Deputados pedem apoio enérgico à causa dos
quilombolas
A Comissão de Direitos Humanos da Assembléia
Legislativa de Minas Gerais, o Ministério Público, as defensorias
públicas, o Incra-MG e a Secretaria de Estado de Desenvolvimento
Social (Sedese) decidiram unir esforços para combater a violência
contra quilombolas e promover a regularização das terras que ocupam.
Em audiência pública realizada na tarde desta segunda-feira
(08/10/07), no Teatro da Assembléia, sob a presidência do deputado
Durval Ângelo (PT), foram colhidos relatos de injustiças sofridas
pelos descendentes de escravos e atualizadas as informações sobre o
andamento do resgate da dívida social que o Governo tem para com a
comunidade negra.
O presidente da Comissão abriu a audiência
esclarecendo que há quatro meses os deputados foram a Janaúba para
intervir num conflito de posse de uma área reivindicada por
quilombolas na comunidade de Brejo dos Crioulos. "Os quilombolas
estiveram sob ataque de pistoleiros contratados por fazendeiros e
sofreram violência por parte da Polícia Militar, que deveria
socorrê-los. Resultaram dois feridos à bala nesse confronto",
relatou Durval Ângelo.
O deputado petista foi à Corregedoria da PM
juntamente com os deputados João Leite e Mauri Torres, ambos do
PSDB, para reivindicar que a corporação não aja de forma arbitrária,
que sempre esteja escudada por um mandado judicial, e que, mesmo em
caso de mandado de reintegração de posse, que haja diálogo e
acompanhamento por parte de entidade de Direitos Humanos.
O procurador de Justiça Afonso Henrique de Miranda
Teixeira relatou que, no conflito do Brejo dos Crioulos, havia
mandado de reintegração de posse, porém de juiz federal, que deveria
utilizar um oficial de Justiça, o qual poderia requerer respaldo da
Polícia Federal. "A decisão do juiz foi apoiada num laudo de um
servidor do Instituto Estadual Federal (IEF-MG), que contrasta com
laudos do Ibama e do Incra. Tomamos todas as medidas no âmbito do MP
contra esse servidor, que teria notória ligação com fazendeiros da
região", informou Miranda Teixeira.
Policiais militares agiram como capitães-do-mato de
antigamente
"Fomos muito criticados porque dissemos que a PM
agiu no Brejo dos Crioulos como os antigos capitães-do-mato. Não
estávamos nos referindo a toda a corporação, mas àquele grupo que
agiu exatamente de forma arbitrária e parcial", disse o deputado
Durval Ângelo.
O gestor de regularização de territórios
quilombolas do Incra-MG, Antônio Carlos da Silva, relatou que,
apoiado no Decreto 4.887, de 2003, o órgão está atuando em 11
comunidades. O trabalho mais adiantado é o do Brejo dos Crioulos,
envolvendo 17 mil hectares na junção entre três municípios. Já foram
vistoriadas as fazendas Bonanza, Vista Alegre, Arapuá e Morro Preto,
para serem adquiridas ou desapropriadas. Silva relatou também outras
iniciativas em Paracatu e no Gorutuba, mas queixou-se de que dispõe
apenas de quatro auxiliares para todo o serviço.
O subsecretário de Direitos Humanos da Sedese, João
Batista Oliveira, informou que sua área firmou convênio com a
Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa (Fundep/UFMG) para
desenvolvimento de metodologia para elaboração de laudos
antropológicos destinados ao reconhecimento de todos os quilombos de
Minas Gerais, e que 17 comunidades já foram pesquisadas. Em 2008
pretendem ampliar o número para 40.
O presidente do Conselho Estadual do Negro,
Willimam Hestefany da Silva, disse que, agora, o fazendeiro
envolvido no conflito em que dois quilombolas foram baleados agora
quer negociar com o Incra. Ele lamentou que o órgão não tenha
capacidade de gastar todo o dinheiro que recebe para assentamento,
tendo devolvido cerca de R$ 1 milhão a Brasília.
Maria Luzia Sidone, da comunidade dos Luízes, pediu
que esse dinheiro fosse distribuído em bolsas de estudos para os
estudantes negros pobres e introduziu a questão dos quilombos
urbanos, que não são reconhecidos. Ela disse que sua comunidade
ocupa uma área no bairro Grajaú, negociada em 1895 com os donos da
Mina de Morro Velho. "Estamos ali desde antes dos cartórios, e
nossos líderes são assassinados impunemente, porque os quilombos
urbanos não têm existência reconhecida. Ninguém fala dos cabulas de
Caeté, que até hoje carregam cântaros na cabeça", desabafou.
Titulação de quilombos deve ser coletiva
Inúmeros outros representantes de comunidades
negras foram ao microfone apresentar queixas e reivindicações,
discursar em favor do resgate da dívida social com os descendentes
dos escravos e pedir políticas compensatórias e ações reparativas.
Defensores públicos e antropólogos presentes na platéia apoiaram
essas manifestações e estabeleceram um erro estratégico que estaria
sendo cometido de boa-fé pelo Instituto de Terras (Iter-MG), ao
titular individualmente as áreas quilombolas. A lógica da existência
dos quilombos é a do trabalho comunitário e da propriedade coletiva.
Um dos grandes embaraços à titulação é de que os critérios são
antropológicos e abstratos.
O deputado João Leite pediu reação firme e apoio
integral ao Incra-MG para que as coisas aconteçam na velocidade
necessária e dêem o resultado devido. "Estou encarregado de preparar
um relatório sobre a situação dos descendentes de escravos no
Brasil, sob encomenda dos reis da Nigéria. Receberemos em breve uma
comissão de parlamentares daquele país e gostaria de ter algo
concreto para relatar-lhes", explicou o deputado.
Requerimentos: Foram
aprovados quatro requerimentos na audiência. O primeiro deles propõe
a realização de um seminário sobre Justiça Restaurativa, juntamente
com a Subsecretaria de Direitos Humanos da Sedese. O segundo propõe
homenagem na Escola Sindical ao Padre Enrico Giusti, considerado um
campeão dos Direitos Humanos, recentemente falecido. O terceiro pede
o encaminhamento ao IEF-MG, à Defensoria Pública e ao Ministério
Público solicitação de providências contra o laudo falso emitido por
funcionário do IEF que embasou decisão errônea do juiz federal no
caso de Brejo dos Crioulos. Esses requerimentos foram apresentados
pelo deputado Durval Ângelo. O quarto, de autoria do deputado João
Leite, requer debate sobre a situação dos moradores do bairro Jardim
Colonial, de Ribeirão das Neves, e que a TV Assembléia faça imagens
do local para subsidiar a reunião.
Presenças: Deputados Durval
Ângelo (PT), presidente; João Leite (PSDB) e Antônio Carlos Arantes
(PSC).
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