Comissão debate abusos de empresas de cartões de crédito

Abusos cometidos por empresas de cartões de crédito, como juros abusivos, dificuldades para o cancelamento do serviço...

02/10/2007 - 00:00
 

Comissão debate abusos de empresas de cartões de crédito

Abusos cometidos por empresas de cartões de crédito, como juros abusivos, dificuldades para o cancelamento do serviço e cobrança de seguro, foram destacadas por representantes de órgãos de defesa do consumidor e pelos deputados que participaram de audiência pública da Comissão de Defesa do Consumidor e do Contribuinte da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, nesta terça-feira (2/10/07). Representantes das empresas de cartões de crédito afirmaram que estão elaborando estudos para desenvolver soluções para a maior parte dos problemas enfrentados pelos consumidores.

A advogada da Associação Nacional dos Consumidores de Crédito (Amdec), Lilian Salgado, disse que a grande preocupação é o aumento do interesse das empresas de cartões de crédito com os consumidores de baixa renda. Segundo ela, o número de usuários de baixa renda de cartões de crédito está aumentando e as empresas têm como objetivo atrair cada vez mais consumidores com esse perfil. "Atualmente não é necessário apresentar mais comprovante de renda para adquirir um cartão de crédito", destacou. De acordo com a economista Adriana Filleto, hoje existem 15 milhões de cartões de crédito no Brasil e 29 milhões de famílias de baixa de renda. "As empresas esperam crescer nesse nicho do mercado", afirmou.

Adriana Filleto criticou ainda a taxa de juros que é cobrada pelos cartões de crédito. Segundo ela, cálculos indicam que se durante um ano o consumidor fizer apenas o pagamento mínimo, ele irá pagar ao final quatro vezes o valor da dívida. "É um dos financiamentos mais caros do mundo e as pessoas não entendem que estão endividas", destacou. Nesse sentido, o assessor do Procon Assembléia, Alexandre Werneck, lembrou o destaque que é dado nas faturas de cartão de crédito ao pagamento mínimo, sem explicar ao consumidor que é uma dívida que ele está contraindo.

Código de ética - A assessora jurídica da Associação Brasileira de Empresas de Cartões de Crédito, Nair Assis, informou que atualmente várias empresas responsáveis pela emissão dos cartões encontram-se associadas e devem cumprir o código de ética da associação. Segundo ela, existe um grupo de estudos em permanente contato com os órgão de defesa do consumidor, que em breve irá apresentar soluções para a maior parte dos problemas enfrentados pelos consumidores. Nair Assis também afirmou que a associação procura divulgar os direitos dos proprietários dos cartões de crédito, através de uma cartilha.

Deputados criticam dificuldade de cancelamento e cobrança de seguro

A dificuldade enfrentada por consumidores para o cancelamentos dos cartões e a cobrança de seguro sem ser solicitado também foram abordadas na reunião. O presidente da comissão, deputado Délio Malheiros (PV), lembrou que, para cancelar o serviço por telefone, os consumidores muitas vezes são colocados em espera telefônica. "O consumidor é vencido pelo cansaço", destacou.

Ele sugeriu aos representantes das empresas que seja disponibilizado um telefone para o cancelamento, ou então, que no atendimento eletrônico seja incluído um item para cancelamento. Délio Malheiros também pediu que as empresas passem a informar o endereço físico para que os consumidores possam encaminhar solicitações de cancelamento.

O autor do requerimento para realização da reunião, deputado Célio Moreira (PSDB), questionou os representantes das empresas de cartões de crédito sobre a cobrança de seguro sem a devida solicitação do consumidor. O vice-presidente da comissão, deputado Carlos Pimenta (PDT), afirmou que no Brasil existe um estímulo muito grande para o consumo, mas que o consumidor, especialmente o de baixa renda, não é preparado para enfrentar as armadilhas do mercado. Ele defendeu o desenvolvimento de campanhas de conscientização do consumidor.

Nair Assis informou que todas as sugestões dadas pelos deputados serão encaminhas para a Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito. Segundo ela, no caso da cobrança do seguro, já existe uma recomendação para que as empresas ofereçam o seguro em uma fatura separada, que, se não for paga pelo consumidor, não deverá ser novamente enviada.

Venda casada de produtos e financiamento também são debatidos

Na reunião foram ainda debatidas outras dificuldades enfrentadas pelos consumidores como a venda casada de produtos e abusos praticados na oferta de financiamento e crédito consignado. O deputado Célio Moreira explicou que, apesar de ser proibida a venda casada de produtos pelo Código de Defesa do Consumidor, é uma prática bastante comum. Ele citou vários exemplos como empresas de internet que atrelam a compra do serviço ao provedor. "Se a legislação já proíbe essa prática, está faltando fiscalização do Poder Público, além de campanhas de conscientização do consumidor", afirmou.

Já o deputado Antônio Júlio (PMDB) criticou a oferta de crédito consignado aos aposentados. Ele afirmou que o crédito consignado não beneficiou os aposentados, mas o sistema financeiro. Segundo ele, muitas vezes, a pensão dos aposentados está sendo retida pelos bancos para pagamento das dívidas. Antônio Júlio defendeu a criação de um movimento nacional com o objetivo de alterar a forma como os créditos estão sendo concedidos. A advogada da Amdec, Lilian Salgado, afirmou que a associação já entrou com várias ações na Justiça contra a retenção das pensões dos aposentados e de salários para o pagamento de dívidas. "O que os bancos estão fazendo é confisco", destacou.

O assessor do Procon Assembléia, Alexandre Werneck, destacou que atualmente 50% dos atendimentos feitos pelo órgão são referentes a problemas de endividamento do consumidor. Para ele, as empresas que oferecem financiamento muitas vezes, no momento da abordagem, já cometem abusos, induzindo o consumidor a contrair um empréstimo. "Uma modificação importante que deveria ser feita na legislação é a inserção de um prazo de arrependimento para o consumidor que contraiu o empréstimo poder solicitar seu cancelamento sem prejuízo", afirmou.

Requerimentos - Foram aprovados dois requerimentos do deputado Célio Moreira. O primeiro solicita que Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e o Banco Central envie informações sobre os valores que são arrecadados mensalmente com a cobrança do seguro. O segundo pede o envio de ofício à Comissão de Defesa do Consumidor da Câmara dos Deputados para a realização de audiência pública com os deputados estaduais para debater as praticas abusivas apontadas na reunião.

Presenças - Deputados Délio Malheiros (PV), presidente da comissão; Carlos Pimenta (PDT), vice-presidente; Antônio Júlio (PMDB) e Célio Moreira (PSDB); e, além dos convidados já citados, o advogado da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito, João Capanema; a diretora do Movimento das Donas de Casa e Consumidores, Solange Medeiros de Abreu; e os representantes da Câmara dos Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte, Isabela Pinheiro Lemos e Edilson Cruz.

 

 

 

 

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