Projeto sobre resíduos sólidos é debatido em
reunião
O Projeto de Lei 1.269/07, que institui a Política
Estadual de Resíduos Sólidos, foi discutido por especialistas e
autoridades em audiência pública da Comissão de Meio Ambiente e
Recursos Naturais, na manhã desta quarta-feira (12/12/07). O
requerimento foi do deputado Wander Borges (PSB) e o relator,
deputado Sávio Souza Cruz (PMDB), colheu subsídios para o seu
relatório.
O projeto visa a classificar resíduos, atribuir
responsabilidades e determinar a adequada destinação para o lixo. É
de autoria do governador e mostra alto nível de detalhamento, já que
tem 66 artigos - o dobro do projeto de lei federal, o 1.991, que tem
33. O projeto foi defendido por José Cláudio Junqueira, presidente
da Feam, como instrumento para que o Governo de Minas atinja a meta
ambiental de eliminar 80% dos lixões até 2011 e dispor adequadamente
60% do lixo urbano.
As principais objeções dos especialistas visam
algumas emendas que descaracterizariam parte do projeto original.
Junqueira alertou contra a emenda 6, que pretende suprimir os
artigos 12 e 13 que ele considera fundamentais. O 12 incentiva a
criação de consórcios municipais para dar solução regional ao
problema dos resíduos. O 13 estabelece que os serviços serão
remunerados.
O presidente da Feam também se preocupa com a
emenda 7 que retira do artigo 63 a exigência de autorização do órgão
ambiental para transporte de resíduos perigosos dentro do Estado,
substituindo-a por simples comunicação ao Copam. "Minas Gerais não
deve ter vocação para ser depósito e guarda de resíduos perigosos,
em que assumimos os riscos sem agregar valor", disse ele.
O deputado Sávio Souza Cruz explicou que as
emendas, da Comissão de Constituição e Justiça, foram apresentadas
para evitar conflitos de competência com os demais entes federados e
questionamentos jurídicos que poderiam pôr o projeto a perder.
Lixo hospitalar não polui mais que o
doméstico
Junqueira acrescentou uma nova informação: estudos
recentes sobre patogenicidade demonstram que a disposição dos
resíduos dos serviços de saúde não contaminam mais o meio ambiente
que o lixo doméstico. Maeli Estrela, da Associação Brasileira de
Engenharia Sanitária, revelou que até recentemente, a Fundação
Ezequiel Dias tinha que enviar seus resíduos para disposição fora do
Estado, e a Motorola, que recolhe pilhas e baterias, envia para fora
do país.
A tendência atual dos países desenvolvidos, segundo
os especialistas, é de evitar os aterros sanitários, que são
passivos ambientais que estão sendo criados para as gerações
futuras. Os europeus reciclam tudo o que é possível reciclar e não
enterram mais resíduos orgânicos, que são enviados para produzir
energia em biodigestores. No Brasil, por enquanto, os aterros
sanitários são o que há de mais moderno.
O gerente de Meio Ambiente da Fiemg, Wagner Soares
Costa, disse que a lei não pode engessar a possibilidade de uma
evolução tecnológica que pode surgir num futuro próximo, e criticou
que o produto reciclado pague impostos como se fosse original, sem
qualquer incentivo. Disse também que o processamento de resíduos
hoje é um negócio ambiental, e que o trânsito de resíduos perigosos
em Minas não deve ser restringido, mas cercado de cuidados para que
aconteça de forma segura. Soares Costa disse também que a Fiemg tem
uma Bolsa de Reciclagem para negociar resíduos.
Disparidade de renda desequilibra sistema
federativo
Wander Borges disse que o Brasil produz 100 mil
toneladas por dia de lixo, e que apenas 5% são reciclados. Disse
ainda que, apesar da legislação, 75% do lixo ainda são despejados em
lixões, penalizando principalmente as cidades de pequeno porte, que
estão em difícil situação financeira. Para exemplificar a
disparidade de arrecadação dos municípios, ele comparou Ribeirão das
Neves, que tem 300 mil habitantes e orçamento de apenas R$ 140
milhões, com Macaé (RJ), que tem 150 mil habitantes e arrecada R$
500 milhões. "Se os prefeitos tivessem recursos, poderiam resolver
facilmente os problemas, sem ficar de pires na mão", desabafou
Borges.
Sávio Souza Cruz também criticou a estrutura
tributária fortemente concentradora de recursos na União e disse que
o cidadão mineiro de Betim vale 40 vezes o de Esmeraldas, e o de
Belo Oriente vale 50 vezes o de Ribeirão das Neves. A deputada Elisa
Costa disse que essa questão não é prioritária, já que a União tem
linhas de crédito à disposição dos municípios. José Cláudio
Junqueira contra-argumentou que há 26 municípios mineiros com
excelentes projetos de aterro sanitário e não conseguem acesso ao
dinheiro federal. Elisa comprometeu-se a encontrar caminhos para
ajudá-los.
O vice-presidente da Comissão, Fábio Avelar (PSC),
elogiou a equipe que elaborou o projeto e o discutiu exaustivamente
em todo o Estado, e sugeriu estudar uma alternativa para o artigo
63, que considera muito restritivo, e evitar a penalização das
prefeituras que já enfrentam problemas financeiros muito grandes
para solucionar problemas ambientais. Os deputados Almir Paraca e
Elisa Costa, ambos do PT, destacaram o papel prioritário que os
catadores de material reciclagem desempenham como agentes
ambientais. Elisa inclusive citou uma iniciativa pioneira, apoiada
pelo Governo Federal, de criação da chamada Rede Solidária Leste,
que envolve recicladores de 11 cidades
Requerimentos: Foram aprovados dois
requerimentos. O primeiro de autoria coletiva dos deputados Sávio
Souza Cruz, Fábio Avelar, Padre João (PT), José Henrique (PMDB) e
Lafayette de Andrada, pede inclusão no PPAG e na Lei Orçamentária de
recursos para a preservação das nascentes do Rio Piranga. O segundo
é da deputada Gláucia Brandão (PPS), que solicita audiência pública
para debater o Atlas Digital das Águas de Minas.
Presenças - Deputados
Sávio Souza Cruz (PMDB), presidente; Fábio Avelar (PSC),
vice-presidente; Almir Paraca (PT), Inácio Franco (PV), Wander
Borges (PSB) e a deputada Elisa Costa (PT). Além dos citados,
participaram também José Geraldo Leal de Castro, superintendente da
Vigilância Sanitária; Carlos Maurício Gonçalves, da Copasa; Ana
Carolina Saraiva, da Superintendência de Limpeza Urbana (SLU).
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