Comissões ouvem relatos das dificuldades no tratamento da obesidade

As dificuldades para se colocar em prática as Portarias 1.569 e 1.570, do Ministério da Saúde, que trazem diretrizes ...

25/10/2007 - 00:00
 

Comissões ouvem relatos das dificuldades no tratamento da obesidade

As dificuldades para se colocar em prática as Portarias 1.569 e 1.570, do Ministério da Saúde, que trazem diretrizes para a prevenção e o tratamento da obesidade, foram tratadas durante a reunião conjunta das Comissões de Saúde e de Assuntos Municipais e Regionalização da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, nesta quinta-feira (25/10/07). Representantes das Secretarias Estadual e Municipal de Saúde de Belo Horizonte, bem como do Hospital das Clínicas e da Santa Casa afirmaram que, entre os desafios para o cumprimento das normas, estão a adaptação dos hospitais e a aquisição de equipamentos especiais para os obesos; a qualificação de profissionais e o investimento em equipes multidisciplinares; e a revisão dos valores da tabela do Sistema Único de Saúde (SUS), bastante defasados. A reunião foi solicitada pelo deputado Weliton Prado (PT), presidente da Comissão de Assuntos Municipais e Regionalização, com o objetivo de saber se as novas regras estão sendo seguidas.

O deputado Carlos Mosconi (PSDB), presidente da Comissão de Saúde, afirmou que a demanda pela cirurgia bariátrica (redução de estômago) aumenta a cada dia e que os procedimentos estão em defasagem em relação a essa demanda. Em Minas Gerais, apenas dois hospitais realizam a cirurgia pelo SUS, ambos em Belo Horizonte - o Hospital das Clínicas e a Santa Casa de Misericórdia. Pelas novas portarias, o Estado poderia credenciar cinco hospitais para fazerem a cirurgia, desde que cumpram os requisitos exigidos. "Não estou certo de que muitos hospitais se interessem pelo credenciamento", afirmou Marcílio Stortini, referência técnica em cardiologia da Secretaria de Estado de Saúde. Para ele, as exigências quanto à estrutura do hospital para o atendimento do obeso, como elevadores, macas, leitos, banheiros especiais e centro cirúrgico adequado para pacientes de até 300 kg, podem inibir os interessados.

Fila de espera - A gerente de Regulação e Atenção Hospitalar da Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte, Alzira de Oliveira Jorge, afirmou que as portarias são também bastante claras em relação a indicação do paciente para a cirurgia, evitando distorções, como a sugestão de que o paciente engorde para poder operar. Ela lembrou ainda que os valores pagos pelo SUS para a realização das cirurgias serão maiores e que cada hospital credenciado deverá realizar pelos menos 96 cirurgias por ano. Hoje há uma fila de 410 pacientes esperando pela cirurgia em Minas Gerais. Em 2005 foram realizadas 31 operações; em 2006, 34; e, até agosto deste ano, 25. Marílio Stortini ponderou que, mesmo com a revisão da tabela do SUS, os hospitais ficarão no prejuízo. Alzira Jorge concordou que a remuneração pelos serviços médicos e hospitalares é um problema, mas defendeu que as portarias são um avanço no tratamento da obesidade.

Especialistas apostam na prevenção da obesidade

A importância da atenção integral aos obesos, sobretudo no que diz respeito à prevenção, ligada a hábitos de vida saudáveis, foi defendida pela gerente de projetos especiais da Secretaria de Saúde de Belo Horizonte, Roseli da Costa Oliveira. Segundo ela, a cirurgia bariátrica não deve ser pensada como a solução para o problema da obesidade, porque é cara e de alto risco. Ela também apontou como dificuldade para o cumprimento do disposto nas portarias do Ministério da Saúde a compra de equipamentos que têm custo elevado e são difíceis de encontrar no mercado. Roseli Oliveira acrescentou que a Prefeitura de Belo Horizonte atua em dois eixos para a prevenção da obesidade: ações intersetoriais envolvendo a alimentação saudável, sobretudo nas escolas, e a atividade física.

Na mesma linha de argumentação, o diretor de assistência ao SUS da Santa Casa, Paulo Tarcísio Pinheiro da Silva, afirmou que o foco principal do seu hospital não é a cirurgia bariátrica. "A cirurgia tem que ser o último recurso. O nosso objetivo é que as pessoas percam peso". Ele criticou a adoção, pelo ministério, do número de operações com o critério para qualificar ou desqualificar um hospital. Ele acrescentou que alguns pacientes correm grande risco de terem problemas cardíacos durante a cirurgia e que, em Belo Horizonte, não há nenhum equipamento para fazer os exames pré-operatórios em pessoas com obesidade grave.

Centro de diagnóstico- O representante da Santa Casa sugeriu que fosse criado um centro de diagnóstico único para atender esses casos, ao invés de cada hospital ter que possuir seus próprios equipamentos. O deputado Doutor Rinaldo (PSB) também defendeu a prevenção, sobretudo entre as crianças, e a regulamentação da Emenda 29, que, segundo ele, garantiria os recursos necessários às ações de saúde.

A diretora-geral do Hospital das Clínicas de Belo Horizonte, Tânia Mara Assis Lima, também afirmou que, para o hospital atender às exigências da portaria e aumentar o número de cirurgias, será necessário ter novas equipes de profissionais. Ela também considera o prazo de um ano para as adequações às novas normas muito curto, mas confia na sensibilidade do governo caso seja necessário expandir esse prazo.

Para o deputado Carlos Pimenta (PDT), a portaria é muito teórica e de difícil aplicação. Ele apontou ainda a centralização do atendimento ao obeso em Belo Horizonte como um grande dificultador para a universalidade do acesso ao tratamento. O deputado Carlos Mosconi também criticou as normas, dizendo que não têm efeito prático. O deputado Padre João (PT) acredita que as portarias ministeriais são um ponto de partida, mas que é preciso levantar os gargalos e buscar caminhos para a solução das dificuldades. O deputado Weliton Prado disse que fará gestões junto à bancada mineira do Congresso Nacional para que apresentem emendas ao orçamento federal que garantam recursos para a aquisição dos equipamentos necessários às cirurgias bariátricas.

Presenças - Deputados Carlos Mosconi (PSDB), presidente da Comissão de Saúde; Carlos Pimenta (PDT); Doutor Rinaldo (PSB), Weliton Prado (PT), presidente da Comissão de Assuntos Municipais; e Padre João (PT).

 

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