Comunidade denuncia irregularidades do comando da PM em Neves

A Comissão de Segurança Pública da Assembléia Legislativa de Minas Gerais vai promover, no dia 21 de novembro, a roda...

24/10/2007 - 00:00
 

Comunidade denuncia irregularidades do comando da PM em Neves

A Comissão de Segurança Pública da Assembléia Legislativa de Minas Gerais vai promover, no dia 21 de novembro, a rodada final de debates sobre os problemas constatados no comando da Polícia Militar em Ribeirão das Neves, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). Será convocado a participar, o comandante do 40º Batalhão da PM, tenente-coronel Silas Barnabé de Souza, bem como convidados o prefeito e o presidente da Câmara e representantes do transporte alternativo de passageiros e cargas. Segundo o presidente da comissão, deputado Sargento Rodrigues (PDT), o objetivo é cobrar uma posição clara do poder público sobre o problema do transporte no município, e ouvir Barnabé sobre as denúncias de irregularidades contra ele.

O comandante Barnabé foi duramente criticado, nesta quarta-feira (24/10/07), por representantes da comunidade de Ribeirão das Neves e dos perueiros que atuam naquele município, durante audiência da comissão solicitada por Sargento Rodrigues. Os convidados chegaram a cobrar a transferência de comando do batalhão. A reunião foi acompanhada pelo corregedor de polícia, coronel PM Cezar Romero, que se comprometeu a apurar as denúncias. Entre as irregularidades atribuídas a Barnabé, destacam-se: desvio de conduta pela adulteração de boletim de ocorrência; perseguição aos trabalhadores do transporte alternativo, ainda não regulamentado em Neves, e aplicação de multas de forma indiscriminada; falta de diálogo com a comunidade; e transferências arbitrárias de militares, gerando insatisfação na tropa. Algumas dessas denúncias já haviam sido feitas pela comunidade em audiência promovida em maio.

O deputado Sargento Rodrigues disse esperar que o caso seja apurado com rigor pelo comando da PM, pela Corregedoria e pelo Ministério Público - que também será notificado. "A Assembléia cumpriu seu papel de fiscalizar e cobrar providências, tendo a audiência desta quarta revelado os fatos de forma cabal. A situação em Ribeirão das Neves tem provocado um grande desgaste para a imagem da Polícia Militar", lamentou o deputado em entrevista após a audiência. Ele informou que a comissão deverá promover nova audiência pública, daqui a 60 dias, para ouvir novamente o corregedor e apurar as providências tomadas pela corporação. A convocação de Barnabé pela Assembléia foi defendida também pelo deputado Paulo Cesar (PDT), que afirmou estarem claros os excessos por parte do comando da PM em Neves.

Deputado menciona vazamento de informações e cobrança por multas

O deputado Sargento Rodrigues iniciou seu relato comentando matéria publicada no jornal "Eh Notícia", de 30 de agosto deste ano, que teria apontado o vazamento de informações de circulação interna da PM. O documento em questão seria uma lista com os nomes dos policiais da 204ª Companhia (subordinada ao 40º Batalhão) que teriam aplicado multas nos perueiros, com os respectivos valores. Convênio firmado entre a prefeitura e a PM encarregou os policiais militares de Neves de fiscalizarem o transporte clandestino no município. Esse convênio foi modificado em 2005 e passou a vigorar por mais 60 meses, segundo informou o próprio corregedor Cezar Romero. A matéria do jornal "Eh Notícia" também atribuiria ao comandante Barnabé a denúncia de que alguns policiais estariam recebendo propina dos perueiros para não aplicarem as multas.

Indústria de multas - O parlamentar trouxe a informação de que o comandante Barnabé teria ordenado, em memorando, que cada guarnição de radiopatrulha deveria lavrar, no mínimo, duas multas por turno de serviço, no horário de circulação de perueiros. De acordo com Rodrigues, seriam pelo menos 10 viaturas em circulação, com dois policiais cada, e quatro turnos diários. "Desde quando o comandante pode legislar e determinar quantas multas deverão ser aplicadas? É a instalação da indústria de multas em Neves", criticou, classificando a denúncia como grave. Na avaliação do deputado, a perseguição explícita é ato gravíssimo que contraria princípios da administração pública como legalidade, impessoalidade e razoabilidade. "Não posso defender a ilegalidade do transporte coletivo, mas sim o bom senso da Polícia, o entendimento da prefeitura e o tratamento isonômico na tarefa de fiscalizar", disse.

Requerimento de autoria de Sargento Rodrigues, aprovado nesta quarta, cobra da Corregedoria a instauração de inquérito policial militar (IPM) para apurar especificamente uma denúncia feita pelo cabo Gilber Soares de Araújo à Ouvidoria de Polícia. De acordo com essa denúncia, Araújo teria sido buscado em casa, depois do serviço, para alterar boletim de ocorrência por determinação do comandante Silas Barnabé, em detrimento de outro militar.

Resposta - O corregedor Cezar Romero disse ter tomado conhecimento da lista apenas na audiência desta quarta. Afirmou que iria determinar a apuração das responsabilidades pelo vazamento das informações da 204ª Companhia. Informou, ainda, que já sabia do memorando e que já teria cobrado do comando regional a apuração dos fatos. A resposta, acrescentou Cezar Romero, foi que teria havido "um equívoco, uma infelicidade" - depois contornados, segundo ele. O corregedor comprometeu-se a apurar todas as denúncias apresentadas nesta quarta, mas ponderou que existe um convênio entre o poder público e a Polícia e que o problema em Neves, para ser resolvido, está condicionado a um amplo entendimento entre prefeitura, usuários, perueiros e PM.

Comunidade e perueiros reivindicam que poder público regulamente o alternativo

Os perueiros enfatizaram que estão sendo perseguidos e reivindicaram que todo o caso seja apurado. O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Autônomos em Transporte Suplementar de Passageiros e Cargas de Ribeirão das Neves, Ranulfo de Paula Ramos, afirmou que a categoria luta há dez anos para sair da clandestinidade, mas que não há interesse do poder público em resolver o problema. Acrescentou que não há blitz e que a fiscalização é intensa. Em resposta à suposta denúncia de pagamento de propina para evitar multas, disse que "não sobra dinheiro para isso" e defendeu a integridade dos trabalhadores alternativos.

O presidente da Associação dos Trabalhadores em Transporte Alternativo de Belo Horizonte e Região Metropolitana, Jair Ribeiro Alves dos Santos, ratificou as denúncias, defendendo o direito ao trabalho, à concorrência e à livre iniciativa. Ele também cobrou do poder público que legalize a atividade. "A prefeitura não olha o problema e cruza os braços", lamentou. Santos lembrou também os esforços da categoria para atuar em Belo Horizonte, informando que, após 2001, os perueiros conseguiram regularizar 300 microônibus, que hoje atenderiam milhões de pessoas. O conselheiro fiscal da entidade, Eliseu Lourenço da Silva, disse à comissão que já encaminhou suas denúncias à Ouvidoria de Polícia, relatando que foi autuado mais de 150 vezes nos anos de 2006 e 2007.

Trans-Simão - Marilda Ramos Alves reforçou a cobrança pela regulamentação do transporte alternativo em Neves, informando que hoje haveria 600 perueiros no município e que teria sido aberta licitação apenas para 50. José Thiago de Oliveira, também perueiro, levantou outro problema, considerado grave pelo deputado Sargento Rodrigues. Segundo ele, a empresa de transporte coletivo Trans-Simão estaria por trás da ênfase na fiscalização. A empresa já havia sido citada em audiência anterior da Comissão de Segurança Pública, promovida em maio, por estar supostamente influenciando a ação fiscalizadora dos policiais.

Vânia Mendes Costa de Abreu, da Associação de Moradores do bairro de Areias e outros, reforçou as críticas e pediu o afastamento de Silas Barnabé, assim como Maria das Graças Alves, que deixou recentemente o cargo de presidente do Conselho Comunitário de Segurança Pública (Consep) do bairro Veneza como forma de protesto.

Praças reforçam necessidade de mudanças

O pedido de afastamento do comandante Silas Barnabé foi reiterado por Raimundo Nonato Menezes Araújo, representante da Associação dos Praças da Polícia Militar e Bombeiro Militar (Aspra). Segundo ele, a medida deve ser analisada, tendo em vista que tanto a comunidade quanto os subordinados de Barnabé estão insatisfeitos com sua gestão. O presidente do Centro Social dos Cabos e Soldados da Polícia Militar e Bombeiro Militar, cabo Álvaro Rodrigues Coelho, enfatizou que o espelho da tropa é o comandante e classificou como "ditadura" o que ocorre em Ribeirão das Neves. Ele também questionou a motivação de transferências de policiais entre batalhões.

Solução conjunta - O presidente da Associação dos Oficiais da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros Militar, major Zoé Ferreira dos Santos, enfatizou que o problema do transporte em Neves não se resolve com a atuação da Polícia; é preciso intervenção do poder público. Na avaliação de Zoé, a pressão popular deve ser intensificada no município - ao qual caberia a regulamentação do assunto. Ele também ponderou ser preciso apuração ampla das denúncias, com possibilidade de defesa para não se cometerem injustiças.

Crítica - O deputado Sargento Rodrigues solicitou o registro, pela assessoria da Comissão, da presença de policiais que estariam na reunião por indicação do comandante Silas Barnabé. Ele questionou o procedimento, mas enfatizou que os policiais eram bem vindos. Já o corregedor Cezar Romero disse não acreditar na presença de "espiões", afirmando que a audiência é aberta e que, se estavam ali, o objetivo deveria ser entender o caso e tomar providências.

Requerimentos aprovados

Foram aprovados os seguintes requerimentos:

* Do deputado Paulo Cesar, para realização de audiência em Araújos, a fim de discutir o alto índice de violência do município.

* Do deputado Antônio Carlos Arantes (PSC), para realização de audiência em São Sebastião do Paraíso, em conjunto com a Comissão de Política Agropecuária e Agroindustrial, a fim de discutir a questão da violência e contribuir para a garantia de segurança nas áreas rurais.

* Do deputado Délio Malheiros (PV), para realização de visita à cadeia pública de Governador Valadares, a fim de verificar as condições dos detentos e denúncias de superlotação.

* Do deputado Sargento Rodrigues, para: realização de audiência a fim de apurar denúncia de violência contra o menor L.H., de 15 anos, que teria sido agredido por seguranças particulares de uma festa promovida na Pampulha, na Capital; manifestação de aplauso a policiais civis que prenderam Aparecido Rodrigues Alves no último dia 15, numa operação conjunta com a Polícia de Ribeirão Preto (SP), depois de ele ter sido resgatado da cadeia de Muzambinho; providências do comando da PM e da Secretaria de Estado de Defesa Social quanto a requerimento já aprovado que pede a instauração de procedimento administrativo disciplinar contra o major Romes Caúbes Pereira. Ele foi denunciado formalmente pelo Ministério Público, em 2004, por falsidade ideológica e prevaricação. O requerimento cobra o afastamento de Pereira da companhia da PM em Frutal, no Triângulo Mineiro.

Presenças - Deputados Sargento Rodrigues (PDT), presidente; Paulo Cesar (PDT), vice; Délio Malheiros (PV), Luiz Tadeu Leite (PMDB) e Weliton Prado (PT).

 

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