Mercado de trabalho para negros é marcado por discriminação

Um quadro desolador do mercado de trabalho para os negros em Minas e no Brasil foi traçado na Assembléia Legislativa ...

21/11/2007 - 00:00
 

Mercado de trabalho para negros é marcado por discriminação

Um quadro desolador do mercado de trabalho para os negros em Minas e no Brasil foi traçado na Assembléia Legislativa de Minas Gerais nesta quarta-feira (21/11/07), durante reunião da Comissão do Trabalho, da Previdência e da Ação Social, que debateu o tema em comemoração ao Dia Nacional da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro. Dados apresentados pelos convidados da comissão reforçam que os negros têm os piores salários e empregos e enfrentam condições degradantes de trabalho, passados mais de cem anos da abolição da escravidão.

Os números revelam, por exemplo, que apenas 30% dos trabalhadores em shoppings de BH são negros, que ocupam, principalmente, postos menos qualificados. Outro levantamento aponta que, na RMBH, 6,9% dos negros têm curso superior, contra 22,3% de não negros com a mesma escolaridade. Os negros ocupam 80% dos postos na construção civil, 85% na construção pesada e 70% dos empregos domésticos. Por outro lado, não chegam a 5% em atividades como medicina e arquitetura. O Brasil tem ainda a 46ª posição no ranking de Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) para brancos, mas cai para a 107ª posição no ranking de IDH para não brancos.

Os dados foram trazidos pelo presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT-MG), Marco Antônio de Jesus; pelo representante do Núcleo de Combate à Discriminação do Trabalho da Delegacia Regional do Trabalho (DRT-MG), Rubens Giaquinto; pelo ex-delegado da DRT-MG e assessor especial da Prefeitura de BH, Carlos Calazans; pelo secretário de Políticas Sociais da CUT-MG, Paulo Henrique Santos; e pelo advogado trabalhista e cível José Edson Bastos de Oliveira.

Calazans acrescentou que, de um total de 20 mil trabalhadores escravos resgatados em Minas num período de sete anos, 18,5 mil eram negros. "O ciclo da escravidão não se quebrou", avaliou. Os debatedores defenderam a qualificação no período em que o trabalhador faz uso do seguro-desemprego; a adoção da política de cotas raciais nas universidades e investimentos em educação para mudanças de paradigma; e a aprovação, pelo Congresso Nacional, do Estatuto da Igualdade Racial, entre outras ações.

A deputada Elisa Costa (PT), autora do requerimento para o debate, salientou que questões envolvendo a saúde, a educação e a cultura dos negros também serão debatidas pela ALMG, como parte de um conjunto de ações da Frente Parlamentar de Promoção da Igualdade Racial. "No dia 30, teremos um debate sobre os quilombolas", completou. Segundo Elisa, a Frente tem duas prioridades: a criação, pelo governo de Minas, de um órgão específico para a promoção da igualdade racial - a exemplo da secretaria criada pelo governo Lula - e a inclusão no currículo das escolas do Estado, de conteúdo sobre história da África e cultura afro-brasileira, como prevê a Lei Federal 10.639, de 2003. "O País vive um bom momento, com geração de empregos. Mas tem que ser para todos", afirmou a parlamentar.

O deputado Walter Tosta (PMN) acrescentou que os negros portadores de deficiência enfrentam dupla discriminação, e que só um debate consistente pode mudar essa situação no mercado de trabalho. O deputado reivindicou ainda que a PBH dê novamente o status de secretaria à atual Coordenadoria de Assuntos da Comunidade Negra. Já a deputada Rosângela Reis (PV), presidente da comissão, afirmou que a sociedade tem uma dívida histórica para com os negros, que deve ser compensada. Ela citou o programa de cursos técnicos lançado recentemente pelo governador Aécio Neves como uma ferramenta importante de qualificação.

O diretor de Qualificação Profissional da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social (Sedese), Juarez Guimarães de Abreu, sintetizou as ações do governo nessa área e afirmou que o foco é a qualificação de mão-de-obra, para suprir essa carência no Estado. "No Sine da Praça 7, cerca de 500 vagas para a construção estão há um mês sem preenchimento", exemplificou. Segundo ele, foi inaugurado ainda nesta terça-feira (20) o Sine ambulante, que irá percorrer regiões carentes para fazer o cadastramento dos desempregados. Há ainda, segundo Abreu, trabalhos específicos em três comunidades quilombolas e em tribos Maxacalis.

Já o deputado Paulo Guedes (PT), relacionou a seca que atinge o Norte de Minas ao mercado de trabalho dos índios, outra população considerada por ele como excluída. Segundo Guedes, em São João das Missões, onde vive uma grande comunidade de índios Xacriabá, a seca já matou 30% do gado. "O prefeito de Montes Claros, Athos Avelino, e a bancada federal do Norte mineiro estiveram com o presidente Lula. Uma reunião ministerial deve ocorrer nesta quinta-feira (22) para tratar de medidas urgentes para socorrer a região", anunciou.

Requerimento - Durante a reunião, foi aprovado requerimento do deputado Antônio Carlos Arantes (PSC), solicitando a presença, na ALMG, do presidente do Sindicato da Indústria do Ferro de Minas Gerais (Sindifer-MG), Paulino Cícero, para explicar a geração de empregos em relação ao crescimento da mineração no Estado. A pedido da relatora, deputada Elisa Costa, foi adiada a análise do Projeto de Lei 683/07, do deputado Weliton Prado (PT). A proposição especifica os logradouros de acesso coletivo para fins da Lei 11.666, de 1994, que estabelece normas para facilitar o acesso dos portadores de deficiência física aos edifícios de uso público. A comissão aprovou ainda proposições que dispensam apreciação do Plenário.

Presenças - Deputadas Rosângela Reis (PV), presidente da comissão; Elisa Costa (PT), vice-presidente; e deputados Walter Tosta (PMN) e Paulo Guedes (PT).

 

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