Comissão de Direitos Humanos recebe denúncias contra a Shell

A Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa de Minas Gerais recebeu uma série de denúncias de um empresá...

22/10/2007 - 00:01
 

Comissão de Direitos Humanos recebe denúncias contra a Shell

A Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa de Minas Gerais recebeu uma série de denúncias de um empresário de Belo Horizonte contra a petrolífera multinacional Shell. Marcelo Diniz acusa a companhia de ter-lhe vendido gasolina adulterada, de tráfico de influência e tentativa de suborno. O comerciante, que teve seu posto de gasolina fechado e alega ter ido à falência, foi ouvido pelos deputados numa audiência pública realizada nesta segunda-feira (22/10/07).

De acordo com o relato de Marcelo, o drama dele começou em 2001, quando um fiscal da Agência Nacional do Petróleo (ANP) esteve em seu posto de gasolina, no bairro Padre Eustáquio, região Noroeste da Capital mineira, e constatou a venda de gasolina com excesso de álcool. O empresário, no entanto, garante que recebia o combustível única e exclusivamente da Shell e que seu posto contava com um lacre eletrônico cuja abertura só poderia ser feita por meio de uma central da própria empresa.

"A companhia foi pioneira e investiu milhões de reais neste sistema. Cerca de 30% dos revendedores da marca aderiram ao lacre, por isso éramos classificados pela própria direção da empresa de 'revendedores honestos'. Nem se eu quisesse poderia pôr produto não autorizado no tanque. Isso só poderia ser feito se o lacre fosse rompido, o que acarretaria uma multa de R$ 1 milhão", explicou.

Segundo Marcelo, no momento da autuação, ele entrou em contato com representantes da Shell, que intercederam para que o posto não fosse fechado. "O fiscal da ANP recebeu uma ligação de seus superiores e informou que não mais fecharia o meu estabelecimento. Logo depois um caminhão da multinacional veio e recolheu 9.500 litros de gasolina de meus tanques. Fiquei com este enorme prejuízo, mas com as portas abertas", relatou.

Em 2003, o problema se repetiu e, dessa vez, o nome do posto foi parar na lista publicada pela ANP de postos que vendem produtos adulterados ou com irregularidades. "A partir daí, meu nome foi parar na lama e comecei minha luta por justiça. Meus prejuízos não foram somente econômicos, mas morais", disse emocionado.

Suborno - Depois de uma longa batalha judicial, o empresário Marcelo Diniz disse que chegou a ser procurado pela presidência da empresa, que lhe ofereceu R$ 1,5 milhão para admitir a culpa na adulteração da gasolina e retirar as ações na justiça. "Respondi que minha honra não está à venda. Tenho tudo isso gravado e vou enviar à Assembléia", afirmou.

O presidente da Comissão de Direitos Humanos, deputado Durval Ângelo (PT), lamentou a ausência de representantes da Shell na audiência pública e estranhou o fato de a empresa não ter sido investigada ou punida pela ANP. "Infelizmente, a comissão não tem o poder de uma CPI, portanto, não podemos obrigá-los a vir, mas a empresa deve explicações à sociedade", disse. O parlamentar também criticou a fiscalização de combustíveis no Brasil e lembrou que o consumidor deve ficar atento, pois o "número de fiscais é ridículo".

O deputado Alencar da Silveira Jr. (PDT) sugeriu a realização de um trabalho conjunto entre as comissões de Direitos Humanos e de Defesa do Consumidor da ALMG, pois, segundo ele, o caso narrado por Marcelo Diniz pode ser a ponta de um problema muito maior. "A situação pode se repetir em outros postos. O consumidor não tem garantia nenhuma que está comprando um produto de qualidade. Isso deixa de ser um problema particular para envolver toda a coletividade", opinou.

Responsabilidades - O promotor de Justiça do Procon estadual, Amauri Artimos da Matta, disse que a Shell também deveria sofrer um procedimento administrativo. Ele explicou que o Código de Defesa do Consumidor determina que fornecedor e revendedor respondam subsidiariamente pelo produto comercializado. "Existe uma portaria da ANP que não obriga o revendedor a testar o combustível que recebe do distribuidor, mas quando o posto de gasolina não o faz, acaba assumindo o risco, daí a responsabilidade. Caso o comerciante faça o teste e detecte que o produto foi adulterado, ele é obrigado a não aceitar o combustível e comunicar imediatamente à ANP", acrescentou.

Providências - O deputado Durval Ângelo informou que vai enviar ao Ministério Público as notas taquigráficas da audiência pública desta segunda-feira para facilitar o trabalho dos promotores. O parlamentar vai apresentar ainda três requerimentos, o primeiro para o Procon, pedindo um levantamento completo a respeito de queixas de consumidores sobre combustível adulterado; o segundo para a ANP, pedindo cópia do processo administrativo contra o posto de gasolina de Marcelo; e o terceiro, atendendo a sugestão do deputado Alencar da Silveira, solicitando a realização de reunião conjunta das comissões de Direitos Humanos e Defesa do Consumidor para tratar do assunto.

Durval Ângelo disse que vai pedir também a degravação da fita com a tentativa de suborno para que seja enviada à Justiça, ao MP, à Agência Nacional do Petróleo e ao Procon.

Presenças - Deputado Durval Ângelo (PT), presidente da comissão, e Alencar da Silveira Jr. (PDT).

 

 

Responsável pela informação: Assessoria de Comunicação - 31 - 2108 7715