Contradições marcam debate sobre serviço de saúde no
Barreiro
Duas realidades vividas por uma mesma comunidade.
Essa foi a impressão que ficou para quem participou da reunião
conjunta das Comissões de Saúde e de Direitos Humanos da Assembléia
Legislativa de Minas Gerais, realizada na tarde desta terça-feira
(4/12/07), no Barreiro, em Belo Horizonte. De um lado, moradores,
líderes comunitários e profissionais da área de saúde denunciaram um
completo descaso tanto do governo estadual quanto da Prefeitura com
o serviço prestado na região. De outro, representantes das duas
esferas do Poder Executivo relataram avanços conquistados nos
últimos anos e anunciaram investimentos para melhorar ainda mais o
atendimento aos usuários. A reunião contou com a presença de mais de
200 pessoas, que lotaram o salão paroquial da igreja Cristo
Redentor.
"São duas afirmações e duas constatações
contraditórias, ou a comunicação está muito mal e o povo não está
sentindo o serviço que está sendo prestado", ironizou o presidente
da Comissão de Direitos Humanos, deputado Durval Ângelo (PT), um dos
autores do requerimento pela audiência.
O outro autor do requerimento, deputado Célio
Moreira (PSDB), enumerou as reivindicações apresentadas a ele por
lideranças locais. No Hospital Júlia Kubitschek, o principal da
região que é gerenciado pelo governo estadual, eles pedem reforma do
Centro de Tratamento Intensivo (CTI), ampliação de leitos,
recuperação da unidade de emergência e do setor administrativo,
consertos nos banheiros, aquisição de equipamentos, efetivação de
médicos concursados para preencher a falta de profissionais,
implantação de laboratório e de atendimento em cardiologia e retorno
do estacionamento gratuito para usuários.
Na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da
Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), os moradores querem a
implantação de especialidades médicas em cardiologia, fisioterapia e
ortopedia, além da ampliação e reforma da unidade. "O que se deseja
é traçar soluções para atender as necessidades básicas mais urgentes
da comunidade", justificou Célio Moreira.
Sucateamento - Relatos do
mau atendimento nas duas instituições citadas foram apresentados por
moradores e uma servidora da UPA. A recepcionista da unidade, Maria
Nazaré Anjo dos Santos, desmentiu a gerente do Distrito Sanitário
Barreiro, Maria Ignez Ribeiro Oliveira, que afirmou que a UPA atende
a mais de 800 pessoas por final de semana. Segundo Nazaré, a unidade
tem funcionado aos sábados e domingos com apenas um médico clínico
geral, que não consegue atender a mais de 50 pessoas nos dois dias.
Casos mais urgentes, assegurou a servidora, são encaminhados para o
hospital Júlia Kubitschek.
O padre Dionísio do Carmo Silva, um dos líderes da
região, reclamou que o hospital está completamente sucateado e falta
até material de limpeza para garantir uma higienização adequada. O
lixo hospitalar, por exemplo, segundo o religioso, é despejado ao
lado da Unidade de Terapia Intensiva (UTI). "Para ser atendido, tem
que estar morrendo", afirmou ao falar da falta de profissionais para
atender a demanda.
Outra reclamação apresentada por muitos que se
pronunciaram foi a triagem feita tanto no hospital quanto na UPA por
fichas distribuídas aos usuários. São priorizadas as vermelhas,
entregues para os casos mais graves, e as amarelas; as verdes e
azuis são distribuídas para pacientes considerados com males de
menor risco. No hospital, de acordo com os moradores, a seleção é
feita pelo porteiro.
Representantes do executivo fazem promessas de
melhorias
Embora tenham admitido as deficiências nas
instituições de saúde da região, os representantes do Poder
Executivo anunciaram investimentos para melhorar o serviço prestado.
O presidente da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais
(Fhemig), Luís Márcio Araújo Ramos, afirmou que o governo estadual
já investiu R$ 7 milhões nos últimos três anos no Hospital Júlia
Kubitschek, citando a reforma dos 19 leitos existentes na UTI,
compra de equipamentos médicos e de informática.
Luís Ramos disse, ainda, que o hospital é que
recebe a segunda maior verba do Estado, R$ 40 milhões anuais,
perdendo apenas para o João XXIII. Segundo ele, até o próximo ano, o
hospital receberá novos 30 leitos de CTI neonatal, um investimento
de R$ 3 milhões. Os leitos só não entraram em funcionamento porque o
Estado está em processo de concurso e contratação de 1,2 mil médicos
para fazer o serviço. Afirmou que está prevista, também, a
implantação da Casa da Gestante, para dar apoio e abrigo a mulheres
carentes até o parto e alguns dias depois.
Já Maria Ignez Ribeiro Oliveira, que representou o
executivo municipal, anunciou que o prefeito já autorizou antecipar
as obras dos centros de Saúde dos bairros Mangueiras e Regina.
Também já estão sendo licitadas as construções dos centros de Saúde
da Vila Cemig, Santa Cecília e Vila Pinho, cujos projetos já estão
concluídos.
Ela afirmou que já existe recurso liberado para a
reforma do centro de saúde do Barreiro de Cima e já está
"praticamente concluído" o Centro de Especialidades Médicas, no
bairro Tirol, que vai atender todas as especialidades reivindicadas
pelos moradores e outras não citadas. No momento, a prefeitura está
negociando a contratação de profissionais para inaugurar o
centro.
Deputados querem respostas rápidas
O presidente da Comissão de Saúde, deputado Carlos
Mosconi (PSDB), que coordenou a reunião, lamentou que a situação do
Barreiro é um retrato do que acontece no setor da saúde em todo o
Brasil. "Aqui não é uma exceção. A situação no País é muito
precária. O atendimento é de má qualidade e muito aquém da
necessidade de nossa população". Por isso, o deputado defendeu que o
serviço público se organize para que possa dar uma resposta às
necessidades da população.
O deputado Hely Tarqüínio (PV) lamentou o que
denominou de "diagnóstico de dor" apresentado pelos moradores.
Conclamou a todos que acompanhem as promessas apresentadas para ver
o que será de fato realizado. Aos deputados, sugeriu apresentar
emendas ao Orçamento para assegurar mais verbas para a região.
"Vamos convocar o prefeito e o secretário estadual para cumprir os
compromissos", completou.
Sob o mesmo raciocínio, Durval Ângelo sugeriu que
fosse realizada outra audiência pública, entre fevereiro e março,
para avaliar se o anunciado pelos representantes do Poder Executivo
tinha sido concretizado. "Precisamos de estabelecer prazos. Queremos
saber quando tudo será concluído". Já Célio Moreira propôs a criação
de uma comissão formada por parlamentares e conselhos de saúde para
fazer uma visita-surpresa nas instituições e constatar as reais
condições de cada uma.
Presenças - Deputados
Carlos Mosconi (PSDB), presidente da Comissão de Saúde; Durval
Ângelo (PT), presidente da Comissão de Direitos Humanos; Hely
Tarqüínio (PV) e Célio Moreira (PSDB). Também compuseram a mesa,
além dos citados na matéria, a diretora do Hospital Júlia
Kubitschek, Maria do Socorro; o secretário adjunto de Serviços
Sociais da Secretaria da Administração Regional do Barreiro,
Normando Damasceno Biel; e Airton Carlos da Silva, representante do
secretário Municipal de Saúde de Belo Horizonte, Helvécio Miranda
Magalhães Júnior.
|