ALMG deve reavaliar texto de lei sobre empréstimo consignado

A revisão dos critérios para concessão dos empréstimos consignados é primordial. Essa foi uma das conclusões da audiê...

26/09/2007 - 00:00
 

ALMG deve reavaliar texto de lei sobre empréstimo consignado

A revisão dos critérios para concessão dos empréstimos consignados é primordial. Essa foi uma das conclusões da audiência pública da Comissão de Defesa do Consumidor e do Contribuinte da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, nesta quarta-feira (26/9/07), que discutiu os empréstimos consignados para aposentados e os realizados por meio eletrônico em bancos. Durante a reunião foi sugerida a revisão da Lei 15.025/04, que dispõe sobre o crédito consignado. "Sabemos que as conseqüências atingem não só os aposentados, mas suas famílias", comentou o presidente da comissão, deputado Délio Malheiros (PV).

O autor do requerimento foi o deputado Célio Moreira (PSDB), que disse ter recebido denúncias de aposentados e pensionistas que se dizem vítimas de empresas e bancos que oferecem empréstimos sedutores sem informar ao certo as taxas e as condições de pagamento, o que gera o endividamento dos clientes.

Um deles foi o policial civil aposentado Maurício Gonçalves Moura, de 76 anos, presente à audiência. Segundo ele, em setembro de 2006, um funcionário do Banco Itaú, onde recebe seu pagamento, sugeriu o saque de cerca de R$ 2.000, sem mais esclarecimentos, só dizendo que o dinheiro estava disponível. Mais de um ano depois, Maurício conta que já pagou pelo menos R$ 7.000 ao banco e que do salário de R$ 1.666,43, recebeu apenas R$ 430. "Estou tomando tranqüilizantes. Luto há seis meses para resolver esse problema. Daqui a pouco vou precisar pedir esmola", disse indignado.

"A vulnerabilidade potencial do idoso, sobretudo o carente financeiramente, abre caminho e torna essas pessoas alvo de propagandas de instituições financeiras que oferecem empréstimos que 'solucionam os problemas do aposentados' e acabam induzindo a iniciativa", falou Célio Moreira. Segundo ele, outros problemas se somam, como a chamada venda casada, de seguros de vida, por exemplo, a falta de contratos ou contratos com redação confusa. "O poder judiciário já condenou algumas instituições, na tentativa de coibir práticas abusivas", comentou.

Procon tem notificado instituições que cometem abusos

Segundo o coordenador do Procon Assembléia, Marcelo Rodrigo Barbosa, a entidade está agindo firmemente em relação ao tema e que já foi criado, em outubro de 2006, o núcleo de orientação ao consumidor endividado. "Hoje, são mais de 20 milhões de operações de empréstimos consignados, que totalizam R$ 22 bilhões em circulação", informou. Segundo ele, desde que o Estado permitiu o crédito consignado tudo "virou uma grande festa, e a culpa é dos bancos". "Em relação ao Banco Central, não vou nem entrar no assunto. São várias as resoluções que vão contra o código de defesa do consumidor", argumentou.

A economista do Procon da Câmara Municipal, Adriana Fileto, apresentou vários dados para subsidiar o debate. "Cerca de 62% dos créditos consignados concedidos são para pessoas que recebem até dois salários mínimos. O IBGE diz que essas pessoas precisam de pelo menos 95% da renda para sobreviver, enquanto que os bancos podem retirar até 30% dos salários para pagamento das parcelas do empréstimo. É preciso uma análise criteriosa por parte dos bancos antes da concessão de créditos", pediu. Segundo ela, outra questão séria é a falta de clareza nos contratos ou, até mesmo, a falta de contratos.

Conscientização - Uma campanha maciça de conscientização foi sugerida pelo diretor operacional da Regional Sudeste da Associação Nacional dos Consumidores de Crédito, Samuel Rengel Nunes. "Os órgãos públicos precisam promover uma campanha sobre crédito consciente. Hoje, além do crédito consignado, para emprestar dinheiro, os bancos também se valem de débitos diretos, e isso não tem limite. O servidor pode ter até 100% do seu salário comprometido", contou. Ludibriados pelo crédito fácil, os consumidores não analisam as formas de pagamento do empréstimo, seus juros e como isso comprometerá seu rendimento, o que facilita a ações abusiva das instituições.

Ouvidoria - "Se bem utilizado, o crédito consignado auxilia o acesso ao crédito mais barato", disse o gerente administrativo do Banco Central/MG, Antero de Morais Meireles. "Não tem sentido para nós admitir que bancos façam operações de crédito que não serão honradas. Da mesma forma, nos preocupamos com a situação das pessoas atingidas", comentou. Ele informou que a obrigatoriedade da criação de ouvidorias nos bancos, ainda este ano, vai facilitar a relação com o consumidor, e que o Banco Central também desenvolve um programa de educação financeira, com o objetivo de esclarecer o consumidor brasileiro em relação ao tema.

O diretor técnico da Associação de Bancos do Estado de Minas Gerais, Alacir Ribeiro Antônio Filho, avisou que a associação somente representa bancos com sede em Minas Gerais e que a Febraban contribuiria melhor com a reunião. Ele não apresentou dados, nem esclarecimentos durante a discussão.

Deputados vão pedir revisão de lei aprovada em 2004

O presidente da ONG Orgapol, Cláudio Vilaça, lembrou que há três anos a Assembléia aprovou projeto de lei sobre consignação em folha para os servidores do Estado, hoje Lei 15.025/04. "Sugiro que a comissão faça uma revisão dessa lei, que teve uma tramitação meteórica. Nela, não há mecanismos de proteção ao consumidor", argumentou. O deputado Antônio Júlio (PMDB) comentou que, na época, foi o único deputado a falar contra o projeto. "Previ todo esse problema, falei contra. Hoje, no interior, o comércio está quebrando, porque depende do dinheiro dos aposentados, que está ficando nos bancos", afirmou.

O deputado Délio Malheiros disse que na ocasião, atuando como advogado, fez artigo para o jornal Folha de S. Paulo também contra esse tipo de crédito financeiro. Ao final da reunião, foram aprovados cinco requerimentos. O primeiro solicita ao Banco Central informações sobre as providências que têm sido tomadas junto às instituições financeiras para coibir o abuso da prática de empréstimos consignados para pensionistas e aposentados e os resultados obtidos. O segundo pede ao Procon Estadual e à Delegacia de Defesa do Consumidor providências para coibir a oferta de crédito, por parte das instituições por meio de abordagem em vias públicas.

Também foi solicitada a promoção de estudos, pela Gerência de Consultoria da ALMG, para alteração da Lei 15.025/04. Délio Malheiros e Célio Moreira solicitaram, ainda, realização de audiência pública para discutir os problemas enfrentados pelos consumidores de planos e seguros de saúde e envio de apelo à Secretaria de Estado da Fazenda para que seja incluída, no novo contrato a ser firmado com as instituições financeiras responsáveis pela folha de pagamento do Estado, cláusula que imponha às mesmas, obrigação de não reter a remuneração ou proventos dos servidores ativos e aposentados, em razão de operações de crédito, salvo nos limites de 30% autorizados em lei.

Presenças - Deputados Délio Malheiros (PV), presidente; Célio Moreira (PSDB) e Antônio Júlio (PMDB). Além dos convidados citados acima, estiveram presentes o presidente da Federação dos Aposentados e Pensionistas de Minas Gerais, Robson de Souza Bittencourt; e o superintendente da Associação de Bancos do Estado de Minas Gerais, Marcelo Cota.

 

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