Direitos Humanos constata irregularidades em presídio de Neves

Com menos de dois anos de construção, o presídio regional Inspetor José Martinho Drumond, em Ribeirão das Neves, já a...

19/09/2007 - 00:00
 

Direitos Humanos constata irregularidades em presídio de Neves

Com menos de dois anos de construção, o presídio regional Inspetor José Martinho Drumond, em Ribeirão das Neves, já apresenta rachaduras nas paredes, vazamentos nas tubulações de água e esgoto, infiltrações e diversos outros problemas estruturais, além de superlotação. A obra custou R$ 24,5 milhões aos cofres estaduais e foi inaugurada em 1º de fevereiro de 2006. A Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa de Minas Gerais visitou o presídio nesta quarta-feira (19/9/07) para conferir as irregularidades, que têm deixado apreensivos representantes do Poder Judiciário e agentes de segurança do município. Com capacidade para abrigar 820 detentos, a unidade prisional conta atualmente com 1.333.

"Tudo isso é um desrespeito", resumiu o deputado Durval Ângelo (PT), presidente da Comissão após a visita, requerida por ele e pela deputada Gláucia Brandão (PPS). Durval entrou nas galerias onde estão as tubulações e viu os corredores repletos de poças d'água e paredes encharcadas. Usando uma caneta de plástico, o deputado conseguiu abrir um buraco na parede que divide uma das galerias às celas, comprovando a baixa qualidade do material usado na construção.

Desperdício - A visita foi acompanhada por três promotores de Justiça de Ribeirão das Neves. Segundo a promotora Luciana Kellen Santos Guedes, a conta de água do presídio, que não deveria passar de R$ 70 mil por mês, chega a R$ 150 mil. "É um desperdício do dinheiro público", classificou. Para piorar a situação, esses vazamentos fazem com que, em muitos momentos, os presos fiquem sem água nas torneiras. Além disso, os promotores mostraram ao deputado que a Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) do presídio, que custou R$ 700 mil, nunca funcionou.

O promotor de Direitos Humanos da Comarca de Ribeirão das Neves, Fabrício Marques Ferragine, informou que já foi ajuizada contra o Estado uma ação civil pública, na qual é exigida a demolição do presídio. Além dos problemas estruturais, ele conta que a obra foi feita sem licenciamento ambiental, que é concedido pelo Instituto Estadual de Florestas, e sem a autorização do Ibama, uma vez que a construção se deu em área remanescente da Mata Atlântica.

Um dos agentes penitenciários que acompanharam a visita se disse preocupado com a própria segurança, pois a irritação dos detentos pode se transformar em uma rebelião a qualquer momento. Segundo o diretor do presídio, Gaubete Warleson Dinis Rocha, há apenas 50 agentes para cuidar dos presos, o que dá uma relação de 18 detentos por agente. O número ideal, segundo ele, seria de cinco detentos para cada dois agentes.

Vara de Execuções também carece de pessoal

A falta de pessoal também preocupa o juiz da Vara Criminal e de Precatórios Criminais de Ribeirão das Neves, Haroldo José Toscano de Oliveira. Ele conta com apenas cinco funcionários para dar andamento a 3.775 processos que aguardam sentença. Esses processos, em sua maioria, tratam de benefícios aos presos, como concessão de regime semi-aberto ou mesmo extinção da pena. O atraso, segundo a promotora Luciana Guedes, chega a um mês. No caso de um detento, esse atraso não pode ser de nem um dia, avalia ela. "Se os benefícios não são concedidos no tempo devido, o presídio acaba se transformando em uma panela de pressão", alertou o juiz Haroldo Oliveira. Segundo ele, não se trata mais de falar em risco de rebelião, mas sim de quando ela ocorrerá. Seu temor é que haja uma nova tragédia como a ocorrida em agosto na cadeia pública de Ponte Nova, quando 25 presos morreram queimados.

Inchaço - Ribeirão das Neves atualmente abriga mais de 4 mil detentos. Até março do ano que vem chegarão mais 500 e outros 2.500 deverão ser transferidos para lá até o fim de 2008. Para todo esse volume de processos, só há um promotor de Justiça. "Se Ribeirão das Neves foi definida como depósito de presos, que nos seja dada a estrutura para trabalhar", reivindicou o juiz. Ele comparou a situação do município com a Capital, onde há quatro promotores de Justiça para 1.800 presos. Além disso, a Vara de Execuções Criminais de Belo Horizonte conta com 44 funcionários, departamento de psicologia e um setor específico de Defensoria Pública.

Todos esses problemas já foram encaminhados ao corregedor de Justiça, Francisco Bueno, e ao presidente do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, Orlando Adão Carvalho de Oliveira. Para tentar minimizar a deficiência, Haroldo Oliveira disse que implementou uma solução provisória, por meio da qual servidores estão fazendo horas extras na parte da manhã. "Mas trata-se de um esforço insignificante diante da demanda de processos", lamentou ele, que não tem perspectiva de melhoria da situação em curto prazo.

Presenças - Deputado Durval Ângelo (PT), presidente da Comissão. Além das autoridades citadas na matéria, participou também o promotor de Direitos Humanos Fabrício José da Fonseca Pinto.

 

 

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