Governo avalia dispensar pequeno produtor da licença ambiental

O presidente da Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam), José Cláudio Junqueira Ribeiro, anunciou, nesta quinta-fei...

13/12/2007 - 00:01
 

Governo avalia dispensar pequeno produtor da licença ambiental

O presidente da Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam), José Cláudio Junqueira Ribeiro, anunciou, nesta quinta-feira (13/12/07), que uma das propostas em estudo pelo Executivo é dispensar do licenciamento ambiental as propriedades rurais inferiores a 100 hectares. Elas respondem por mais de 400 mil das 500 mil existentes em Minas, mas ocupam uma área que não chega a 20% do total do Estado. Com essa sinalização positiva, Junqueira trouxe uma boa notícia para produtores de várias regiões, em especial do Sul, que participaram da reunião das Comissões de Administração Pública e de Meio Ambiente e Recursos Naturais da Assembléia Legislativa de Minas Gerais. Iniciado pela manhã, o debate durou cinco horas, no Teatro. Junqueira Ribeiro integra grupo que revisa a Deliberação Normativa 74/04, que regulamenta o licenciamento ambiental em Minas.

Solicitada pelos deputados Sávio Souza Cruz (PMDB), presidente da Comissão de Meio Ambiente; Antônio Carlos Arantes (PSC), Domingos Sávio (PSDB) e Fábio Avelar (PSC), a reunião que discutiu a atual sistemática do licenciamento foi uma prévia de ciclo de debates que será promovido pela ALMG, em 2008, sobre o tema. A reunião foi dividida em dois momentos. Inicialmente falou o secretário de Meio Ambiente, José Carlos Carvalho, que listou diversas ações da secretaria. Depois que ele se retirou, por conta de compromissos já agendados, coube à sua equipe ouvir as contundentes queixas de deputados e de produtores rurais, que reclamaram da demora e da burocracia no licenciamento, dos excessos cometidos pela Polícia Florestal e do elevado valor das multas aplicadas. Eles criticaram o Decreto 44.309, de 2006, que estabelece normas para licenciamento e orienta a fiscalização, e que já motivou audiências na Assembléia este ano.

De acordo com José Cláudio Junqueira Ribeiro, a possibilidade de adotar a dispensa do licenciamento para os pequenos produtores não os eximirá de cumprir as normas ambientais e de se sujeitarem à fiscalização. Na avaliação dele, a burocracia do processo de licenciamento é, de fato, complexa, pois foi desenhada para grandes empreendimentos. A proposta divulgada pela Feam está sendo analisada por José Carlos Carvalho e pela Secretaria de Estado da Agricultura. Segundo Ribeiro, a decisão também passará pelo Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam).

Polícia e TAC - Além dessa notícia, a equipe da Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) sinalizou com outra mudança. O vice-diretor do Instituto Estadual de Florestas (IEF), Geraldo Falce da Silva, informou que o instituto e a Polícia Florestal intensificarão a parceria em 2008 e que está sendo discutida a proposta de recomendar que os policiais não multem o pequeno produtor num primeiro momento, mas o notifiquem para que regularize sua situação. Coube a José Cláudio Junqueira Ribeiro responder a denúncia de que termos de ajustamento de conduta (TACs) conduzidos pelo Ministério Público estariam sendo usados de maneira ilegal, convertidos em doação de carros e computador para os órgãos ambientais. Ele se comprometeu a levar ao governo a sugestão de que todos os bens sejam devolvidos.

Tribuna de produtor - Vários foram os produtores rurais que usaram a palavra, na fase de debates, para relatar suas dificuldades. Entre eles, o presidente do Sindicato dos Produtores de Luz, Luiz Garcia, que se queixou do alto valor das taxas de licenciamento; e o secretário de Agricultura de Passos, José Luiz Ribeiro, que afirmou ser a pressão psicológica "violenta" e a ação da polícia, preocupante. "Passamos a ser considerados criminosos de um dia para o outro", lamentou Ribeiro.

Secretário responde críticas sobre demora e burocracia

Ao repercutir críticas feitas em debates anteriores sobre a demora do licenciamento, o secretário José Carlos Carvalho reconheceu ser preciso melhorar, mas disse que Minas seria o estado com menor tempo para concessão da licença. Sobre as queixas de solicitações excessivas, pelo governo, de informações complementares, o secretário ponderou que é preciso fixar termos de referência para o licenciamento das principais atividades econômicas. "O roteiro hoje não está claramente estabelecido", alegou. Ainda sobre a demora, Carvalho reconheceu que há dificuldades operacionais e que faltam técnicos para efetuar o trabalho, mas que também existem outras fontes de atraso, como os problemas de qualidade dos estudos dos empreendedores.

Além dessa fonte de atraso, haveria outra, na avaliação do secretário: uma "agenda oculta". "O que muito empreendedor não quer é pagar o custo ambiental do seu empreendimento. Muitos acham que a licença ambiental é para poluir", afirmou, dizendo ser esta a situação do Brasil. O secretário enfatizou que não apoiará qualquer ação que signifique "terrorismo fiscalizador", mas disse também que não vai tolerar inadimplência ou impunidade. "Esse é o caminho do equilíbrio", apontou.

Deputados consideram reunião produtiva, mas reforçam críticas do campo

A reunião evidenciou a série de críticas que deputados e produtores, em especial os pequenos, têm ao processo de licenciamento em Minas. Fábio Avelar e Domingos Sávio avaliaram que a mobilização foi, por outro lado, muito importante e que ela precisa se repetir no ciclo de debates, em 2008. Eles destacaram a atuação da Assembléia em intermediar uma solução para o problema, em especial sua contribuição com sugestões para alterar o Decreto 44.309. Domingos Sávio reivindicou que a alteração ocorra ainda este ano e também pediu tratamento diferenciado para os pequenos produtores, inclusive quando o assunto for outorga de água e autorização para supressão vegetal.

Sobre o Decreto 44.309, o responsável pela fiscalização ambiental integrada no Estado, Paulo Teodoro de Carvalho, informou que a proposta de um novo decreto, com mudanças no valor das multas, está hoje na Advocacia-Geral do Estado. Carvalho se disse preocupado, no entanto, com a expectativa criada em torno do novo texto.

O deputado Antônio Carlos Arantes avaliou como positiva a audiência, mas enfatizou que é preciso avançar mais. Ele reforçou as críticas dos produtores quanto ao que classificou de terrorismo da fiscalização, principalmente no Sul de Minas. "É necessário um trabalho urgente para rever a atuação da Polícia Florestal, pois é multa em cima de multa", desabafou Arantes, que lembrou estarem os produtores rurais "descapitalizados e desinformados". Ele cobrou como ação de governo efetividade na comunicação com o segmento e recebeu do secretário adjunto, Shelley Carneiro, o compromisso de que isso ocorrerá.

Já o deputado Deiró Marra (PR) foi enfático na cobrança não do aperfeiçoamento, mas da revisão de todo o processo; e o deputado Carlos Pimenta (PDT) fez duras críticas às deliberações normativas e aos decretos governamentais - que, segundo ele, têm extrapolado e surgido "da noite para o dia". Na opinião de Antônio Júlio, Legislativo e sociedade precisam se mobilizar mais. "Temos que cancelar decretos e portarias", disse ele, também um forte crítico do Decreto 44.309. Para o deputado Elmiro Nascimento (DEM), presidente da Comissão de Administração Pública, que conduziu a reunião durante quase todo o tempo, são fundamentais as audiências promovidas pela ALMG para aperfeiçoar a legislação.

Contraponto - O deputado Sávio Souza Cruz foi um dos que chamaram atenção para o fato de que o licenciamento ambiental não deve ser encarado como mais uma instância burocrática, mas sim uma instância de decisão. Ele frisou que o licenciamento é um enorme avanço, mas precisa ser compreendido pela sociedade e ser, sobretudo, razoável.

Amda e sindicato das indústrias do ferro também participam

Também participaram da reunião representantes dos ambientalistas e de outro segmento produtivo, as indústrias do ferro. A superintendente da Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda), Maria Dalce Ricas, repercutiu as falas de governo, encaminhando várias críticas. Segundo ela, o Copam não se reúne "há um ano" e essa instância decisória sofre com intervenções políticas e personalismo. "O licenciamento está virando apenas um carimbo", opinou, sobre as decisões do conselho, que reúne representantes do governo, sociedade e setor produtivo. Ela considera que falta transparência às ações de governo e que os órgãos continuam desintegrados. Dalce cobrou que o ciclo de debates de 2008 não fique focado apenas nas reivindicações do setor produtivo. "Não vejo força, vigor e insistência na efetividade das políticas ambientais", avaliou.

O presidente do Sindicato da Indústria do Ferro do Estado de Minas Gerais (Sindifer), Paulino Cícero, reivindicou que o segmento seja ouvido na elaboração de decretos e antes do envio de projetos à Assembléia. Ele disse que o setor quer construir, com o governo, um projeto de sustentabilidade florestal.

Ações de governo - Entre as várias ações listadas pelo secretário José Carlos Carvalho para aperfeiçoar o sistema de meio ambiente em Minas, destacam-se: unificação da base de dados; articulação entre os diversos órgãos; licenciamento integrado; descentralização dos Copams; e concurso público para admitir centenas de técnicos. Ele também anunciou que, no próximo dia 20, o governo lançará o zoneamento ecológico e econômico de todo o território mineiro, disponível inclusive na internet. Na avaliação dele, o zoneamento é um instrumento importante para avaliar as restrições de natureza espacial dos empreendimentos. Uma das propostas em estudo no processo de revisão da DN 74/04 é incluir uma nova variável na classificação dos empreendimentos: a de localização, além do porte e do potencial poluidor.

Embate político - Durante a reunião, o deputado Sávio Souza Cruz fez várias críticas ao Executivo e ao governador Aécio Neves. Na opinião dele, existem dois governos: um real, que foi evidenciado na reunião desta quinta; e um governo da mídia. "Está tudo dominado", ilustrou, referindo-se à falta de posicionamento da imprensa, da opinião pública, do Ministério Público e dos Poderes Legislativo e Judiciário. De acordo com Souza Cruz, os últimos quatro governadores tiveram 40 leis delegadas; o atual já coleciona mais de 130. O deputado Domingos Sávio rebateu as críticas, enfatizando a liderança do governador e a liberdade de expressão. Para o líder da Maioria, a reunião desta quinta é exemplo disso, pois os deputados da base governista, como ele próprio, usaram a palavra para fazer críticas e cobrar o aperfeiçoamento das normas de licenciamento ambiental.

Presenças - Além dos convidados citados, participou da reunião a diretora-geral do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), Cleide Izabel Pedrosa de Melo. A reunião foi presidida pelos deputados Elmiro Nascimento (DEM) e Sávio Souza Cruz (PMDB), e contou com a participação de Chico Uejo (PSB), Domingos Sávio (PSDB), Inácio Franco (PV), Antônio Carlos Arantes (PSC), Deiró Marra (PR), Getúlio Neiva (PMDB), Paulo Guedes (PT), Carlos Pimenta (PDT), Antônio Júio (PMDB) e Fábio Avelar (PSC).

 

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