Moradores do Santa Lúcia protestam contra Parque Ecológico

Uma audiência pública da Comissão de Participação Popular para debater as alternativas de titulação das moradias do A...

06/12/2007 - 00:00
 

Moradores do Santa Lúcia protestam contra Parque Ecológico

Uma audiência pública da Comissão de Participação Popular para debater as alternativas de titulação das moradias do Aglomerado Santa Lúcia, realizada, nesta quinta-feira (06/12/07), numa escola daquela favela, trouxe à tona um sentimento de revolta daqueles moradores, devido à anunciada remoção de 18 famílias que ocupam desde a década de 1920 uma área onde a Prefeitura de Belo Horizonte pretende instalar um Parque Ecológico.

A área teria cerca de 8 hectares, com nascentes, e teria sido aprovada numa assembléia do Orçamento Participativo sem a presença dos favelados, mas apenas dos moradores dos bairros nobres ao redor. "Os mais velhos estão adoecendo com a notícia de que serão expulsos do lugar onde nasceram", denunciou Giselle Ferreira Santos.

A informação de que seria um parque murado para acesso aos ricos desagradou ao deputado André Quintão (PT), que defendia na audiência as práticas democráticas implantadas na Prefeitura da Capital a partir de 1993, na gestão do prefeito Patrus Ananias. "O muro do México ainda existe, mas até o Muro de Berlim já foi derrubado", comparou o deputado.

A audiência foi realizada a requerimento do deputado Eros Biondini (PHS), que discursou a favor da elaboração de políticas consistentes de habitação urbana e da regularização dos parcelamentos como parte fundamental do processo de cidadania. "Sem título, não há garantia. Na união está a verdadeira força da comunidade", disse Biondini.

A exposição da representante da Urbel, Maria Lúcia Veloso Silveira, pintou um quadro de desalento quanto às amarras legais para desfechar um rápido e eficiente processo de regularização fundiária no local. Ela disse que a legislação não permite regularizar áreas de risco, áreas inundáveis, com declividade superior a 40% e as faixas de domínio da Cemig. Ou seja, praticamente toda a favela onde vivem oficialmente 22.603 pessoas, e extra-oficialmente 35 mil. Além disso, 72% das terras seriam pertencentes ao Estado e 28% terras particulares. "A Prefeitura só pode titular terras que lhe pertençam, ou com a concordância do proprietário", explicou.

Noventa anos de espera

O líder comunitário Marcos Guimarães disse que a titulação trará não apenas cidadania, mas segurança, bem-estar, educação e respeito, valores que os moradores do Santa Lúcia reivindicam. "Hoje não podemos sequer assinar um jornal, porque não entregam em nosso CEP. A legislação não nos favorece. Alguns nasceram e moram aqui há 90 anos. Será que teremos que esperar mais 90 anos para que essa situação se defina?".

O líder estudantil Juvenal Lima Gomes revelou que há de 180 a 200 universitários morando no Santa Lúcia, sem acesso a internet banda-larga, nem assinaturas de jornais e revistas, e sem TV a cabo. "A TV nossa é cat-net, ou seja, TV a gato", ironizou. Gomes protestou também contra a desocupação arbitrária que não conta o valor histórico da ocupação, disse que só beneficia a Cidade Jardim e que os favelados nunca tiveram acesso aos planos desse parque ecológico.

Aloysio Guedes Barra, da Regional Centro-Sul da Prefeitura, disse que estão sendo removidas 37 famílias das áreas de risco na orla da Avenida Nossa Senhora do Carmo, também numa ação do Orçamento Participativo. "Elas receberão indenização ou moradia nova nos prédios que estamos construindo no alto da Vila Estrela, final da rua Engenheiro Zoroastro Torres", informou.

O deputado Carlin Moura (PCdoB) voltou ao tema do endereço e criticou que, se as assinaturas de jornais não chegam, as contas chegam pontualmente, de água e de luz, com o ICMS mais caro do país. Segundo ele, a Assembléia está examinando isenções fiscais para gasolina de avião, indústrias de jóias, mas ninguém fala em baixar o ICMS para os pobres. "Os privilégios vêm à jato, as mudanças para os pobres vêm de carroça", disse ele, conclamando os moradores a levantar a voz, clamar por seus direitos e exigir respeito.

Presenças: Deputados André Quintão (PT), presidente; Eros Biondini (PHS), vice-presidente, e Carlin Moura (PCdoB)

 

 

 

 

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