Direitos Humanos vai a Araguari apurar tortura e morte em cadeia

A Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa de Minas Gerais realizou uma audiência pública, nesta segund...

19/11/2007 - 00:00
 

Direitos Humanos vai a Araguari apurar tortura e morte em cadeia

A Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa de Minas Gerais realizou uma audiência pública, nesta segunda-feira (19/11/07), na Câmara Municipal de Araguari, no Triângulo Mineiro, para esclarecer um caso de tortura dentro da cadeia municipal, que resultou na morte de Agamenon Pereira do Nascimento, 42 anos. Foram indiciados e já estão presos nove agentes penitenciários e um policial civil. Dos suspeitos, sete que são contratados foram sumariamente demitidos e os outros três, que são servidores públicos efetivos, passarão por um processo administrativo.

As informações foram prestadas aos deputados, durante a reunião, pela corregedora da Secretaria de Estado de Defesa Social, Luciana Nobre de Moura. O inquérito policial sobre o caso já foi concluído e o Ministério Público aceitou a denúncia contra os acusados. O prazo entre o crime - dia 29 de outubro - e a finalização do inquérito, foi considerado pelo presidente da comissão, deputado Durval Ângelo (PT) como surpreendente. "O sistema de defesa social funcionou. Se em todo crime de tortura fossem tomadas providências tão rápidas, acabaríamos com esse problema no País", afirmou.

O caso mobilizou a cidade. O Plenário da Câmara foi pequeno para a quantidade de pessoas que compareceran para a acompanhar a reunião. "Araguari é uma cidade pacífica. Essa foi uma ação isolada que chocou a sociedade", lamentou o promotor de Justiça, Valter Moriyama. A irmã da vítima, Neura de Fátima Nascimento, pediu aos deputados que a justiça seja feita. Afirmou que Agamenon era trabalhador e cuidava, sozinho, de dois de seus três filhos - um de 8 e outro de 9 anos. "Era um homem honesto, não merecia isso", reclamou, emocionada.

Protestos contra o crime e advertência sobre despreparo profissional

O representante do Sindicato dos Servidores da Polícia Civil, Denilson Martins, rechaçou a atitude dos agentes e do policial, mas reclamou, também, da pressão que esses profissionais sofrem no dia-a-dia. Segundo ele, Minas tem a segunda maior população carcerária do País, cerca de 35 mil presos, e a maioria está sob a custódia da Polícia Civil, corporação que, segundo ele, não tem o dever de assumir essa responsabilidade. Martins disse ainda que o agente penitenciário não tem preparo e nem acompanhamento para desempenhar tal papel. "Há uma relação de ódio entre presos e policiais", advertiu.

Os deputados presentes também lastimaram a violência do crime. Antônio Genaro (PSC) discordou do representante do sindicato ao afirmar que nenhuma pressão pode ser desculpa para um ato de tamanha violência. "Entendo a deficiência do Estado, mas não há justificativa para tortura", reforçou.

João Leite (PSDB) lamentou que a lei não funcionou para Agamenon. "A prisão já foi ilegal", disse em relação à detenção dele sob a acusação de ameaçar um vizinho. Segundo o deputado, ele deveria apenas depor e ser liberado até que o caso fosse esclarecido. O deputado Weliton Prado (PT) também se solidarizou com a família da vítima e ressaltou que o mais adequado é estabelecer o concurso público para a contratação de agentes penitenciários, para evitar outros problemas semelhantes. "É preciso reforçar as ações na área de segurança pública", completou.

O caso - De acordo com o inquérito policial, em 29 de outubro Agamenon foi levado à cadeia da cidade, sob acusação de ameaçar de morte um vizinho. Por esperar muito tempo e se sentir injustiçado, ele teria perdido o controle e jogado fezes no rosto de um dos agentes penitenciários. Em resposta a seu comportamento, alguns dos suspeitos teriam espancado o detento até a morte. Ainda não se sabe quantos usaram da violência e quantos se omitiram diante do ato e, inclusive, do socorro. De qualquer forma, conforme o delegado João Batista Borges, todos serão indiciados como responsáveis pela morte.

A irmã de Agamenon disse que ele teve o fígado, o baço e os rins perfurados, 18 costelas quebradas, dentes e dedos fraturados. "A crueldade nos chocou", conta. Ao final da reunião, os deputados aprovaram quatro requerimentos. O primeiro encaminhando um ofício ao chefe da Polícia Civil para que seja ampliado o quadro de pessoal da corporação em Araguari, assim como supridas as carências materiais da instituição no município. O segundo requerimento apela ao governador para aumentar o quadro de agentes penitenciários em Araguari; o terceiro solicita ao presidente do Tribunal de Justiça para criar uma vara criminal em Araguari. E o último pede que sejam encaminhadas as notas taquigráficas da reunião para a OAB, Ministério Público e Polícia Civil.

A comissão deve apresentar uma emenda à Proposta de Lei Complementar (PLC) 26/07, que trata da organização judiciária no Estado, para tentar assegurar a criação da vara criminal na cidade.

Presenças - Deputados Durval Ângelo (PT), presidente; Antônio Genaro (PSC), João Leite (PSDB) e Weliton Prado (PT). Também compuseram a mesa, além dos citados na matéria, o ex-deputado Marlos Fernandes, o ouvidor da Polícia Civil, Paulo Vaz Alkimim, o juiz Carlos Cordeiro, do Juizado Especial; representantes da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) local, o secretário municipal de Governo, Nilton Eduardo Castilho, o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara de Araguari, Luciano Rosa e outros vereadores da cidade.

 

 

 

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