Sindicalistas denunciam descumprimento de norma trabalhista

A necessidade de cumprimento da Norma Regulamentadora nº 18, do Ministério do Trabalho, que trata da segurança dos tr...

22/11/2007 - 00:00
 

Sindicalistas denunciam descumprimento de norma trabalhista

A necessidade de cumprimento da Norma Regulamentadora nº 18, do Ministério do Trabalho, que trata da segurança dos trabalhadores da construção civil, e a transparência em relação às estatísticas que demonstram o aumento dos índices de acidentes de trabalho, foram as principais reivindicações dos representantes dos operários durante audiência pública da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa de Minas Gerais realizada nesta quinta-feira (22/11/07). A reunião foi solicitada pelo deputado João Leite (PSDB), que destacou que o número de acidentes é preocupante e está crescendo em função do aumento da demanda da construção civil. Ele sugeriu que a comissão faça visitas regulares às obras para verificar as condições de trabalho.

O deputado Luiz Tadeu Leite (PMDB) informou que, em 2007, ocorreram 1.821 acidentes na construção civil do Estado. "O setor da construção civil é um dos mais prósperos do País. As empreiteiras estão enriquecendo e os trabalhadores não participam dessa riqueza", acrescentou. Outros números foram apresentados pelo secretário regional da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria (CNTI), José Reginaldo Inácio. Ele disse que, no Brasil, mil trabalhadores são mutilados a cada dia. Segundo dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT) citados pelo sindicalista, 57 mil pessoas morrem no Brasil por ano em decorrência de acidentes de trabalho. "O trabalho mata mais que o trânsito e não há nenhuma campanha falando disso", questionou.

De acordo com José Reginaldo Inácio, a maior parte dos acidentes ocorre por queda, choque elétrico e soterramento, além das mutilações por serra elétrica. Ele também citou algumas causas dos acidentes, como o descumprimento da legislação que trata da segurança no trabalho, a utilização de equipamentos inadequados ou de má qualidade, a falta de qualificação profissional e de conscientização para os riscos das atividades, a alimentação de má qualidade dos trabalhadores, a falta de fiscalização, as horas extras de trabalho, a terceirização e a informalidade. José Reginaldo também informou que as estatísticas não acompanham a realidade e que a OIT afirma que elas mostram apenas um quinto dos acidentes.

O presidente do Stic, sindicato que reúne trabalhadores nas indústrias e administração de construções, Osmir Venuto da Silva, também exigiu a divulgação das estatísticas. "O que acontece na construção civil, para nós, não é acidente de trabalho, é crime", acusou. Segundo ele, as quedas de trabalhadores dos andaimes ocorrem geralmente entre 8 horas e 11 horas e depois das 15 horas, quando os operários estão com fome. Ele informou que os empregados da construção civil estão em greve por melhorias salariais.

Mais de 90% dos acidentes poderiam ser evitados

A importância da Norma Reguladora nº 18 foi destacada por Jorge Moraes, do Conselho Permanente Nacional da CNTI. Segundo ele, existem estudos que apontam que 93% dos acidentes de trabalho poderiam ser evitados. "A norma traz 42 itens, selecionados por representantes do governo, das entidades patronais e dos trabalhadores, que precisam ser seguidos em todas as obras", afirmou.

Durante a reunião, o deputado Durval Ângelo (PT) trouxe aos inúmeros trabalhadores e sindicalistas que lotavam o Auditório da Assembléia a notícia de que três trabalhadores haviam sido soterrados em uma obra no bairro Buritis. E, aproveitando dados trazidos por José Reginaldo Inácio, afirmou que as mortes nos canteiros de obras são equivalentes a números de guerra. O sindicalista disse que, por ano, morrem no mundo mais trabalhadores que as vítimas do holocausto da 2ª Guerra Mundial.

Empresários entram na Justiça para que norma não seja aplicada

"Não prevalece entre os patrões a cultura da prevenção de acidentes e dos cuidados com a saúde do trabalhador", afirmou a procuradora do Trabalho Sônia Toledo Gonçalves. Ela afirmou que há um enorme desrespeito do setor patronal, que só enxerga o trabalhador como sujeito de deveres, ignorando seus direitos. "O setor patronal mineiro, por meio de dois sindicatos, foi à Justiça pedir que a Norma Regulamentadora nº 18 não fosse aplicada. É lamentável a resistência que têm em cumprir uma norma que eles mesmos ajudaram a construir", criticou. De acordo com a procuradora, um dos sindicatos que acionou a Justiça, o Sicepot, conseguiu o direito provisório de descumprir a norma, por meio de mandado de segurança.

Sônia Gonçalves também denunciou o processo chamado de "pejotização", quando os trabalhadores são obrigados a ter personalidade jurídica, não tendo direito a carteira assinada, férias, 13º salário e direitos previdenciários. No mesmo sentido, o ex-deputado Sérgio Miranda disse que, do ponto de vista legal, houve um desmonte dos direitos dos trabalhadores. Além da pejotização, há o arrocho salarial e o medo do desemprego. "As mortes chocam, mas e os mutilados de forma permanente? E aqueles que têm alguma mutilação que não justifica a aposentoria por invalidez, mas dificulta a obtenção de outro emprego?", questionou. Para ele, a responsabilidade dos acidentes é dos patrões, mas também do governo, a quem cabe fiscalizar as relações de trabalho.

Sem condições para fiscalizar - O auditor fiscal do Trabalho Airton Marinho disse que a Delegacia Regional do Trabalho tem 60 médicos e engenheiros para fiscalizar as condições de trabalho de 25 mil empresas de construção civil no Estado. Neste ano, até agora, foram realizadas 5.200 fiscalizações de obras. Para ele, falta antecipação para evitar os acidentes. O auditor também lamentou a falta de estrutura para que a delegacia realize um trabalho mais efetivo.

O setor patronal foi representado pela engenheira do Trabalho Andréia Kaucher Darmstadter, que substituiu o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon-MG), Walter Bernardes de Castro. No entanto, já no início de sua exposição, ela esclareceu que faria uma exposição técnica, não tendo condições de abordar os outros aspectos que envolvem a questão. A ausência da direção do sindicato foi muito criticada pelos representantes dos trabalhadores, que taxaram a atitude de covarde. A engenheira informou que o sindicato treina 400 trabalhadores por mês e que visa não somente à prevenção de acidentes, mas também o cuidado com a saúde integral do operário, monitorando as condições de higiene e de salubridade dos locais de trabalho, entre outras medidas.

O clima da reunião esquentou quando o deputado Ruy Muniz (DEM) disse que defendia os empresários e que as construtoras precisam ser respeitadas porque geram empregos. "Defendo a associação entre o capital e o trabalho", afirmou. Ele ponderou, no entanto, que os empresários devem pagar bem seus funcionários e fornecer equipamentos de segurança, além de cumprir as normas de segurança do trabalho.

Requerimentos - Acolhendo sugestões apresentadas pelos trabalhadores durante a reunião, foram aprovados vários requerimentos. Dos deputados João Leite, Durval Ângelo e Ruy Muniz, foram apresentados dois requerimentos solicitando ao secretário de Estado de Transportes e Obras Públicas providências para garantir o cumprimento da Norma Regulamentadora nº 18 pelas empresas vencedoras de licitações para a execução de obras públicas no Estado; e ao secretário de Estado da Educação e ao Conselho Estadual de Educação a abordagem dos temas transversais "Saúde e Segurança no Trabalho", com ênfase no setor da construção civil nas escolas públicas e particulares.

Dos mesmos deputados, também foram aprovados outros requerimentos solicitando o envio das notas taquigráficas da reunião à Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados, além de um ofício para a realização de uma audiência dessa comissão sobre saúde e segurança do trabalho; o envio de ofício ao presidente da ALMG pedindo a realização de uma série de reportagens sobre o mesmo tema pela TV Assembléia; sejam encaminhados ofícios aos Ministérios do Trabalho e Emprego e da Previdência Social, para a realização de audiência conjunta com a presença de entidades sindicais, para debater saúde e segurança do trabalho, além de formas de prevenção de acidentes que podem resultar em mortes e mutilações; seja formulado apelo ao secretário de Estado de Governo para a realização de campanhas permanentes em todos os veículos de comunicação do Estado sobre o mesmo tema; seja enviado pedido ao presidente da ALMG para que a Empresa Inconfidência seja proibida de participar de processos licitatórios promovidos pela Casa, até que a empresa faça o pagamento dos direitos trabalhistas aos seus empregados que trabalharam em obras realizadas na Assembléia; e seja formulado apelo ao chefe da Polícia Civil pedindo a elaboração e divulgação de relatórios sobre as perícias realizadas em obras da construção civil onde ocorram acidentes fatais.

Também foi aprovado requerimento dos deputados Durval Ângelo, João Leite, Ruy Muniz e Luiz Tadeu Leite pedindo o envio das notas taquigráficas da reunião às entidades convidadas e às presentes na audiência.

Presenças - Deputados Durval Ângelo (PT), presidente; Luiz Tadeu Leite (PMDB), vice; João Leite (PSDB), Ruy Muniz (DEM), Célio Moreira (PSDB) e Paulo Cesar (PDT). Também participou da reunião o presidente da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção e do Mobiliário de Minas Gerais, Lázaro Ramos.

 

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