Debate na ALMG desmistifica monocultura da cana-de-açúcar

O debate público sobre o etanol realizado pela Comissão de Política Agropecuária e Agroindustrial da Assembléia Legis...

29/10/2007 - 00:03
 

Debate na ALMG desmistifica monocultura da cana-de-açúcar

O debate público sobre o etanol realizado pela Comissão de Política Agropecuária e Agroindustrial da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, nesta segunda-feira (29/10/07), teve o mérito de desmistificar a preocupação com a monocultura de cana-de-açúcar no Brasil e em Minas. A opinião é do presidente da comissão, deputado Vanderlei Jangrossi (PP), que coordenou o debate no Plenário. Os expositores convidados demonstraram que a área de cultivo da cana é insignificante em relação a outras culturas e, por outro lado, a atividade representa grandes oportunidades para os produtores e para o desenvolvimento do Estado. O debate público foi requerido pelos deputados Jangrossi, Padre João (PT), Chico Uejo (PSB), Getúlio Neiva (PMDB) e Antônio Carlos Arantes (PSC).

O secretário de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Gilman Viana Rodrigues, disse que a demanda mundial pelo etanol é resultado de uma busca por combustíveis que prejudiquem cada vez menos o meio ambiente. Segundo ele, o desafio que se coloca para a sociedade moderna é garantir a preservação das próximas gerações, e isso passa pelo controle ambiental, aumento da quantidade de alimentos à disposição da população e enfrentamento das alterações climáticas do planeta.

Gilman apresentou dados que mostram que Minas Gerais é o 2º maior produtor agrícola do País, e que a cana-de-açúcar ocupa 0,8% da área do Estado, ou 499,8 mil hectares. O percentual é muito pequeno em relação ao espaço ocupado pela cultura de grãos (4,53%) e pastagens (43,02%). "Quando foi que nos preocupamos com a monocultura do café?", questionou o secretário, ao informar que a produção cafeeira ocupa 1,074 milhão de hectares em Minas, mais que o dobro da área utilizada para a cana. Ele ainda alertou para a necessidade de se investir na escolarização para impulsionar o desenvolvimento do País. Segundo Gilman, o trabalho braçal em setores como o sucroalcooleiro vai cada vez mais perder espaço para a mecanização.

Técnico destaca potencial energético do etanol

A exposição do diretor do Instituto de Desenvolvimento Integrado de Minas Gerais (Indi), Maurício Cecílio, foi na mesma direção. Ele apresentou dados técnicos sobre a produção de cana-de-açúcar no Brasil e em Minas, comparando com outras culturas. Também mostrou que o potencial energético representado pela queima do bagaço da cana não pode ser desprezado. Segundo ele, as usinas deste tipo hoje existentes, somadas às que estão em fase de implantação, terão capacidade de geração de 1.500 megawatts/hora, cinco vezes mais que a recentemente inaugurada Usina Hidrelétrica de Irapé, no Norte de Minas.

O diretor pediu atenção às novas oportunidades de negócios que poderão surgir com o crescimento do etanol como combustível, como a integração com o biodiesel e a indústria alcooquímica, que poderá substituir a indústria petroquímica na produção de plásticos e outros criados com base no petróleo.

O superintendente técnico da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais, Affonso Damásio Soares, manifestou o apoio da entidade, que representa 380 sindicatos rurais no Estado, às iniciativas de incremento da produção de cana-de-açúcar. Ele também concordou com a opinião de que o setor deverá se deparar com inúmeras novas oportunidades.

Deputados vão propor ICMS menor

O deputado Getúlio Neiva afirmou, ao final de debate, que os integrantes da Comissão de Política Agropecuária e Agroindustrial deverão apresentar uma emenda ao Projeto de Lei 1.585/07, do governador, que autoriza reduções de alíquotas do ICMS em diversos setores. A emenda, segundo o deputado, proporá uma alíquota de 12% para o ICMS sobre a venda de álcool combustível na bomba. O governo do Estado já fixou essa alíquota para a venda de álcool da usina para o distribuidor, mas manteve a alíquota de 25% para o consumidor final.

Outra iniciativa anunciada por Getúlio Neiva foi a proposta de realização de um seminário parlamentar sobre biocombustíveis, a fim de questionar fatos como a instalação de uma usina de biodiesel em Montes Claros, pela Petrobras. "Ela instalou a fábrica mas não plantou mamona. Agora, ela não pode ser inaugurada", afirmou o deputado.

O deputado Chico Uejo defendeu estudos que avaliem a proibição imediata da queima da cana nos empreendimentos agrícolas instalados em Minas. "Ficou claro que precisamos de um marco regulatório que estabeleça limites para essa produção", afirmou. Já o deputado Antônio Carlos Arantes recorreu ao exemplo do sudoeste de Minas, região onde atua, para citar alguns problemas gerados pelo cultivo da cana: desemprego, trabalho escravo, queimadas descontroladas. "O café gerava muito mais emprego. Os biocombustíveis são um grande avanço, mas a sociedade não pode pagar o preço", disse o parlamentar.

Fetaemg cobra medidas que compensem o desemprego

Um documento produzido pela Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de Minas Gerais (Fetaemg), e lido durante a reunião pelo presidente da entidade, Vilson da Silva, chamou atenção para o desemprego que será provocado pela mecanização do cultivo da cana. "Não é verdade que as inovações tecnológicas vão gerar mais empregos que os atuais", criticou o documento. A Fetaemg cobrou, para enfrentar o problema, políticas públicas para reencaminhar os desempregados ao mercado. Durante o debate, a platéia também cobrou ações em relação ao desemprego. Vilson ainda comentou sobre a necessidade de o Executivo se envolver com o tema. O deputado Antônio Carlos Arantes concordou com o representante da Fetaemg.

O documento encaminhado pela Fetaemg também citou o exemplo de Goiás para sugerir a elaboração de um zoneamento da produção agrícola mineira, a fim de reduzir os riscos para a produção agropecuária e também para o meio ambiente. O texto também pede o cuidado com a alienação da tecnologia do álcool combustível, a fim de evitar que o setor venha a ser dominado por "conglomerados estrangeiros".

O pró-reitor da Universidade Federal de Lavras, José Roberto Scolforo, fez uma apresentação do Zoneamento Ecológico e Econômico de Minas Gerais, um projeto da instituição, feito em parceria com o governo do Estado. Ele comentou os critérios e mecanismos de avaliação das diversas regiões de Minas e de licenciamento de empreendimentos. "O interessante desse sistema é que orienta o empreendedor e o governo em que investir para aumentar o potencial de produção", afirmou o pesquisador.

Minas poderá ser 2º produtor em 2009

Dentro de dois anos, Minas Gerais deverá tornar-se o segundo maior produtor de álcool do Brasil, atrás apenas de São Paulo, que hoje concentra 62% da cultura de cana. A previsão foi feita pelo presidente do Sindicato da Indústria de Açúcar e Álcool de Minas Gerais, Luís Custódio Cotta Martins, durante a reunião realizada nesta segunda-feira. Ele apresentou números que indicam a expansão do setor no Estado. Nos últimos cinco anos, a produção de álcool em Minas cresceu 19,72% ao ano, enquanto o crescimento foi apenas de 8,91% ao ano em todo o Brasil. "Já subimos da quinta para a terceira maior produção do País", afirmou Martins.

Ele ressalvou, no entanto, que o Brasil precisa buscar mercados que absorvam essa produção. "É preciso incentivar a produção em outros países, porque nenhum país vai querer sair da dependência do Oriente Médio para cair na dependência do Brasil e Estados Unidos, únicos que produzem etanol atualmente", afirmou o representante do setor sucro-alcooleiro.

Luís Cotta Martins sugeriu que os mais de 70 municípios mineiros que hoje cultivam cana-de-açúcar se organizem em uma associação, o que facilitaria a luta por políticas públicas que beneficiem o setor. Quanto à mecanização, ele afirmou que a intenção é implantá-la, a princípio, em regiões onde haja carência de mão-de-obra, a fim de evitar o desemprego. Também disse que o sindicato já está fechando uma parceria com o Senai e o poder público para implantar um plano de qualificação de mão-de-obra.

Outra medida cobrada por Martins é a construção de um alcoolduto, que evite o transporte por caminhões. "Este ano, vamos exportar 250 milhões de litros de álcool pelo porto de Santos, levados de caminhão. É um absurdo", afirmou. Por fim, ele elogiou a iniciativa do deputado federal Virgílio Guimarães (PT-MG) de propor uma emenda ao projeto de reforma tributária do governo federal, determinando que a alíquota do Imposto sobre o Valor Agregado (IVA) dos biocombustíveis nunca seja superior à menor alíquota de um combustível fóssil. Hoje, a menor alíquota de ICMS para combustíveis fósseis é a do óleo diesel, que é 12%. "É uma emenda ecologicamente correta", defendeu Martins.

Presenças - Deputados Vanderlei Jangrossi (PP), presidente da comissão; Antônio Carlos Arantes (PSC), Chico Uejo (PSB), Getúlio Neiva (PMDB), Weliton Prado (PT) e Wander Borges (PSB), além dos convidados citados na matéria.

 

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