| Audiência sobre emigração tem presença de família de Jean 
            Charles O brasileiro que vai morar no exterior, em geral, 
            tem emprego, mas está atrás de condições melhores de trabalho e 
            renda. A afirmação foi uma unanimidade entre os presentes na 
            audiência pública da Comissão do Trabalho, da Previdência e da Ação 
            Social da Assembléia Legislativa de Minas Gerais nesta quarta-feira 
            (19/9/07), solicitada pela deputada Elisa Costa (PT). A falta de 
            oportunidades no Brasil foi a principal causa citada pelos 
            convidados para o grande volume de emigração, sobretudo na região do 
            Vale do Rio Doce, em Minas Gerais. A audiência foi dedicada aos 
            familiares do mineiro assassinato em Londres, Jean Charles de 
            Menezes, que estavam presentes. Elisa salientou que é preciso movimentação para 
            incluir o Vale do Rio Doce em um novo projeto do Governo Federal 
            chamado Território da Cidadania, multiministerial, que prevê um 
            conjunto de ações para o desenvolvimento regional. O programa já 
            inclui os vales do Mucuri e do Jequitinhonha. De acordo com a 
            deputada, serão encaminhados ofícios à Secretaria de Estado de 
            Desenvolvimento Econômico, ao Ministério de Relações Exteriores e a 
            outros ministérios referentes a duas questões: o acompanhamento do 
            caso Jean Charles e o projeto de desenvolvimento integrado dos vales 
            do Mucuri, do Jequitinhonha e do Rio Doce. Estavam presentes seu irmão Giovani e seus pais, 
            Matosinhos Otoni da Silva e Maria Otoni de Menezes, além do amigo da 
            família Elionaldo da Silva, que mora em Londres e tem acompanhado o 
            caso. "Jean saiu porque procurava melhorar de vida, o que não 
            conseguia aqui. Tentou futuro melhor e foi morto por engano como 
            terrorista". Elionaldo questionou a falta de participação do governo 
            brasileiro no acompanhamento do caso. "Gostaria que vocês, com a 
            força política que têm, fizessem algo por nós", pediu aos deputados 
            presentes. "Vivemos ainda em um país injusto. Todo esse 
            assunto é uma grande preocupação para nós", afirmou o deputado 
            Antônio Carlos Arantes (PSC). Ele elogiou Elisa Costa pela 
            iniciativa da reunião. O deputado Jayro Lessa (DEM) questionou a 
            falta de representantes do governo. "A realidade é que o emigrante é 
            deixado de lado", disse. Elisa explicou que a audiência pretendeu 
            colher subsídios para posteriores encaminhamentos. O deputado Carlin Moura (PCdoB), que tem família 
            nascida na cidade de Gonzaga, onde mora a família de Jean Charles, 
            lembrou que vários ciclos migratórios já ocorreram na região. 
            "Começou com a crise do café. Na época, meu pai nos levou para 
            Virginópolis. Logo depois, os filhos saíram para as capitais, para 
            estudar. Agora, o foco são os países estrangeiros", disse. 
            "Precisamos criar projetos de desenvolvimento. Governador Valadares, 
            por exemplo, não tem indústria", comentou. Ele cobrou uma postura 
            mais firme do governo em relação ao acompanhamento do caso Jean 
            Charles e fez um apelo ao governador e ao diretor do DER para 
            completar os 18 km de estrada entre Divinolândia e Gonzaga.  Amarildo Barbosa, que vive há 10 anos em Boston, 
            nos Estados Unidos, definiu-se como um exilado econômico e afirmou 
            que muitos brasileiros devem voltar ao Brasil depois do arquivamento 
            da lei sobre legalização nos Estados Unidos. "Parte da crise 
            imobiliária americana tem, com certeza, relação com o recuo do 
            investimento de imigrantes em casa própria. Eles estão saindo do 
            país e as cidades que antes eram "fantasmas" voltarão a ser", 
            argumentou. Maioria do emigrantes volta doente ao 
Brasil A organização social pode modificar a realidade 
            social. É no que acredita o coordenador do Centro de Informação, 
            Apoio e Amparo à Família e ao Trabalhador no Exterior (Ciaat), 
            Antônio Carlos Linhares Borges, e sua equipe. Ele apresentou as 
            ações da entidade, que promove projetos com o objetivo de intervir e 
            melhorar a realidade social e econômica de Governador Valadares e 
            que já estão sendo estendidos a outros oito municípios, como 
            incubadoras de cooperativas, projetos de identidade cultural, e 
            apoio ao empreendedorismo. O diagnóstico que deu base ao trabalho do Ciaat foi 
            apresentado pela pesquisadora do Núcleo de Estudos Multidisciplinar 
            sobre Desenvolvimento Regional da Univale, professora Sueli 
            Siqueira. Segundo os dados, 54% das famílias visitadas têm parentes 
            no exterior. Cerca de 67% dos responsáveis pelo domicílio eram do 
            sexo feminino e 65% têm escolaridade até o ensino fundamental. "Um 
            dado novo, ou seja, que nunca apareceu em pesquisas sobre o tema, é 
            que muitos emigrantes voltam doentes. Também apareceu o problema do 
            endividamento da família para custear a viagem, o que faz com que 
            ela seja praticamente refém dos credores", informou.  O pesquisador da Faculdade de Geociências da UFMG, 
            professor Weber Soares, apresentou pesquisa sobre aspectos 
            econômicos da emigração. Os dados indicam que raramente os recursos 
            financeiros enviados ao Brasil são utilizados com propósitos 
            produtivos. "Estima-se que os emigrantes enviam de U$ 1,2 a U$ 4,1 
            bilhões aos familiares, sendo 76% desse valor para a família. "Acreditamos que desenvolvimento regional também 
            será social quando inserir a comunidade local. É preciso atuar na 
            perspectiva da população local", destacou o pesquisador do Plano de 
            Integração da UFMG no Vale do Jequitinhonha (Cedeplar), professor 
            Roberto Nascimento. Ele apresentou alguns dados qualitativos de uma 
            pesquisa feita com base em entrevistas realizadas nas 56 cidades da 
            região. "Os projetos de desenvolvimento precisam ser feitos a partir 
            da aspiração do povo: escutar, reunir, organizar, para só então 
            implantar", salientou. Presenças - Deputada Elisa 
            Costa (PT), deputados Antônio Carlos Arantes (PSC), Carlin Moura 
            (PCdoB) e Jayro Lessa (DEM), e o prefeito de Gonzaga, Júlio Maria de 
            Souza.   
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