Parlamentares querem desapropriação de prédio do Shopping Oi
Os deputados da Comissão de Assuntos Municipais e
Regionalização da Assembléia Legislativa de Minas Gerais vão sugerir
à Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), por meio de um requerimento, a
desapropriação do edifício do Shopping Oiapoque (Oi), localizado no
centro da Capital. A decisão foi tomada durante a reunião desta
segunda-feira (17/9/07), que debateu com representantes dos
lojistas, da PBH e da JAL Resende Costa Empreendimentos -
proprietária do edifício -, o aumento do valor dos aluguéis no
shopping e a iminente rescisão unilateral dos contratos de locação
das lojas e boxes. A audiência aconteceu a pedido dos deputados
Wander Borges (PSB), Weliton Prado (PT) e Ronaldo Magalhães (PSDB) e
da deputada Cecília Ferramenta (PT). O requerimento que pede a
desapropriação do imóvel deverá ser votado nas próximas reuniões da
comissão.
De acordo com o deputado Wander Borges, de 2003,
quando o shopping foi inaugurado, até hoje, os valores dos aluguéis
aumentaram de R$ 100 para R$ 300, e o empreendedor estaria pedindo
um reajuste que elevaria os preços para até R$ 1,5 mil. Isto geraria
um aumento de 1.400% no valor, no período. Segundo ele, nem no
shopping Pátio Savassi os preços são tão elevados, uma vez que, pelo
mesmo espaço, naquele empreendimento, são cobrados aproximadamente
R$ 700. "A PBH, que coordenou a ida dos então camelôs para o
shopping é co-responsável pela situação e parece estar sendo omissa
ao que vem acontecendo. O imóvel é privado, mas o interesse é
claramente público", afirmou o parlamentar.
O deputado Weliton Prado, presidente da Comissão de
Assuntos Municipais, também se indignou com a proposta de aumento de
preços. Para ele, as reclamações dos lojistas são pertinentes e o
reajuste é inviável. "Foge ao bom senso e não tem embasamento nem na
inflação, nem no Índice Geral de Preços, que poderiam servir de
parâmetro", reforçou.
A presidente da Associação de Economia Informal do
Canteiro, Rose Mary da Silva, lembrou que a negociação para a ida
dos camelôs para o Shopping Oi foi conduzida pela PBH, que teria
praticamente os obrigado a se instalarem no local. "Nós queríamos
outro local para trabalhar, mas não tivemos opção: ou entrávamos ou
ficaríamos ilegais. Não somos locatários comuns, fomos colocados ali
pela Prefeitura, e agora estamos correndo o risco de ser despejados.
Se a situação não for resolvida, voltaremos a trabalhar na rua",
enfatizou.
Contrato - O representante
da Associação Brasileira dos Advogados do Mercado Imobiliário, Kênio
Pereira, disse que o contrato firmado entre a JAL e os lojistas os
induziu ao erro, uma vez que dá a entender que o prédio é público e
não privado. Ele disse ainda que, segundo pesquisa realizada pela
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o valor do metro
quadrado no centro da cidade custa R$ 12, mas o cobrado no shopping
Oi chega a R$ 60. "O preço já é alto e o direito de propriedade que
condiciona a posse à sua função social está sendo violado. A PBH
deve e pode desapropriar o imóvel e dar a preferência da compra aos
inquilinos, que são os lojistas", afirmou. Ele lembra ainda que a
JAL pede um aumento de 400%, só esse ano, mas a inflação gira em
torno de 4%. "A revisão dos preços, conforme a lei do inquilinato,
só poderá ser feita em 2009, já que o último reajuste foi feito em
2006", concluiu.
Empreendedor considera reajuste abaixo do valor de
mercado
O proprietário da JAL Empreendimentos, dona do
imóvel, Mário Valadares Resende Costa, disse que o Shopping Oi não
se caracteriza como shopping popular, uma vez que nunca recebeu
sequer um centavo do poder público. Ele afirma que investiu sozinho
na compra do edifício e sempre teve uma postura paternalista com os
lojistas. Durante a reunião, ele relatou como foi feito o acordo com
os então camelôs para a instalação do centro comercial. "Eles
gastavam R$ 300 para se manterem nas ruas e o primeiro contrato de
aluguel foi de R$ 100. A administração do empreendimento foi passada
a eles, e hoje, as condições financeiras dos lojistas são muito
superiores às daquele período," disse.
Valadares afirmou ainda que os reajustes foram
acordados com os proprietários de lojas no shopping para
proporcionar melhorias no edifício e que, se o valor sugerido de
aluguel no centro é de R$ 12, o valor de mercado, cobrado na
prática, é outro. "Estamos pedindo um valor inferior a 7% da
arrecadação mensal dos lojistas, conforme é feito com os demais
shoppings da cidade. Somos um empreendimento 100% privado e nossa
postura sempre foi flexível e até paternalista", disse.
Os representantes dos proprietários de lojas no
local acusam a JAL de arbitrariedade, uma vez que foram distribuídos
documentos que condicionam a permanência no shopping ao pagamento do
novo valor de aluguel. "Há pessoas que ainda não sabem onde e como
vão trabalhar. Alguma coisa deve ser feita, mas falta vontade
política", disse o lojista Hélio Muniz.
PBH nega omissão
O gerente Regional de Centros de Comércio Populares
da PBH, Welton Malta, disse que o órgão coordenou com transparência
a ida dos camelôs para o Shopping Oi, de acordo com o Código de
Posturas, mas que sem a parceria público-privada com a JAL talvez o
local não fosse tão bem-sucedido. "Uma solução para ambas as partes
tem que ser encontrada, mas acredito que o confronto não seja o
melhor caminho. Espero que o shopping seja legalizado, regularizado
e profissionalizado. Todos os envolvidos podem contar com a
Prefeitura nesse processo", prometeu.
Ao final da reunião, a Comissão de Assuntos
Municipais aprovou requerimento, de autoria dos deputados Weliton
Prado, Ronaldo Magalhães e Wander Borges, para a realização de uma
visita ao Ministério Público Estadual, para verificar o conteúdo e
situação dos contratos relacionados aos shoppings populares em Belo
Horizonte.
Presenças - Deputados
Weliton Prado (PT), presidente; Ronaldo Magalhães (PSDB), vice; e
Wander Borges (PSB).
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