Deputados e sindicalistas criticam terceirização na Cemig

A terceirização de mão-de-obra na Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) e a possibilidade de perda de conquist...

28/11/2007 - 00:00
 

Deputados e sindicalistas criticam terceirização na Cemig

A terceirização de mão-de-obra na Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) e a possibilidade de perda de conquistas salariais dos futuros trabalhadores da empresa foram duramente criticadas nesta quarta-feira (28/11/07), durante reunião conjunta das comissões de Trabalho, da Previdência e da Ação Social e de Participação Popular da Assembléia Legislativa de Minas Gerais. O debate contou com a participação de lideranças sindicais e dezenas de eletricitários de todo o Estado, que lotaram o Teatro da Assembléia, cuja capacidade é para 142 pessoas.

O deputado Carlin Moura (PCdoB), autor do requerimento para a reunião, ficou indignado com a ausência de representante da Cemig. Um de seus diretores, Marco Antônio Rodrigues da Cunha, enviou uma correspondência alegando que a empresa não poderia comparecer porque a paralisação dos trabalhadores nesta quarta exigiu a presença de todos os diretores em seus respectivos postos.

"Isso é um desrespeito aos trabalhadores, ao povo de Minas Gerais e à Assembléia", disse o deputado, completando que essa atitude confirma a postura da Cemig de evitar o debate com seus funcionários. A procuradora Maria Beatriz Xavier, do Ministério Público do Trabalho, também justificou por carta sua ausência devido a compromissos assumidos anteriormente.

Ao final da reunião, a deputada Elisa Costa (PT) informou que nesta quinta-feira (29) haverá uma reunião entre sindicalistas, parlamentares e o secretário de Governo, Danilo de Castro, para tentar fazer com que as negociações sejam reabertas. "Uma empresa pública não pode se negar a discutir com seus trabalhadores", disse ela.

Sete terceirizados já morreram neste ano

O retrato da terceirização na Cemig foi apresentado pelo coordenador-geral do Sindicato dos Eletricitários de Minas Gerais (Sindieletro/MG), Willian Vagner Moreira. Segundo ele, a empresa tem hoje 10.800 funcionários diretos e 8.000 terceirizados. Porém, a maior parte do pessoal que trabalha no nível operacional é terceirizada. São pessoas que têm contato direto com dispositivos eletrificados, mas muitas vezes não recebem o treinamento adequado para exercer a função.

Como resultado, o que se vê são freqüentes acidentes de trabalho. Segundo o dirigente sindical Marcelo Correia, somente este ano sete trabalhadores morreram durante o serviço. Dados da Procuradoria Geral do Trabalho de Minas Gerais mostram que de 1999 (ano em que a Cemig intensificou a terceirização) a 2007, a empresa registrou 64 acidentes, sendo 50 com empregados de empresas terceirizadas. Dos 44 eletricistas mortos por acidente de trabalho na Cemig, 32 eram terceirizados, o que equivale a 72% dos casos.

A indignação dos eletricitários e deputados presentes à reunião se tornou maior diante da informação de que a Cemig lucrou, no ano passado, R$ 2 bilhões. De janeiro a setembro deste ano, o lucro chegou a R$ 1,469 bilhão. Willian Vagner informou que mais de 50% desse dinheiro vai parar nas mãos dos acionistas estrangeiros. "A empresa tem que ser lucrativa, mas que esse lucro seja revertido na melhoria da qualidade do serviço prestado, do atendimento à população e das condições de trabalho de seus funcionários", destacou o dirigente sindical. Ele e os deputados atacaram o modelo de gestão da empresa, que segue a filosofia de empresas privadas, tendo o lucro como principal objetivo.

O deputado Durval Ângelo (PT) lembrou que a Cemig foi condenada pela Justiça do Trabalho de Belo Horizonte a eliminar a terceirização de postos de trabalho essenciais ao seu funcionamento. Pela decisão judicial, a estatal terá que promover concurso público para substituir os 8.000 funcionários de empresas terceirizadas até fevereiro do próximo ano. Até agora, porém, a Cemig não fez nenhum movimento nesse sentido, afirmou Willian Vagner.

Durval lembrou de uma audiência pública da Comissão de Direitos Humanos realizada no ano passado para discutir a terceirização na empresa. Ele disse que, naquela ocasião, ficou impressionado com a presença de tantos trabalhadores mutilados, como num "cenário de guerra".

Deputados criticam tarifa e defendem conquistas dos trabalhadores

André Quintão (PT), presidente da Comissão de Participação Popular, lembrou que a Cemig tem um papel estratégico no desenvolvimento de Minas, e que por isso "é inadmissível que a empresa busque o caminho da precarização do trabalho realizado por seus funcionários". Ele criticou também a tarifa cobrada pela estatal, a maior do País, se considerados os impostos. "De cada R$ 100 pagos pelo consumidor, R$ 42 são de impostos", afirmou.

A presidente da Comissão de Trabalho, da Previdência e da Ação Social, deputada Rosângela Reis (PV), garantiu que os parlamentares estão empenhados na defesa da causa dos trabalhadores da Cemig, e que não se pode mexer em direitos conquistados há anos. Ela se referiu, principalmente, ao adicional de 16,67% pago aos funcionários diretos da Cemig desde 1966, intitulado "Maria Rosa".

Durante a fase de debates, eletricitários do interior denunciaram o desativamento de escritórios da Cemig nas pequenas cidades. Natanael Marçal de Souza, de Uberaba, revelou que recentemente um temporal na cidade deixou bairros inteiros sem energia elétrica por três dias.

Nesta quarta-feira, os eletricitários fizeram uma paralisação e seguiram em passeata a partir da sede da Cemig, passando pela Assembléia e chegando ao Palácio da Liberdade. Em seguida, eles retornaram à ALMG para participar da audiência pública. Segundo o Sindieletro, cerca de 2.000 trabalhadores participaram da manifestação.

Presenças - Deputadas Rosângela Reis (PV), presidente da Comissão do Trabalho, da Previdência e da Ação Social; Elisa Costa (PT), vice; deputados André Quintão (PT), presidente da Comissão de Participação Popular; Carlin Moura (PCdoB) e Durval Ângelo (PT). Além dos sindicalistas citados na matéria, participou também dirigente sindical Franklin Moreira Gonçalves.

 

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