Ministério garante continuação de programa de cisternas

O diretor do Departamento de Gestão Integrada da Política do Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome (M...

29/11/2007 - 00:00
 

Ministério garante continuação de programa de cisternas

O diretor do Departamento de Gestão Integrada da Política do Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), César Medeiros, garantiu que o programa de construção de cisternas para armazenamento de água no semi-árido não será interrompido. "Digo isso porque há boatos de que o MDS vai parar de construir cisternas. Não é verdade", afirmou o diretor. Medeiros participou, nesta quarta-feira (28/11/07), de audiência pública promovida pela Comissão de Assuntos Municipais e Regionalização da Assembléia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), com o objetivo de obter informações sobre os programas estadual e federal de construção de cisternas, formação e mobilização social para convivência com o semi-árido. A reunião foi realizada a requerimento dos deputados Padre João e Almir Paraca, ambos do PT.

Apesar de serem todos coordenados pelo MDS, os programas de construção de cisternas são executados em Minas Gerais por meio de diferentes convênios, um deles firmado com a Articulação no Semi-Árido Brasileiro (ASA), um fórum de organizações da sociedade civil dedicado a ações no semi-árido; outro com o Estado, por meio do Instituto de Desenvolvimento do Norte e Nordeste de Minas (Idene); e outros com municípios do semi-árido mineiro. Já no início da reunião, o deputado Almir Paraca afirmou que a intenção era conhecer os procedimentos e resultados das ações desenvolvidas pela ASA e pelo Idene, principalmente tendo em vista as dificuldades deste último órgão em executar sua meta.

As cisternas são construídas no semi-árido junto às residências das famílias mais carentes, priorizando-se aquelas chefiadas por mulheres e as que têm maior número de crianças com até seis anos de idade. Os reservatórios armazenam a água das chuvas, para que ela seja consumida ao longo do período de seca. Com isso, diminuem as doenças causadas por consumo de água de má qualidade, e os moradores deixam de perder tempo buscando água em reservatórios distantes.

Desde 2003, foram construídas quase 9 mil cisternas em Minas

De acordo com a coordenadora da ASA em Minas, Valquíria Alves Lima, a entidade já construiu 8.566 cisternas em 71 municípios mineiros desde 2003, em parceria com a União e 120 organizações parceiras. Em todo o País, foram concluídas 220 mil cisternas em 1.033 municípios, dentro do Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC). "Só não chegamos ainda a 100 municípios do semi-árido", afirmou Valquíria. Os números da ASA são ainda maiores que os do MDS, uma vez que algumas cisternas são construídas sem a participação da União, financiadas pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban) e outros parceiros.

O Idene, representado na reunião pela diretora-geral Rachel Tupynambá de Ulhôa, assinou o convênio com o MDS em 23 de dezembro de 2005, para construção de 4,5 mil cisternas em um ano. Desde então, só conseguiu concluir 210 cisternas. Inicialmente, o órgão optou por contratar uma empreiteira para executar o serviço, o que a própria diretora-geral admitiu que se mostrou contraproducente. A ASA, por exemplo, utiliza sistemas de mutirão e mão-de-obra local. Diante do atraso na implementação do programa estadual, ele foi reformulado pelo Idene, que assinou um termo de parceria com uma organização da sociedade civil de interesse público (Oscip), o Instituto Mineiro de Desenvolvimento da Cidadania (IMDC). A parceria, segundo Rachel Tupynambá, simplifica e agiliza o processo licitatório.

A diretora do Idene garantiu que, atualmente, toda a execução do programa é feita por pessoal próprio da autarquia, e que são observados os mesmos critérios definidos pelo MDS, que incluem um programa de mobilização e educação da população. Ela deve receber orientações sobre higiene e administração de recursos hídricos. O sistema de construção é diferente da ASA, uma vez que as placas que formam as cisternas são pré-fabricadas nas sedes dos municípios e transportadas mais tarde para as moradias atendidas, onde são montadas.

O coordenador estadual do programa, Carlos Amaral, afirmou que a produção das placas nas sedes dos municípios permitem uma padronização da construção, aumentando a qualidade do material. Ele admitiu que o preço da cisterna é mais elevado que o da ASA, mas garantiu que as placas vêm resistindo ao transporte mesmo em estradas precárias, justamente por apresentarem boa qualidade.

Idene pode terceirizar execução após 2008

Em função dos atrasos na execução do programa estadual, o Idene foi obrigado a assinar três termos aditivos ao convênio com o MDS, adiando para o final de 2008 o prazo para construção das 4,5 mil cisternas. A diretora Rachel Tupynambá disse estar certa de que, com a reformulação do programa, será possível cumprir o novo prazo. Após a conclusão dessa meta, no entanto, ela disse defender que o Idene não assuma mais a execução direta da construção das cisternas. O programa, segundo ela, deve ser mantido, mas a execução deve ser repassada a entidades parceiras. "O Idene é uma autarquia. A concepção do programa de cisternas é a convivência com o semi-árido. O Estado tem que incentivar, mas não executar diretamente", argumentou.

O convênio assinado entre o Estado e a União prevê que o Ministério irá repassar a Minas R$ 6 milhões para a construção das cisternas, e que o governo mineiro irá investir uma contrapartida de R$ 1,2 milhão.

O diretor do Departamento de Gestão Integrada da Política do Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), César Medeiros, disse que a assinatura de convênios com diferentes parceiros é uma opção do governo federal para multiplicar as ações e agilizar a implantação do programa. De 2003 até maio de 2007, segundo ele, foram construídas em todo o País 270 mil cisternas, sendo que 52% foram feitas pela ASA. Desse total, 191 mil cisternas foram financiadas e reguladas pelo MDS, atendendo 955 mil pessoas. O investimento foi de R$ 277 milhões.

Durante a reunião, representantes do Idene enfrentaram diversas críticas relativas a problemas do programa estadual. Representantes da ASA disseram que foram procurados por moradores que desistiram do programa estadual porque conviviam, há meses, com buracos escavados para instalação de cisternas que não foram concluídas pelo Estado. Rachel Tupynambá admitiu os problemas, mas fez um apelo pela união de esforços. "Não estamos tirando dinheiro da ASA. O projeto ficou parado um ano. Não podemos repassar recursos que recebemos da União para outra entidade. O convênio não permite isso, seria triangulação de recursos", afirmou a dirigente.

A coordenadora executiva da ASA-MG, Marilene Alves de Souza, afirmou que o papel da entidade também é fiscalizar a atuação do Estado. "Não estamos aqui para desqualificar o trabalho do Idene, mas exercer o controle social, que é nossa atribuição", afirmou ela.

Deputado diz que buscará recursos adicionais para 2008

O deputado Paulo Guedes (PT) lembrou que uma emenda orçamentária apresentada pretende destinar de R$ 20 milhões a R$ 30 milhões para construção de cisternas em Minas, por meio do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs). Ele afirmou que irá solicitar à bancada federal de Minas o apoio para que o recurso seja conveniado com a ASA.

O deputado Almir Paraca defendeu que os órgãos envolvidos na construção das cisternas estabeleçam fóruns em que possam discutir suas experiências e o contraditório. Ele defendeu parcerias e concordou que a execução de programas que envolvam mobilização social é mais facilmente conduzida por entidades. "Isso exige um grau de militância que não é papel do Estado desenvolver", afirmou.

O deputado Padre João afirmou que o Estado, mesmo com as dificuldades, não pode abandonar o programa de cisternas. "Não podemos abrir mão de cobrar do poder público o seu papel", afirmou ele. O parlamentar disse que a construção das cisternas é apenas parte da solução, e pediu o apoio das entidades contra ações que ameacem a preservação da Mata Seca. Um exemplo, segundo ele, seria a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 23/07, que aumenta o limite de área que pode ser explorada com plantações de eucalipto.

Além das discussões sobre os programas de cisternas, a comissão aprovou 36 proposições que dispensam a apreciação do Plenário.

Presenças - Deputados Wander Borges (PSB), que presidiu a reunião; Padre João (PT), Almir Paraca (PT), Paulo Guedes (PT) e Elisa Costa (PT); além das autoridades citadas na matéria, o chefe de gabinete da Secretaria de Estado para o Desenvolvimento dos Vales do Jequitinhonha, Mucuri, São Mateus e Norte de Minas, Paulo Nunes.

 

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