Especialistas apontam avanços e retrocessos nos direitos humanos

A conjuntura atual e os desafios em defesa dos Direitos Humanos foram temas da primeira mesa de trabalho do Debate Pú...

10/12/2007 - 00:02
 

Especialistas apontam avanços e retrocessos nos direitos humanos

A conjuntura atual e os desafios em defesa dos Direitos Humanos foram temas da primeira mesa de trabalho do Debate Público 59 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, promovido pela Assembléia Legislativa de Minas Gerais e pela Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social (Sedese), na manhã desta segunda-feira (10/12/07). Autoridades e especialistas lembraram que, apesar dos avanços nas políticas e na atuação do Estado, o maior desafio é colocar em prática políticas públicas de inclusão social para fazer valer os direitos humanos.

Entre os pontos abordados pelos palestrantes, está a situação do sistema carcerário. O promotor de Justiça do Ministério Público de Minas Gerais, Rodrigo Filgueira de Oliveira, destacou que o quadro atual apresenta avanços e retrocessos. "Apesar de "Minas Gerais ter avançado visivelmente nesta questão, nós não podemos esquecer o episódio de Ponte Nova", disse ao destacar que o fato serviu para mostrar que "o déficit histórico é muito grande". "Corremos o risco de novas 'Ponte Novas' acontecerem", afirmou o promotor. Ele salientou que o grande desafio é solucionar a situação caótica de algumas unidades prisionais do Estado.

O subsecretário de Estado de Administração Prisional, Genilson Zeferino, também apresentou um panorama do setor e afirmou que seu maior desafio é instituir uma política prisional, que não se resuma apenas à construção de unidades prisionais, mas "em uma cadeia melhor ou mesmo em um mundo sem cadeia, porque vemos que neste modelo ela não resolve". De acordo com o subsecretário, Minas Gerais tem 21.600 presos a cargo de sua administração e 16 mil ainda com a coordenação da Polícia Civil. "Estamos trabalhando para liberar a polícia da guarda de presos, ficando todos sob responsabilidade do Estado", afirmou.

Para tal, o Genilson Zeferino lembra que este trabalho demanda investimento e metodologia, além da capacitação do profissional que cuida dos detentos. "Temos hoje 7 mil homens, que estão sem treinamento para exercer a função de agende penitenciário", explicou. Mesmo diante dos problemas, ele salientou que as perspectivas são positivas no sentindo de estabelecer um política pública para o sistema prisional, principalmente enfocando a ressocialização do preso. "O investimento é alto e necessário para minimizarmos de sobremaneira este problema", alertou.

Avanços e retrocessos - Outra conjuntura atual foi apontada pelo promotor Rodrigo Filgueira de Oliveira. Ele ponderou que houve um retrocesso na ouvidoria da Polícia Civil de Minas Gerais, já que a escolha do titular é feita por critérios políticos e não técnicos, quando era de responsabilidade do Conselho Estadual de Direitos Humanos. "Me parece temerário que a escolha do ouvidor venha da própria Polícia Civil. Essa decisão deveria ser reavaliada", afirmou. Entre os avanços, o promotor destacou o colegiado de corregedorias, que discute questões afetas à atuação do sistema de defesa social; e o programa de proteção à vítima e testemunha, que "tem funcionado e é fundamental". Rodrigo Filgueira Oliveira defendeu ainda a mudança de conceitos e paradigmas, e neste sentido, o plano nacional de educação dos Direitos Humanos é essencial. Genilson Zeferino lembrou ainda que as organizações e instituições avançaram.

As críticas em relação à indicação do ouvidor foram rebatidas pelo ouvidor de Polícia de Minas Gerais, Paulo Vaz Alckmin, que lembrou a indicação faz parte de uma política de governo. Disse ainda que a Ouvidoria de Polícia é um órgão novo no País e que em Minas Gerais, segundo pesquisa realizada em 2004, apenas 12% da população conhece a instituição. Segundo Paulo Vaz Alckmin, cerca de 120 denúncias são recebidas por mês na Ouvidoria e que o trabalho de parceria com outras instituições é essencial.

Especialistas defendem mudanças nas políticas públicas

A revisão das políticas públicas de direitos humanos foi defendida pelo coordenador do Observatório de Direitos Humanos da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social (Sedese), Túlio Picinini Teixeira. Ele salientou que, inicialmente, os direitos humanos eram tratados com voluntariarismo, assistencialismo e até mesmo com um certo caráter caritativo. "Só recentemente é que essas políticas foram reconhecidas como direitos, que são construídos e efetivados pelo Estado, e que o cidadão pode e deve exigi-los", afirmou Túlio Picinini Teixeira. "É nesta mudança que vejo a possibilidade de grandes avanços. É o momento de participação da sociedade civil, que vai qualificar a ação do Estado", completou.

Para o defensor público estadual, Gustavo Corgozinho Oliveira, a profunda e persistente desigualdade social está ocasionando a perda da legitimidade do Estado Democrático de Direito. "A concentração de renda e a exclusão social e econômica têm criado dificuldades para colocar em prática as políticas públicas de direitos humanos. Esta situação, segundo Gustavo Corgozinho de Oliveira, cria fenômenos sociais, como aquele de condenar e demonizar quem questiona e luta contra a desigualdade social; de criação de penas mais severas, sem considerar a reinserção social; e a sensação de impunidade. "O grande desafio é retirar as instituições dos gabinetes e aproximá-las do cidadão carente", afirmou o defensor público estadual.

A aproximação da sociedade também foi defendida pelo tenente coronel da Polícia Militar, Robson Alves Campos Ferreira. Ele afirmou que, em função da capilaridade da ação da corporação, presente em todos os municípios do Estado, a PMMG acaba sendo a representante do Estado em muitas cidades. "Daí também a necessidade de treinar os policiais para atuarem em total respeito aos direitos humanos", completou.

O tenente citou também várias atividades e espaços voltados para a construção da cidadania desenvolvidas pela PM, como o Programa Educacional de Resistência às Drogas, a Corregedoria e os Conselhos Comunitários de Segurança Pública. "Esses são espaços onde a PM se coloca à disposição da população, sobretudo das que não têm acesso à justiça", explicou. Além disso, segundo ele, vários policiais já foram formados para serem multiplicadores de informações sobre o respeito aos direitos humanos. Segundo Robson Alves Campos Ferreira, a instituição dá muita importância para a adequada aplicação dos direitos humanos. "As diretrizes estão postas. A Declaração precisa ser cumprida e as soluções para os problemas buscadas conjuntamente", concluiu.

A importância da observância dos direitos humanos também foi defendida pelo chefe da Polícia Civil no Estado, Marco Antônio Monteiro de Castro. Ele informou que os direitos humanos são disciplina da Academia de Polícia há vários anos. "A Polícia Civil liga a rua ao tribunal", afirmou o chefe de Polícia ao afirmar que a corporação tem caráter híbrido, pertencendo à estrutura do Executivo e prestando auxílio às investigações judiciais.

Voltando a questão prisional, Marco Antônio Monteiro de Castro informou que, há 199 anos fazem a guarda de presos e que, pela primeira vez na história, o sistema prisional absorveu mais presos que aqueles que estão sob a responsabilidade da Polícia Civil. Mas ponderou que, em valores absolutos, esse número ainda é bem alto. Ele ressaltou, ainda, que a colaboração da comunidade é essencial na defesa dos direitos humanos.

Fumec - Durante o debate, o professor da Fumec, Getúlio Neuremberg, denunciou possíveis arbitrariedades da universidade na demissão de professores.

Também foi entregue o Livro Negro da Ditadura do Brasil ao subsecretário de Direitos Humanos, João Batista de Oliveira.

 

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