Congresso Nacional irá receber projeto de lei sobre parto anônimo

Um projeto de lei prevendo a prática do parto anônimo, em que a mãe não é identificada e a criança é encaminhada para...

05/12/2007 - 00:02
 

Congresso Nacional irá receber projeto de lei sobre parto anônimo

Um projeto de lei prevendo a prática do parto anônimo, em que a mãe não é identificada e a criança é encaminhada para adoção, deverá ser enviado ao Congresso Nacional. A informação foi trazida pelo presidente do Instituto Brasileiro de Direito da Família (IBDFAM), Rodrigo da Cunha Pereira, que participou de audiência pública da Comissão de Saúde da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, nesta quarta-feira (5/12/07). A reunião contou com a presença de representantes dos Poderes Judiciário e Executivo, da sociedade civil organizada e da população, que apresentaram argumentos favoráveis e contrários ao parto anônimo.

Rodrigo Pereira lembrou que o parto anônimo já era praticado na Idade Média, através da roda dos expostos. Segundo ele, alguns países desenvolvidos, como Alemanha, Japão e França, estão reeditando essa prática e aprovando legislação que garanta o anonimato das mães que querem entregar seus filhos para a adoção. O autor do requerimento para realização da audiência pública e 1°-secretário da ALMG, deputado Dinis Pinheiro (PSDB), destacou que foi constatada, após a implantação do parto anônimo nesses países, uma diminuição no número de abortos e de infanticídios.

Para Rodrigo Pereira, atualmente o abandono de crianças no Brasil está ligado principalmente a questões socioeconômicas. Entretanto, ele destacou que a regularização do parto anônimo não vai acabar com o problema. Para o presidente do IBDFAM, a prática vai evitar os casos de abandono trágico, ou seja, o abandono em que algumas vezes a criança é deixada no lixo ou em córregos e acaba falecendo. "Se já tivesse sido aprovada uma lei garantindo a preservação da identidade das mães, essas crianças provavelmente estariam vivas e sendo criadas por uma família", afirmou.

Posição semelhante foi defendida pelo juiz da 6ª Vara da Família de Belo Horizonte, Pedro Aleixo Neto. Para ele, a instituição do parto anônimo poderá evitar que as mulheres angustiadas com uma gravidez indesejada cometam o aborto, ou, até mesmo, o infanticídio. Entretanto, ele defendeu que o parto anônimo seja acompanhado por um rápido processo de adoção da criança por uma família. "O parto anônimo deve ser acompanhado por uma reintegração da criança em uma nova família", considerou.

Acompanhamento das gestantes - O superintendente de Atenção à Saúde da Secretaria de Estado de Saúde, Marcos Antônio Bragança de Matos, afirmou que a atuação do Estado está concentrada no acompanhamento da saúde das gestantes e dos recém-nascidos. Segundo ele, existem hoje os programas Viva Vida e Saúde em Casa, em que equipes visitam as mulheres e fazem esse acompanhamento.

"Através desses programas, o Estado está interferindo na situação e ajudando a evitar que novos casos de abandonam aconteçam", afirmou. Marcos de Matos ainda disse que a grande preocupação da Secretaria de Saúde não é só com a implantação dos programas em todo o Estado, mas também com a qualidade do serviço prestado pelas equipes de atendimento.

Especialista defende melhoria do pré-natal como solução

Para o diretor de assistência ao Sistema Único de Saúde (SUS) da Santa Casa de Belo Horizonte e representante da Federação das Santas Casas de Minas, Paulo Tarcísio Pinheiro da Silva, a solução para o problema do abandono de recém-nascidos não deve ser o parto anônimo, mas sim a realização de um pré-natal de qualidade. "O parto anônimo vai combater apenas o resultado do problema. É preciso combater suas causas, e a melhor maneira seria através do pré-natal", considerou.

Paulo Pinheiro disse que seria importante que o pré-natal examinasse não somente a saúde física da gestante e do feto, mas que também fizesse uma avaliação psicológica das mulheres. Segundo ele, esse pré-natal poderá, então, identificar as mulheres com propensão à depressão pós-parto, por exemplo. Ele também cobrou um debate sobre o papel dos pais. Para o diretor da Santa Casa, quando uma criança é abandonada, a sociedade apenas cobra da mãe e esquece que existe o pai, que também pode ter contribuído para essa situação. Pinheiro afirmou ainda que na Santa Casa de Belo Horizonte já existe uma preocupação em garantir o sigilo quando a mãe manifesta a intenção de entregar a criança para adoção.

A coordenadora estadual da Pastoral da Criança, Conceição Aparecida Vilela, afirmou que ainda não existe uma posição definida na instituição sobre o parto anônimo. Mas, para ela, a criação de leis não é suficiente, sendo mais importante colocar em prática as que já existem, como o Estatuto da Criança e do Adolescente. Conceição Vilela também afirmou que a Pastoral conta com 23 mil voluntários que fazem atendimento domiciliar às famílias. Segundo ela, é feito um trabalho de acompanhamento especial das gestantes, procurando avaliar a sua situação psicológica.

Deputados defendem agilização no processo de adoção

Vários deputados defenderam a agilização do processo de adoção. O deputado Dinis Pinheiro afirmou que é necessário acelerar a adoção para que a criança possa ser, o mais breve o possível, acolhida por uma nova família. O deputado Delvito Alves (DEM) também defendeu posição semelhante. Para ele, é necessário realizar modificações no Estatuto da Criança e do Adolescente com o objetivo de acelerar as adoções, evitando que as crianças e as famílias sejam penalizadas.

Nesse sentido, foi aprovado requerimento do deputado Ruy Muniz (DEM) solicitando a realização de audiência pública conjunta entre as Comissões de Saúde e de Direitos Humanos para discutir as medidas necessárias para acelerar os processos de adoção em Minas Gerais. Ruy Muniz ainda destacou que é importante também verificar se existem lacunas na legislação que trata da adoção.

O presidente da Comissão de Saúde, deputado Carlos Mosconi (PSDB), lembrou que é preciso colocar em prática as leis que são feitas no Brasil. Para ele, a legislação brasileira é muito boa, mas muitas vezes o Poder Público não consegue garantir sua aplicação. "Esses casos de crianças jogadas em rios indicam que o Poder Público falhou em tudo com essas mães", considerou.

Já os deputados Célio Moreira (PSDB) e Eros Biondini (PHS) afirmaram que é necessário defender a vida e condenaram a prática do aborto. O deputado Vanderlei Jangrossi (PP) lembrou que o problema de abandono não acontece somente no Brasil, mas também em países desenvolvidos. Para ele, é importante que os pais eduquem as crianças e adolescentes para evitar a gravidez indesejada. O deputado Antônio Genaro (PSC) afirmou que hoje a televisão dita o padrão moral da sociedade.

Presenças - Deputados Carlos Mosconi (PSDB), presidente da comissão; Ruy Muniz (DEM); Dinis Pinheiro (PSDB); Dalmo Ribeiro Silva (PSDB); Vanderlei Jangrossi (PP); Antônio Genaro (PSC); Eros Biondini (PHS); Célio Moreira (PSDB) e deputada Maria Lúcia Mendonça (DEM). Além dos convidados já citados, compareceram também o representante do Centro de Cronistas Políticos e Parlamentares, Eduardo Ávila; o presidente da Academia Mineira de Medicina e Bioeticista, Evaldo Alves D'Assumpção; e o presidente interino da União Espírita de Minas Gerais, Marival Veloso de Matos.

 

 

 

 

 

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