Sondagens sobre gás natural no Noroeste vão se intensificar em
2008
Os levantamentos sísmicos, espécie de
ultrassonografia do solo, para identificar possíveis jazidas de gás
natural na Bacia do São Francisco, devem começar no próximo ano,
segundo informações do geólogo e gerente de exploração da Petrobras,
Paulus Van Der Ven. Ele participou nesta sexta-feira (14/12/07) da
audiência pública da Comissão de Meio Ambiente e Recursos Naturais
da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, em Brasilândia de Minas,
Noroeste do Estado, para debater o assunto. O autor do requerimento,
deputado Almir Paraca (PT), disse que o objetivo da reunião era
obter informações precisas sobre a exploração do gás natural na
região.
"Sabemos onde tem boi, agora precisamos descobrir
se há uma boiada e onde ela está", comparou o técnico da Petrobras,
ao afirmar que todos sabem da existência do gás no Noroeste de
Minas. "Precisamos saber se há jazidas e condições de produzir o gás
natural para comercialização", continuou. A Petrobras participou da
7ª rodada de licitações realizada pelo Ministério de Minas e Energia
em 2005 e adquiriu a concessão de oito blocos, com área total de
quase 18 mil km2. A Petrobras
tem parceria com a British Gás nesse trabalho de exploração da
bacia.
Empregos - A notícia de que
serão necessárias de 300 a 350 pessoas para as atividades sísmicas
animou os participantes da audiência - lideranças regionais e
comunidade. Nessa primeira fase de pesquisas, serão investidos US$
18 milhões pela empresa. Para as perfurações dos poços, em uma
segunda etapa, o gasto deve ficar entre US$ 7 e 12 milhões para cada
poço.
Paulus Van Der Ven foi questionado quanto a
probabilidade de terem sucesso nas prospecções e disse que esse
cálculo é feito a partir de cada fator necessário para a produção do
gás natural - rocha geradora, reservatório, migração, estrutura e
selante. Segundo ele, todas essas condições precisam ocorrer
simultaneamente e a probabilidade média é de 10%. No entanto,
segundo ele, essa é uma média normal para a Petrobras. "Não quero
dar a ninguém a impressão de que tem ou não condições de produção.
Estamos fazendo pesquisas para ver se temos como driblar as
dificuldades", informou. Respondendo ao deputado Almir Paraca, o
gerente da Petrobras não confirmou a informação divulgada pela
grande imprensa de que o potencial da bacia era de produzir um
trilhão de m3 de gás natural.
A preocupação com os impactos das sondagens no meio
ambiente e na segurança foram apresentadas pelo geofísico e gerente
de segurança, meio ambiente e saúde da empresa, Durval Borba
Bittencourt Júnior. Ele informou as medidas que serão tomadas para
garantir que não haja danos para o meio ambiente, os funcionários e
a comunidade e disse que serão feitos treinamentos nesse sentido.
Paulo Van Der Ven acrescentou: "Depois que passarmos por aqui, não
queremos deixar rastros de problemas."
Estado também participa de explorações
A Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas
Gerais (Codemig) também adquiriu um bloco no leilão e está
realizando estudos exploratórios. Segundo o assessor da presidência
da Codemig, Renato César Salgado Fonseca, 70% dos estudos com
amostras do solo já foram analisados e, em uma região específica,
que ele não revelou qual é, encontraram quantidade significativa de
gás.
Pouca qualificação - O
coordenador do Programa de Energia da Secretaria de Estado de
Ciência e Tecnologia e Ensino Superior do Estado, Marcelo Franco,
lamentou a pequena participação do Estado nesse mercado "Não temos
exploração de petróleo e gás no Estado, mas temos muito potencial
científico", afirmou ao lembrar que Minas é o Estado que mais possui
universidades federais, 11 ao todo. "O problema é que temos pouca
qualificação de recursos humanos para essa área específica",
avaliou. Marcelo Franco anunciou o investimento de R$ 6 milhões do
Estado no Departamento de Química da UFMG para elaboração de um
projeto que será apresentado à Petrobras. "Queremos capacitar
recursos humanos em todos os níveis", afirmou.
Bacia do São Francisco já recebeu mais de R$ 14
milhões em investimentos
Outros dados sobre a exploração do gás natural no
Brasil foram apresentados pelo diretor do Departamento de Política
de Exploração e Produção de Petróleo e Gás Natural, José Botelho
Neto. Ele informou que, desde 1999, com a abertura do mercado, foram
realizadas, com sucesso, sete rodadas de licitação. O maior produtor
de gás natural hoje é a Bacia de Campos, que responde por
praticamente a metade da produção nacional. "Hoje, temos 64 empresas
concessionárias, sendo 28 nacionais", acrescentou. O representante
do ministério disse ainda que 90% dos investimentos das empresas
devem ser feitos dentro do País e que as participações
governamentais se dão por meio de royalties, participação
especial (para grandes reservas), bônus de assinatura e uma espécie
de aluguel pela ocupação da área.
Segundo José Botelho, na Bacia do São Francisco
foram arrematados 30 blocos exploratórios na 7ª rodada da Agência
Nacional de Petróleo (ANP). Hoje, há na região 88 mil km2 de área concedida na região, o que
corresponde a cerca de um terço da área concedida nacionalmente. Ele
acrescentou ainda que o volume de investimentos feitos pelas
empresas que exploram a Bacia do São Francisco, até 30 de setembro
deste ano, foi de R$ 14 milhões.
O delegado estadual do Ministério de
Desenvolvimento Agrário, Rogério Correia, apresentou os projetos do
ministério para a região Noroeste e acrescentou que a audiência traz
a perspectiva de pensar o desenvolvimento da região de forma global.
Ela também defendeu a integração dos produtores rurais no processo
de produção de combustíveis.
Ao final da reunião, o deputado Almir Paraca
apresentou um requerimento, que será votado na próxima reunião da
comissão, solicitando que a ANP tome as medidas necessárias para que
os blocos ofertados à Geobrás, empresa que não conseguiu fazer o
aporte necessário de recursos para manter a concessão, sejam
ofertados a outras empresas interessadas. O deputado também
manifestou seu desejo de que as pesquisas confirmem a existência de
gás natural na região, mas também lembrou que o Noroeste de Minas
poderá participar do desenvolvimento promovido pela usina de
biodiesel que será inaugurada em Montes Claros. "A produção de
oleaginosas até o momento é insuficiente para manter a usina. A
região deve se articular para investir nisso também",
concluiu.
Presenças - Deputado Almir
Paraca (PT). Além das autoridades citadas na matéria, participaram
da reunião o prefeito de Brasilândia de Minas, João Carlos do Colto;
o presidente da Câmara Municipal da cidade, Djalma Abrantes; e o
geofísico da Petrobras e líder técnico da concessão BTSF-2 junto à
parceria Petrobras e British Gás, Afonso Mauro Filho.
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