Segurança particular clandestina é debatida na
ALMG
A denúncia de agressão a um jovem de 15 anos
durante festa em Belo Horizonte, no mês de setembro, motivou longo
debate da Comissão de Segurança Pública da Assembléia Legislativa de
Minas Gerais sobre as irregularidades cometidas por empresas
privadas de segurança que atuam clandestinamente no Estado. A
audiência pública, solicitada pelo presidente da comissão, deputado
Sargento Rodrigues (PDT), aconteceu na manhã desta quinta-feira
(13/12/07), e recebeu representantes do Ministério Público e Polícia
Civil, além da mãe do adolescente e dos organizadores da festa onde
estariam trabalhando os supostos seguranças agressores.
Segundo a mãe do adolescente L.H., Kesiah Soares
Cunha Horta, seu filho não estava presente à festa e teria sido
agredido por conhecer outros jovens que estariam sendo espancados
nas proximidades do evento. Em seu depoimento, ela conta que L.H.
teria presenciado a agressão de amigos que, ao pedirem sua ajuda,
teriam feito com que os supostos seguranças o envolvessem no
espancamento. "Ele interveio em favor dos conhecidos e foi
massacrado com socos e chutes do rosto, que o deixaram desfigurado",
disse. De acordo com ela, ele teria ainda sido colocado no
porta-malas do carro dos suspeitos, antes de ser deixado em um lote
vago na região. "Nada justifica o que fizeram. Mesmo que meu filho
estivesse errado, não deveriam ter feito o que fizeram",
indignou-se. "Sou enfermeira há 20 anos e nunca vi uma pessoa tão
machucada como ele estava", completou. Para ela, os organizadores
estão com medo e, por isso, estariam acobertando a identidade dos
agressores, que seriam ligados à empresa "Chacal", de propriedade de
um ex-policial militar.
O deputado Sargento Rodrigues, que apresentou
fotografias que comprovam as agressões sofridas pelo jovem,
considerou o episódio "um ato de selvageria cometido por pessoas
inaptas a conviver em sociedade". Para ele, quando comprovados os
autores da agressão, é preciso que o poder público imponha punição
proporcional ao ato. "Temos que punir e fiscalizar mais as empresas
de vigilância clandestina, que são muitas no Estado",
salientou.
Organizadores se defendem de
co-responsabilidade
Os responsáveis pela organização da festa, que
aconteceu no Chalé Pampulha, no dia 16 de setembro deste ano, João
Carlos Silveira e Peterson Salum, eximiram-se de culpa na agressão
de L.H. Eles confirmaram a briga nas imediações do evento, mas
disseram que tentaram intervir para que as agressões terminassem e
acionaram as autoridades competentes. "Fui avisado da briga,
presenciei o espancamento de três adolescentes, mas, ao tentar
apartar, os agressores fugiram com os jovem em dois carros para um
local que desconheço. Não posso dizer que L.H. era um desses
jovens," afirmou Silveira. Segundo ele, a justificativa dos
suspeitos para o espancamento seria o fato dos jovens terem cometido
roubo de carros de participantes da festa. Em seu depoimento, Salum
disse que interessa também a eles que o crime seja esclarecido.
"Estamos solidários à família e ao jovem desde o início, e não
queremos pagar algo que não fizemos", destacou. Perguntados pelo
deputado Sargento Rodrigues sobre a empresa de segurança "Chacal",
ambos disseram desconhecer o verdadeiro nome do proprietário e
afirmaram ter pagado os profissionais sem exigência de recibo ou
contrato de prestação de serviços.
Inquérito - O coordenador
do Centro de Apoio Criminal do Ministério Público, Joaquim José
Miranda Júnior, lembrou que os organizadores deverão apresentar à
Polícia Civil todos os dados referentes à empresa de segurança,
assim como sobre os participantes da festa, para que não sejam
julgados pelo crime cometido contra o jovem e a terceiros. Segundo
ele, a irregularidade de contratar uma empresa clandestina também é
crime, e a constatação da lesão corporal grave e do latrocínio
também pesarão sobre eles. "O Ministério Público afirma
categoricamente que os organizadores são responsáveis e, se
comprovado, pagarão exemplarmente pelo crime cometido à essa
família", garantiu.
A delegada da Polícia Civil responsável pelo caso,
Andréa Cunha, disse que o inquérito está tramitando, que há empenho
para que o caso seja resolvido o mais rápido possível, mas a falta
de informações tem dificultado o andamento das investigações. "Temos
mais de 200 pessoas para intimar e alguns suspeitos não estão sendo
encontrados", contou.
Agressão psicológica - O deputado Leonardo
Moreira (DEM) também considera os organizadores co-responsáveis pelo
crime, mas disse que não há lei ou punição que pague os danos
psicológicos causados à família e ao adolescente agredido. "Apelo às
autoridades para que sejam implacáveis com os organizadores de
festas que não se encontram preparados para eventos deste porte,
assim como com as empresas de segurança privada clandestinas",
pediu. O deputado Sargento Rodrigues fez coro às palavras do colega
e disse que a solução desse caso servirá como uma punição educativa
para o que vem acontecendo em todo o Estado, especialmente em
relação às chamadas festas rave. "Jovens estão morrendo e se drogando
indiscriminadamente em festas dessa natureza. Esse episódio será
referência para que promotores de evento e seguranças particulares
se regularizem caso não queiram sofrer as penalidades da lei",
concluiu.
Presenças - Deputados
Sargento Rodrigues (PDT), presidente; Paulo Cesar (PDT), vice; Délio
Malheiros (PV); Leonardo Moreira (DEM); Jayro Lessa (DEM); Weliton
Prado (PT); e Padre João (PT).
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