Moradores de loteamento embargado recorrem à Assembléia

A situação dos moradores do Jardim Colonial, no município de Ribeirão das Neves, foi tema de audiência pública da Com...

24/10/2007 - 00:00
 

Moradores de loteamento embargado recorrem à Assembléia

A situação dos moradores do Jardim Colonial, no município de Ribeirão das Neves, foi tema de audiência pública da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa de Minas Gerais na tarde desta quarta-feira (24/10/07). O loteamento da área foi embargado pela Justiça, o que acarreta grandes dificuldades para os moradores.

O deputado João Leite (PSDB), autor do requerimento, fez um relato pungente das aflições que enfrentam: por causa do embargo judicial, estão sem água da Copasa, sem esgotos, sem calçamento, enfrentando a poeira dos caminhões de cascalho ou a água de brejo contaminada com cadáveres de cachorros com a qual a Prefeitura molha as ruas. Um vídeo preparado previamente pela TV Assembléia, a pedido dos deputados, deu uma idéia bem clara dos problemas do Jardim Colonial.

Josefa Luíza Pereira é uma das moradoras do bairro. Sua casa fica na Alameda das Araras. Já Antônio Correia de Souza vive na Rua dos Tangarás. Eles não têm um direito primordial dos proprietários, que é o direito ao endereço, e a receber correspondência em casa. Como o loteamento é embargado pela Justiça por irregularidades diversas, os Correios não entregam em domicílio. Com isso, eles e outros 4 mil moradores têm que ir à caixa postal buscar suas faturas de cartão de crédito e contas de telefone, e as multas por atraso no pagamento são mais uma injustiça a atormentar a vida dessa comunidade.

Interrogando lideranças comunitárias e o advogado da empresa Campos Incorporações, o deputado Durval Ângelo (PT), presidente da Comissão, foi recompondo o histórico de 13 anos de trapalhadas empresariais e jurídicas com a conivência ou a negligência do Poder Público municipal, que resultaram na situação atual. O primeiro empreendedor, a Imobiliária Sul Minas, adquiriu metade de uma fazenda e fez o parcelamento como se fossem chácaras de condomínio fechado, e depois desmembrou em lotes urbanos. Não se sabe como, obteve a aprovação da Prefeitura. Não pagou ao proprietário da fazenda e não respeitou nenhuma das leis que regem os loteamentos, seja nas áreas de preservação ambiental, seja nas benfeitorias urbanas obrigatórias. Depois transferiu o passivo e as ações para a Campos Incorporações, e passou a competir com a sucessora dentro do próprio empreendimento.

Ministério das Cidades recomenda dignidade humana

Segundo o ouvidor-geral da Prefeitura de Ribeirão das Neves, Otávio Carlos de Melo, a Prefeitura consegue dar manutenção a cerca de 80% das ruas, mas cada uma delas tem pelo menos uma nascente ou brejos que precisam ser aterrados. As cisternas das casas estariam contaminadas. Melo admite que há uma empresa que retira cascalho no loteamento, com autorização ambiental, e o DER-MG teria desviado para lá as águas pluviais do bairro Nei Viana.

Esses caminhões de cascalho escandalizam Eliete Silva Oliveira, porque jogam poeira em sua lojinha. Ela reivindica que cuidem primeiro das ruas do bairro antes de levar o cascalho para fora, e garante que terá o apoio dos moradores se resolver interromper o tráfego dos caminhões. Anita Alves de Souza confirma que a água espalhada pela Prefeitura para baixar a poeira vem de um brejo fedorento, e que não adianta ralhar com as 80 crianças da catequese que se refrescam no jorro do caminhão.

Domício Alves de Oliveira completou o quadro, ao revelar que os vendedores iniciais da Sul Minas cobravam uma entrada de R$ 500, uma TV ou eletrodoméstico e depois desapareciam, e que desde então tudo ali é feito às custas da comunidade, como a escola, que os moradores pagaram a metade. "Vivemos numa bagunça. Tem gente que anda dois quilômetros para pegar a condução", disse ele.

As propostas de solução começaram a chegar. O defensor público de Direitos Humanos, Gustavo Corgozinho Alves de Meira, disse que o assentamento informal impede o acesso aos bens urbanos, mas que o Ministério das Cidades recomenda que as autoridades não sejam escravas do excesso de formalismo e atendam aos princípios da dignidade humana, ainda que contrariando parte da legislação.

O deputado Durval Ângelo sugeriu o agendamento das lideranças do Jardim Colonial com a Defensoria Pública e ofereceu solidariedade da Comissão à idéia de parar os caminhões de cascalho. Citou a situação do bairro Jardim Barcelona, semelhante à do Colonial, que resultou numa sentença original do juiz Wenderson Souza Lima. O juiz proibiu a imobiliária de continuar a venda e ordenou ao Banco do Brasil que abrisse uma conta vinculada para que os moradores continuassem a pagar em juízo as prestações. Já havia mais de R$ 1 milhão na conta que seriam revertidos em melhorias devidas pelo empreendedor. Recentemente, o Ministério Público pediu a prisão de um vendedor que havia vendido três unidades em desobediência à ordem judicial.

O deputado acredita que uma solução análoga poderia resolver a situação do Jardim Colonial, mas se preocupou com o nível de inadimplência, estimado em 94% dos moradores. O advogado da Campos Incorporações, Tiago Bulhões Viana, comprometeu-se a entregar um relatório com a situação completa do loteamento na próxima terça-feira.

Requerimentos: A Comissão decidiu fazer uma visita ao local na próxima quinta-feira (1/11/07), às 14 horas. Uma série de requerimentos aprovados também pede o levantamento da situação jurídica do loteamento, informações da Fundação Estadual do Ambiente (Feam) sobre a licença para retirada de cascalho, visita aos promotores e à juíza de Ribeirão das Neves, o envio de notas taquigráficas da reunião ao Ministério Público, à Defensoria e à Juíza de Ribeirão das Neves. Outros requerimentos apresentados em reuniões anteriores também foram aprovados.

Presenças: Deputados Durval Ângelo (PT), presidente; Luiz Tadeu Leite (PMDB), vice-presidente; João Leite (PSDB) e Walter Tosta (PMN).

 

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