Ministério da Agricultura e Anvisa intensificam fiscalização do
leite
Representantes do Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento e da Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (Anvisa) garantiram que as instituições estão tomando as
medidas de fiscalização e controle necessárias para assegurar a
qualidade do leite disponibilizado para o consumidor. Eles
participaram, nesta terça-feira (6/11/07), de audiência pública da
Comissão de Defesa do Consumidor e do Contribuinte da Assembléia
Legislativa de Minas Gerais, que tinha como objetivo debater as
denúncias de adulteração do produto no Estado. Convidados e
deputados presentes manifestaram, por um lado, a preocupação com a
garantia da qualidade do leite para o consumidor e, por outro, a
necessidade de encontrar uma solução que evite mais prejuízos para
os produtores e para a economia de Minas Gerais.
O superintendente Federal de Agricultura em Minas
Gerais e representante do Ministério da Agricultura, João Vicente
Diniz, explicou que, antes das denúncias apresentadas pela Polícia
Federal (PF), a instituição já estava trabalhando na fiscalização da
produção do leite. Ele defendeu a atuação dos fiscais, e afirmou que
o Ministério da Agricultura já afastou os dois profissionais que
foram envolvidos na adulteração do produto. Segundo ele, após as
denúncias, foram intensificadas as ações de fiscalização, sendo que
as cooperativas acusadas de estar fraudando o leite estão sob
vigilância constante. "Após o ocorrido, participei pessoalmente das
ações de fiscalização no interior do Estado", ressaltou.
A assessora da Gerência-geral de Alimentos da
Anvisa, Laura Misk de Faria, afirmou que, juntamente com a
população, a agência foi surpreendida pelos resultados da
investigação da PF e que novos procedimentos de fiscalização foram
adotados após a denúncia. Ela explicou que, antes de constatada a
adulteração do leite, a Anvisa e os órgãos estaduais e municipais
responsáveis pela Vigilância Sanitária, realizavam testes dos
produtos disponibilizados para o consumidor com o objetivo de
verificar a presença de microorganismos, como bactérias. "Agora,
após a constatação da fraude, estamos orientando que sejam feitas
também análises para detectar a presença de soda caustica, por
exemplo", disse.
Fiscalização conjunta - Já
a gerente de Vigilância Sanitária de Alimentos da Secretaria de
Estado de Saúde, Cláudia Parma, defendeu uma atuação conjunta dos
órgãos responsáveis pelo controle e fiscalização do leite, como
Ministério da Agricultura e Anvisa. Ela afirmou que há mais de sete
anos a Secretaria faz a fiscalização do produto que é
disponibilizado no mercado para o consumidor, mas que, até então,
apenas a presença de microorganismos era analisada. "A partir do
momento em que foi detectada a fraude, e de solicitações do
Ministério Público, da PF e da própria população, estamos realizando
a análise da presença de outros produtos no leite", destacou.
Segundo Cláudia Parma, as análises de presença de microorganismos no
leite tipo UHT, realizadas pela secretaria em 2006, reprovaram
apenas uma das amostras, sendo que, na ocasião, a empresa foi
atuada.
Testes não detectam presença de água
oxigenada
Os testes do leite recolhidos nos supermercados não
atestam a presença de água oxigenada, um dos componentes utilizados
na adulteração. A informação foi trazida pelo diretor do Laboratório
Nacional Agropecuário (Lanagro), Ricardo Aurélio Pinto Nascimento,
que é ligado ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento,
localizado em Pedro Leopoldo (MG). De acordo com ele, quatro horas
depois de inserida no leite, os testes não teriam como constatar a
presença da água oxigenada. Nascimento, porém, explicou que se os
testes de pequena complexidade forem realizados diretamente nas
indústrias, há como atestar a presença do produto.
O presidente da Comissão e um dos autores do
requerimento que deu origem à reunião, deputado Délio Malheiros
(PV), manifestou preocupação com a saúde do consumidor, e questionou
o representante da Vigilância Sanitária de Belo Horizonte, Leandro
Esteves de Vasconcelos, sobre a validade dos testes feitos pela
instituição nos produtos recolhidos nos supermercados da Capital.
Vasconcelos explicou que a Vigilância Sanitária fez uma busca de
produtos pertencentes aos lotes fraudados e que não foi encontrado
nenhum item nos supermercados de Belo Horizonte. Ele afirmou ainda
que já existem resultados parciais das 15 amostras de outros lotes
que foram recolhidas e também não foi constatada nenhuma alteração
no produto.
CPI - O deputado Weliton
Prado (PT), que também pediu a reunião, afirmou que as denúncias de
fraude causaram comoção na população. Ele lembrou que há seis anos
atrás uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da ALMG já havia
constatado a adulteração do leite, mas que o Ministério Público não
teria tomado as providências necessárias. O parlamentar defendeu que
o Ministério amplie a fiscalização e que seja criado um selo com o
objetivo de garantir a qualidade do leite.
A coordenadora da Defensoria do Consumidor do
Ministério Público, Mônica Fiorentino, afirmou que, após receber o
relatório da CPI do Preço do Leite, a instituição entrou com seis
ações coletivas na Justiça denunciando a utilização de soro no
leite. Ela explicou ainda que, desde 2000, o Procon Estadual
acompanha as denúncias de adição de soro no leite. O deputado
Antônio Júlio (PMDB) também lembrou que, na CPI do Preço do Leite,
houve manifestação dos produtores rurais sobre os problemas
envolvendo a produção.
Faemg alerta para crise no setor
Representantes da Federação da Agricultura e
Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg) e da Associação
Brasileira de Leite Longa Vida (ABLLV) manifestaram preocupação com
os efeitos da denúncia na produção do leite e na economia do Estado.
Marcus Abreu e Silva, da Faemg, afirmou que a crise gerada pelas
denúncias de adulteração veio em um momento inoportuno. "Nós
estávamos justamente investindo em ações junto ao pequeno produtor
com o objetivo de melhorar a qualidade do leite", destacou. Para
ele, é necessário encontrar uma solução para a crise rápido,
evitando que toda o setor de produção de leite em Minas Gerais seja
prejudicado.
Já o diretor-executivo da ABLLV, Nilson Muniz,
lembrou que as denúncias de fraude são pontuais e envolvem apenas
duas cooperativas mineiras. Ele defendeu a qualidade do leite
produzido no Estado e afirmou que as denúncias levaram a uma redução
drástica no consumo. "Na primeira semana, os consumidores
praticamente não compraram leite", destacou. Nilson Muniz afirmou
ainda que o leite longa vida é internacionalmente consumido e
produzido, representando 76% do consumo do produto no Brasil. O
diretor da ABVLL ressaltou que o leite adulterado não foi utilizado
apenas na produção do leite longa vida, mas de outros produtos
lácteos.
A deputada Ana Maria Resende e o deputado Célio
Moreira, ambos PSDB, também manifestaram preocupação com a crise no
setor e com os prejuízos para os produtores. O deputado Fahim Sawan
(PSDB) disse que é necessário encontrar uma solução e esclarecer as
dúvidas dos consumidores se ele podem ou não consumir o leite. O
deputado Vanderlei Jangrossi (PP) lembrou os problemas de saúde que
podem ser causados com o consumo do leite adulterado. Já o deputado
Antônio Carlos Arantes (PSC) destacou que a denúncia é fruto da
"incompetência do poder público", que não investiu e aplicou
recursos na Vigilância Sanitária e no controle das fronteiras.
Laboratório - Como desdobramento da reunião,
foi aprovado requerimento do deputado Délio Malheiros, para realizar
visita ao Laboratório Lanagro, com o objetivo de conhecer as
instalações e os trabalhos que vêm sendo desenvolvidos para evitar
fraudes no leite e seus derivados. Também foi aprovado requerimento do
deputado Délio Malheiros, solicitando audiência pública da comissão
para debater a elevação do preço do gás veicular em Minas Gerais.
Presenças - Deputados Délio
Malheiros (PV), presidente da comissão; Antônio Júlio (PMDB); Célio
Moreira (PSDB); Walter Tosta (PMN); Weliton Prado (PT); Fahim Sawan
(PSDB); Vanderlei Jangrossi (PP); Antônio Carlos Arantes (PSC);
Dalmo Ribeiro Silva (PSDB); e deputada Ana Maria Resende (PSDB).
Além dos convidados já citados estiveram presentes a médica
veterinária Luciana Nogueira Junqueira e os representante do
Ministério da Agricultura, Demerval Silva Neto e Márcio da Silva
Botelho.
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