Deputados cobram regulamentação do Fundo de Direitos Difusos

A Comissão de Meio Ambiente e Recursos Naturais da Assembléia Legislativa de Minas Gerais vai cobrar do Executivo que...

31/10/2007 - 00:00
 

Deputados cobram regulamentação do Fundo de Direitos Difusos

A Comissão de Meio Ambiente e Recursos Naturais da Assembléia Legislativa de Minas Gerais vai cobrar do Executivo que tome providências para tornar operacional o Fundo Estadual de Defesa de Direitos Difusos (Fundif), criado pela Lei 14.086, de 2001. Requerimento nesse sentido foi aprovado nesta quarta-feira (31/10/07) como resultado do debate promovido para discutir a aplicação da lei. Por falta de regulamentação adequada do Conselho Estadual de Direitos Difusos (Cedif) e na ausência de decreto sobre as formas de aplicar o dinheiro do fundo, Minas Gerais tem perdido, ao longo dos anos, recursos provenientes de indenizações e multas impostas pelo Judiciário aos responsáveis pelos danos causados aos direitos difusos. Entre eles, os relativos ao meio ambiente e patrimônio cultural. A reunião foi solicitada pela deputada Ana Maria Resende.

O coordenador das Promotorias de Justiça de Defesa do Patrimônio Cultural e Turístico, Marcos Paulo de Souza Miranda, trouxe um dado que provocou preocupação e espanto nos deputados. Ele revelou o caso de apenas uma empresa condenada pela Justiça a pagar R$ 23 milhões por reparação a dano ambiental, como resultado de ação civil pública formulada pelo Ministério Público. O fato ocorreu este ano, em Belo Horizonte. A verba não foi, no entanto, para o Fundif, mas sim para fundo federal assemelhado, segundo o promotor, em virtude da não regulamentação do fundo estadual. "Não temos a garantia de aplicação desses recursos em Minas. O dinheiro poderá ser destinado do Oiapoque ao Chuí", ilustrou Miranda. Em entrevista após a reunião, ele informou que o Ministério Público não tem números sobre o volume de dinheiro que deixou de ser reinvestido aqui.

Quando o Fundif estiver em pleno funcionamento, serão destinados a ele os recursos provenientes de condenações por ações civis públicas, penas pecuniárias fruto de infrações ambientais e medidas compensatórias resultantes de termos de ajustamento de conduta (TACs). "O fundo tem importância fundamental para o sistema de direitos difusos e traz benefícios a toda a sociedade", destacou Miranda. Exemplos de danos aos direitos difusos são a contaminação de rios, o rompimento de barragens e a destruição de bens culturais.

Os parlamentares enfatizaram que é preciso uma rápida solução para o caso. A deputada Ana Maria Resende defendeu a imediata regulamentação do Fundif, a fim de que ele possa cumprir sua determinação legal. O mesmo disse o deputado Almir Paraca (PT). "É uma medida administrativa simples, que precisa de correção o quanto antes", completou o deputado Wander Borges (PSB). O deputado Fábio Avelar (PSC) também avaliou que a solução do problema precisa ser rápida, e o deputado Inácio Franco (PV) reivindicou que os recursos das multas sejam destinados ao município de origem das infrações.

Ministério Público diz que já existe minuta de decreto; Seplag explica problema legal

De acordo com o promotor, o órgão gestor do Fundif era a antiga Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos. Foi aberta conta no Banco do Brasil entre 2002 e 2003, com um início de destinação de verba. Em 2003, em virtude de lei delegada e decreto do Executivo, o órgão gestor passou a ser a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social e Esportes (Sedese). Essa mudança provocou o cancelamento do CNPJ anterior. Marcos Paulo de Souza Miranda informou aos deputados que, há cerca de 60 dias, o Ministério Público cobrou da Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão (Seplag) a implementação do fundo. Em reunião com a Sedese, chegou a ser elaborada uma minuta de decreto, nos moldes do fundo federal.

Bruno Passeli, assessor da Subsecretaria de Planejamento e Orçamento da Seplag, informou que o dinheiro hoje destinado ao fundo é de pouco mais de R$ 54 mil. Revelou que existe um impasse legal pelo fato de o decreto que tratou do Conselho Estadual de Direitos Difusos (Decreto 43.613, de 2003) ter sido elaborado contrariando o texto da norma jurídica. O vice-presidente da comissão, deputado Fábio Avelar, complementou a informação da Seplag, esclarecendo constar como integrante do conselho o cargo de secretário de Desenvolvimento Social e Esportes, que não existia à época da lei (ano de 2001, anterior à reforma administrativa do Executivo).

Bruno Passeli chegou a sugerir que haveria duas opções para solucionar o impasse: alterar o decreto ou extinguir o Fundif, repassando seus recursos a outro fundo, mas mantendo a destinação das receitas. A segunda hipótese foi criticada tanto pelo promotor quanto pelos deputados, que lembraram ser preciso também regulamentar o fundo, além de tratar do conselho.

A diretora de Normas da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), Raquel de Melo Vieira, também presente à reunião, disse apenas que a Secretaria integra o conselho, mas não o grupo coordenador do Fundif. Informou ainda que o órgão nunca recebeu recursos do fundo.

O que dizem a lei e o decreto - A Lei 14.086, de 2001, é originada de projeto do ex-deputado Amilcar Martins (PSDB). Com 19 artigos, a lei cria o Fundif e o Cedif, além de trazer as competências do órgão gestor e do grupo coordenador; de determinar que o Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG) é o agente financeiro; e de prever a regulamentação da lei em 90 dias. Entre os beneficiários do fundo, estão o projeto de recuperação, restauração ou defesa de bem ou direito difuso, desenvolvido por entidade não governamental sem fins lucrativos.

O Decreto 43.613, que dispõe sobre a composição de conselhos de políticas públicas do Estado, lista os membros do Cedif: secretários de Desenvolvimento Social e Esportes (presidente) e de Defesa Social; um representante, cada, da Seplag, Semad, Secretarias de Fazenda e de Cultura, da Procuradoria-Geral de Justiça, da Coordenadoria das Promotorias de Defesa do Cidadão; o secretário executivo do Procon Estadual; além de três representantes de entidades civis. A lei difere do decreto ao prever como integrantes o secretário de Estado da Justiça e de Direitos Humanos e representante da Secretaria de Estado de Recursos Humanos e Administração (cargo e estrutura modificados com a reforma administrativa do Executivo) e ao não citar, pelo fato de ser uma época anterior à reforma, Seplag e secretários de Desenvolvimento Social e Esportes e de Defesa Social.

Outros requerimentos votados - A comissão aprovou requerimento do deputado Antônio Carlos Arantes (PSC) que trata de audiência com a Comissão de Política Agropecuária e Agroindustrial, para discussão do Decreto 44.309, de 2007, que determina penalidades por infrações de caráter ambiental. Convida Semad, Federação da Agricultura (Faemg), Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) e Sindicatos dos Produtores Rurais de Passos e de Cabo Verde.

Foram, ainda, rejeitados dois requerimentos do deputado Padre João (PT) que tratavam dos seguintes assuntos: pedido de agilização à Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam) e ao Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam) no processo de licenciamento ambiental para construção de estrada alternativa para o transporte de minério na BR-040; e pedido de agilização ao Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transporte (Dnit) na autorização para se construir estrada alternativa ao transporte de minério na rodovia.

Requerimentos lidos - Foram lidos, ainda, dois requerimentos: do deputado Carlos Pimenta (PDT), que trata de audiência em Montes Claros para discutir questões relacionadas à Mata Seca, bem como o PL 1.116/07, da deputada Ana Maria Resende, que estabelece normas para o uso alternativo da Mata Seca; e do deputado Dinis Pinheiro (PSDB), para audiência a fim de discutir os danos ambientais causados pelo tráfego intenso de carretas de minério da empresa Mineral do Brasil e o rebaixamento do lençol freático provocado pela atividade minerária, ambos em Mário Campos.

Presenças - Além dos convidados citados, participaram os deputados Fábio Avelar (PSC), vice-presidente, que presidiu a reunião; Almir Paraca (PT), Inácio Franco (PV) e Wander Borges (PSB) e a deputada Ana Maria Resende (PSDB). Não compareceu nem mandou representante a presidência do BDMG.

 

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