoria, que dispõe sobre a política pública de prevenção e controle do diabetes em crianças e adolescentes matriculados nas escolas da rede pública e privada de ensino. Apresentado depois da realização de uma audiência pública sobre o tema, o PL aguarda parecer da Comissão de Constituição e Justiça.

O deputado Délio Malheiros informou que também apresentou um projeto, o PL 898/07, que dispõe sobre a comercialização de lanches e bebidas em escolas no Estado. Segundo o projeto, a comercialização de lanches e bebidas nas escolas públicas e privadas em Minas Gerais devem obedecer aos padrões de qualidade nutricional indispensáveis à saúde dos alunos e à prevenção da obesidade infantil. Ele também veda a comercialização nas escolas de produtos como frituras, pães e salgados com massa folhada, biscoitos recheados, balas, pirulitos e gomas de mascar, bebidas artificiais e salgadinhos industrializados. O PL aguarda designação de relator de 1º turno, na Comissão de Fiscalização Financeira e Orçamentária. "As crianças adquirem esses produtos sem saber o mal que eles fazem", afirmou.

Durante a fase de palestras, o depoimento de Érica Maiara Ferreira da Fonseca, 16 anos, emocionou os presentes. Em conseqüência do diabetes, ela ficou em coma durante 27 dias. "Só Deus para dar forças. Se eu tivesse dó de mim, já teria morrido. Não tenho condição de fazer o que a médica pede. Muitos remédios são comprados, porque o posto não fornece", comentou. "Eu comia a merenda da escola sem saber que fazia mal. Peço às crianças para se cuidarem desde pequenas." Érica tem diabetes desde 4 anos.

Merenda escolar é muito calórica e tem baixo valor nutricional

A presidente da Associação de Diabetes Infantil, Maria Aparecida Marques, além de apresentar as propostas para combater o aumento da doença e para melhorar a qualidade de vida das crianças com diabetes, questionou a falta de investimento em pesquisas na área. Ela também lembrou que os produtos diet são exageradamente caros e sugeriu incluí-los na lista de insumos da farmácia popular. "Na periferia, só se encontra adoçante líquido. Sem opções, e com o alto valor dos produtos, o doente acaba consumindo produtos com açúcar, o que piora o quadro de sua doença", disse. Para ela, uma das conseqüências é um maior gasto do Estado com saúde e o melhor seria atuar na prevenção. Ela lembrou que uma das vitórias ocorreu depois da realização da audiência pública na ALMG, no dia 6 de junho deste ano. "Antes, a agulha da seringa fornecida para aplicação da insulina era a mesma entregue aos adultos. Agora, passou de 12,7 mm para 8 mm. Foram 7 milhões de seringas trocadas", contou.

O avanço do diabetes tipo 1 entre as crianças foi o tema abordado pelo médico endocrinologista e presidente da Associação Brasileira de Diabetes, doutor Levimar Rocha Araújo, que tem diabetes. Ele apresentou dados da doença. "No Brasil, são mais de 6 milhões de diabéticos", informou. O médico pediu a atenção dos pais. "Excesso de peso na infância é um sinal de que toda a família precisa de novos hábitos". Ele fez algumas sugestões de merenda saudável para as crianças: frutas, leite desnatado com biscoito salgado, pão integral com carne e suco natural, vitaminas de leite com fruta e sopa de legumes com frango, por exemplo.

Os sintomas mais comuns entre as crianças diabéticas são vontade de urinar diversas vezes, fome e sede freqüentes, perda de peso, fraqueza, fadiga, nervosismo, mudanças de humor, náuseas e vômitos. Apesar de diversos avanços da medicina nessa área, principalmente com a utilização de células-tronco, a doença ainda não tem cura.

O diabetes tipo 1 é mais comum em crianças e adolescentes. É uma doença auto-imune, que se caracteriza pela destruição progressiva das células do pâncreas, levando a uma deficiência absoluta de insulina. O diabetes tipo 2 é conhecido também como diabetes do idoso ou diabetes do obeso. É o tipo mais comum, sendo responsável por 90% dos casos da doença. Há presença de insulina, porém, ela não age de forma adequada, o que ocasiona a elevação dos níveis glicêmicos e complicações decorrentes. Com isso, no início do tratamento, os pacientes são tratados apenas com dieta, atividade física e hipoglicemiantes orais. Porém, em um estágio mais avançado, esse paciente pode também vir a necessitar do uso da insulina.

Atenção básica da Secretaria da Saúde é insuficiente

Fernanda Santos Pereira, da Secretaria de Estado de Saúde, disse que o tratamento com medicamentos precisa ser acompanhado pelo uso de dietéticos e por exercícios físicos. A Secretaria elaborou um protocolo de atendimento que garante insumos e medicamentos, incluindo duas tiras de teste por dia e insulina, agulhas, lancetas, etc. Ela discorreu também sobre os procedimentos para diagnosticar e cadastrar o paciente, habilitando-o aos benefícios.

A exposição de Fernanda foi criticada por Maria Aparecida Marques, para quem só o número de quatro tiras diárias e insulina ultra-rápida poderiam ser incluídos num conceito de atenção integral. Da platéia, inúmeras pessoas criticaram o excesso de burocracia que antecede o cadastramento, provocando muitas mortes antes que o atendimento seja autorizado.

O desempenho da Secretaria de Estado da Educação no tema é ainda mais deficiente a julgar pelo depoimento da nutricionista Valéria Monteiro de Jesus, a única nutricionista daquela Pasta que atende 1,8 milhão de crianças e adolescentes em quase 4 mil escolas. Ela disse que o Programa de Alimentação Escolar recebe do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) apenas R$ 0,22 por aluno/dia, com o intuito de assegurar pelo menos 350 calorias e 9 g de proteínas diárias. "No início, o problema era a desnutrição dos meninos, e a orientação era de aporte de energia e alimentos calóricos. Desde 2006 tentamos uma revisão de cardápios, incluindo frutas e vegetais, mas o dinheiro não é suficiente", disse Valéria.

Marlene Machado Porto, membro do Conselho Estadual de Educação, disse que muitos meninos vão à escola em busca primeiro do alimento, depois do ensino, e que a assistência deve chegar a todos que necessitam, da forma que necessitam. Ela informou que vários municípios já estão adotando o princípio da dieta nas cantinas e sustentou que o repasse do Estado é suficiente para uma alimentação saudável. Portanto, não seria preciso ter "barzinho" dentro das escolas.

Por sua vez, o representante da Secretaria de Desenvolvimento Social, Ivan Ferreira da Silva, fez algumas provocações: pediu a capacitação das cantineiras para alterar os cardápios e atuarem como agentes nutricionais. Propôs também que a escola saia de seus muros e faça conscientização do baleiro que fica na porta da escola e da mercearia da esquina. Sugeriu também propagandas duras do Ministério da Saúde contra os alimentos prejudiciais, como se faz contra o tabaco.

Apenas 30% das escolas dão atenção a aluno diabético

Abertos os debates, vários participantes questionaram aspectos específicos do diabetes infantil, lamentaram mortes prematuras de parentes e vizinhos e reclamaram da burocracia do sistema público de saúde e do desconhecimento de muitos profissionais de saúde acerca do diabetes. A professora Gláucia se identificou como diabética e pesquisadora, revelando que só 30% das escolas da Regional Pampulha consideram que o aluno diabético precisa de atenção especial.

No encerramento, o deputado Dinis Pinheiro revelou que o Governo de Minas gastava apenas R$ 300 milhões anuais com a saúde, mas que o governador Aécio Neves tinha conseguido elevar esse montante para R$ 1,5 bilhão. Pinheiro criticou a atuação das lideranças do seu próprio partido, o PSDB, no Senado, contra a CPMF. "O senador Arthur Virgílio foi revanchista. Sou a favor da diminuição de impostos para o contribuinte brasileiro, mas gostaria muito que a Saúde recebesse os R$ 40 bilhões da CPMF", afirmou.

Requerimentos: Os três deputados presentes à Mesa, Maria Lúcia Mendonça (DEM), Carlin Moura (PCdoB) e Délio Malheiros, assinaram vários requerimentos, pedindo a designação de nutricionistas para atender as escolas; para que os insulino-dependentes recebam quatro fitas de teste por dia; que seja feita a aferição dos glicosímetros; que a Secretaria da Educação estabeleça uma Instrução Normativa para que os docentes saibam cuidar de alunos diabéticos; e que as notas taquigráficas sejam enviadas à Secretarias da Educação, da Saúde e ao Conselho de Alimentação Escolar.

 

 

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