Nutrição saudável é o novo desafio da alimentação
escolar
O principal foco da alimentação escolar hoje já não
é simplesmente combater a fome e a desnutrição, mas a obesidade e os
hábitos nocivos à saúde. Esta foi a principal revelação da
solenidade de abertura do ciclo de debates "Alimentação escolar como
estratégia de segurança alimentar e nutricional", na manhã desta
quinta-feira (18/10/07), no Plenário da Assembléia Legislativa de
Minas Gerais, com a presença maciça de deputados, autoridades
municipais e membros dos conselhos alimentares de várias cidades
mineiras.
O deputado Doutor Viana, 1º vice-presidente da
Assembléia, que dirigiu a solenidade, disse que o ciclo de debates
pretende discutir formas de monitoramento do Programa Nacional de
Alimentação Escolar e trocar experiências em dois campos de
discussão: formação de hábitos alimentares saudáveis e valorização
dos espaços escolares. "Historicamente, a fome e a desnutrição
sempre foram o sintoma mais agudo das desigualdades que afligem
nosso País", disse Viana. "Agora enfrentamos outro problema: o
excesso de alimentos prejudiciais à saúde, dietas nocivas e a
obesidade, que é duplamente prejudicial às crianças e adolescentes,
porque gera doenças cardiovasculares, diabetes juvenil e dificulta a
saudável prática de esportes", continuou.
O deputado João Leite (PSDB), co-autor do
requerimento que deu origem ao evento, lembrou que, na escola, o
momento que mais aguardava era o das aulas de educação física, que
desenvolveram sua aptidão para o esporte. Leite disse ter grandes
expectativas em relação ao debate, já que o tema de alimentação
escolar dá oportunidade de alcançar 90% das crianças e jovens com
uma proposta de mudança de hábitos e alimentação de qualidade,
impedindo a epidemia de obesidade que está prevista para 2020.
Minas tem apenas sete municípios
inadimplentes
A responsabilidade das três esferas de governo e de
toda a comunidade para o êxito do programa de alimentação escolar
foi abordada por Daniel Silva Balaban, presidente do Fundo Nacional
para o Desenvolvimento da Educação (FNDE). Ele disse que o programa
tem ênfase nos 1.242 municípios brasileiros com menor índice
educacional, e que é preciso aprofundar a análise para entender como
alguns municípios ricos têm educação deficiente, e municípios muito
pobres são capazes de apresentar índices melhores do que os de
países da Comunidade Européia.
Balaban destacou o valor do voluntariado e disse
que o Programa de Alimentação Escolar é um programa de
desenvolvimento comunitário escolhido pelas Nações Unidas como
exemplo a ser seguido pelos países em desenvolvimento. Segundo ele,
apenas sete municípios mineiros estão inadimplentes com suas
prestações de contas.
A revelação do dirigente preocupou Virgínia Lima
Pires, do Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável
de Minas Gerais (Consea-MG). Para ela, é um "pecado" tratar
alimentação escolar como "merenda", já que esse conceito permite que
seja suprimida por qualquer razão, inclusive a inadimplência
mencionada por Balaban. Para Virgínia, o direito à alimentação não
pode ser cerceado sob nenhum pretexto. Élido Bonomo, presidente do
Conselho de Alimentação Escolar de Minas Gerais disse que o programa
tem que qualificar e atender as demandas nutricionais da comunidade
escolar, incluindo uma dieta rica em cálcio e vitaminas, que estaria
faltando.
A secretária de Estado de Educação, Vanessa
Guimarães, recordou a época do leite em pó doado pela Aliança para o
Progresso, que era insolúvel e demandava muita energia das
cantineiras para que pudesse ser convertido em líquido para
alimentação das crianças. Vanessa lembrou ainda do sistema de
compras centralizadas, que acarretava preços altos e demora para
chegar às escolas mais remotas. "A ruptura com esse modelo teve
efeitos extraordinários. Hoje temos gestores muito eficientes à
frente da maioria das escolas, fazendo milagres com os R$ 0,22
per capita que recebem para alimentação escolar", disse ela.
A secretária de Educação reconheceu que há casos de
corrupção tanto na alimentação como no transporte escolar, mas que
esses episódios perdem espaço à medida que se aperfeiçoa o controle
social sobre o benefício. Disse ainda esperar dois resultados do
ciclo de debates: aperfeiçoamento da gestão do programa e a mudança
da cultura da alimentação escolar, para que se torne mais amigável
com a saúde das pessoas e do planeta.
Compuseram a mesa ainda o presidente da Comissão de
Educação, deputado Deiró Marra (PR), o presidente da Comissão de
Participação Popular, André Quintão (PT), e o representante da
Secretaria de Estado de Saúde, Benedito Scaranci Fernandes. Da
platéia, acompanharam os debates dos deputados Carlin Moura (PCdoB),
Elisa Costa (PT), Domingos Sávio (PSDB) e Padre João (PT).
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