Em debate, as tecnologias para o semi-árido e o Rio São
Francisco
Soluções para o desenvolvimento do semi-árido e a
necessidade de despoluição e revitalização do Rio São Francisco
foram os temas mais abordados na solenidade de abertura do ciclo de
debates "O Rio São Francisco e o Desenvolvimento Sustentável do
Semi-Árido", na noite desta quarta-feira (21/11/07), no Plenário da
Assembléia Legislativa de Minas Gerais, muito embora as críticas ao
projeto de transposição tenham pontuado os discursos e as
manifestações da platéia.
O presidente da Assembléia, deputado Alberto Pinto
Coelho (PP), abriu o evento falando sobre a importância cultural e
econômica do rio São Francisco para os 242 municípios mineiros de
sua bacia, e para os estados da Bahia, Pernambuco, Alagoas e
Sergipe, que são banhados por suas águas. "Se contemplarmos a
hipótese de transposição das águas para o Nordeste Setentrional,
também o Ceará, o Rio Grande do Norte e a Paraíba serão
beneficiados, tornando o São Francisco o grande vetor do
desenvolvimento nacional para 30 milhões de pessoas". No entanto, o
presidente alertou que muito diálogo e muitos entendimentos serão
necessários para viabilizar esse projeto, com decisões respaldadas
pelo interesse coletivo.
O deputado sergipano Antônio Passos (DEM),
posicionou-se contra o projeto de transposição, alinhando-se com a
posição assumida, segundo ele, por 100% dos sergipanos e alagoanos.
"Esse projeto só vai beneficiar poucos brasileiros, os donos de
construtoras. Se o Governo Federal tivesse recursos sobrando, já
teria dado um jeito nos 65 mil km de rodovias federais que estão em
péssimo estado. Se houvesse esses recursos, e esses fossem
redirecionados para a revitalização do rio, os sergipanos e
alagoanos aplaudiriam", afirmou Passos.
Por sua vez, a diretora-geral do Igam, Cleide
Izabel Pedrosa de Melo, disse que se a transposição é polêmica, a
revitalização é consenso, e que é preciso garantir que haja água
para ser transposta. "Para geração de energia, há alternativas, mas
para abastecimento de água, não. É preciso assegurar a perenização
dos cursos d'água. Aqui mesmo, na região metropolitana, já tivemos
que intervir em conflitos entre irrigantes e tomadas de
abastecimento urbano e conflitos de ocupação de áreas de recarga",
informou.
Ambientalista acredita que transposição não sai do
papel
O presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio
São Francisco, Thomaz Matta Machado, atacou o projeto de
transposição pela dinâmica que imporá de construção de barragens nos
principais afluentes, como o Velhas, o Jequitaí, o Urucuia e o
Paracatu, resultando em sua morte. Matta Machado discorda de que o
projeto seja apresentado como a solução para matar a sede dos
nordestinos. "O homem do semi-árido há séculos procura e desenvolve
modos de acumular água. Há 1.132 municípios com projetos básicos
financiáveis por agências internacionais, com a solução mais
adequada para seus problemas", afirmou. Após comemorar que o Governo
tenta começar o projeto de transposição há mais de quatro anos e não
consegue, devido à pressão organizada das comunidades ribeirinhas e
de diversas entidades, o presidente do Comitê disse que não acredita
que o projeto seja realizado neste Governo.
O último depoimento da solenidade de abertura foi
de Toinho Pescador, um pescador do São Francisco que adquiriu
consciência ambiental e se tornou militante em defesa do rio, após
visitar projetos como o do rio Danúbio, que considera morto por
abrigar fruticultura de uvas, maçãs e pêras em suas margens. "Meu
pai morreu quando eu tinha 12 anos, e tive que virar arrimo de
família. Aos 17 comecei a pescar embarcado, e consegui criar 9
filhos e dois adotivos. Hoje meus filhos estão saindo, tornando-se
vigilantes, porque não é mais possível viver da pesca", lamentou.
Toinho criticou também o presidente Lula por
considerar heróis os usineiros. "Eles acabaram com os
galos-da-campina, com as capivaras. Poluem, desmatam sem dó nem
compaixão, sem pensar na vida das outras pessoas e dos bichos, e sem
respeitar o direito dos pobres", condenou.
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