Violência contra jovens leva deputados à Pedreira Prado
Lopes
Denúncias de violência policial e entre jovens
levaram dois deputados da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia
Legislativa de Minas Gerais à Pedreira Prado Lopes, em Belo
Horizonte, na tarde desta terça-feira (16/10/07). Os deputados
Durval Ângelo (PT), presidente da Comissão, e João Leite (PSDB),
autor do requerimento, atenderam ao chamado do pastor Marcelo
Crescêncio de Oliveira, e realizaram audiência pública com outros
convidados e autoridades numa sala de aula da Casa da Paz.
João Leite relatou que a Pedreira cumpriu um papel
importante na história da capital mineira, porque ali residiram os
trabalhadores que construíram a cidade, e se disse assustado ao
tomar conhecimento da violência que assola aquela comunidade. O
deputado falou sobre bons atletas que haviam nascido ali e defendeu
o esporte como meio para retirar as crianças das ruas e os jovens da
criminalidade. "Os filhos rebeldes precisam obedecer aos pais",
disse ele.
O padre François Marie Lewden se queixou da escassa
divulgação da reunião, que tinha resultado em ausências importantes,
mas enumerou três graves problemas que conseguiu priorizar em muitos
anos como morador da favela. Em primeiro lugar, disse que "a
gravidez precoce é a primeira violência porque gera crianças que
nascem sem ser desejadas ou amadas". Em segundo, defendeu o direito
à moradia, que, embora garantido pela Constituição, ainda não entrou
na cabeça dos favelados. Em 17 anos, a Pedreira saltou de 6,5 mil
para mais de 11 mil moradores. Em terceiro, afirmou que no Brasil as
leis que se aplicam aos bairros elegantes não se aplicam às favelas,
onde ocorrem a todo momento arbitrariedades contra o cidadão e
invasão de domicílio sem mandado judicial.
Moradores querem escapar do mundo das
drogas
O pastor Marcelo trabalha ali há dois anos e
garante que a maioria dos moradores é de gente honesta e
trabalhadora e que mesmo aqueles que passaram a usar drogas querem
sair dessa vida, se lhes forem oferecidas oportunidades. Ele disse
que a Casa da Paz, onde recentemente foi construída uma quadra para
dar aulas de esporte a 30 crianças das 14h às 18h30, tinha essa
proposta de oferecer uma perspectiva de vida diferente.
O subsecretário de Políticas Antidrogas, Cloves
Benevides, disse que os favelados já nascem carimbados como
inferiores, mas "ninguém nasce bandido. Nasce excluído". Benevides
explicou que todos os modelos bem-sucedidos de recuperação de
sociedades vítimas de violência surgiram do debate aberto com as
comunidades.
Moradores, coordenadores de serviços de atenção a
drogados e líderes comunitários se sucederam ao microfone,
apresentando denúncias ou relatando injustiças sofridas por eles ou
seus parentes e vizinhos. Glauciene Ribeiro disse que o tráfico
começa com os meninos de 12 anos porque as mães não conseguem lhes
dar o que desejam. "A polícia entra em nossas casas batendo em todo
mundo, até nas mulheres. Se não podemos confiar na proteção
policial, vamos confiar em quem? Nos bandidos?", indaga ela.
Jairo Nascimento Moreira relatou uma chacina
ocorrida no dia 8, em que homens encapuzados enfileiraram vários
rapazes e executaram três deles. Nuno José Sabino concordou que a
chacina foi tragédia anunciada. Padre François informou que
policiais armados de metralhadora invadiram sua igreja e retiraram
um jovem à força em plena missa. Nilson Tavares denunciou que
policiais militares cobraram uma propina de R$ 4 mil para soltar
rapazes presos numa batida.
Providências - O deputado
Durval Ângelo fez várias perguntas para apurar melhor a questão da
propina e assegurou aos moradores que ninguém tem o direito de
invadir domicílio alheio a qualquer hora sem mandado judicial. Ele
prontificou-se a apresentar as denúncias aos juízes da Justiça
Militar na próxima quinta-feira, e exigir que todo policial em
serviço exiba a tarjeta de identificação no uniforme.
Outra medida que o deputado anunciou é a defesa da
Casa da Paz, que estaria ameaçada de demolição pela Prefeitura, para
ampliar a rua Guapé. "Se a Prefeitura tiver mesmo que derrubá-la,
que arranje outro local para seu funcionamento. O deputado João
Leite também insistiu com os moradores para resistir à invasão de
suas casas e ofereceu-se para lutar por novos e melhores
equipamentos sociais e esportivos para a Pedreira Prado Lopes.
Presenças: Deputados Durval
Ângelo (PT), presidente, e João Leite (PSDB).
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