Familiares de vítimas de acidente na MG-262 denunciam descaso

A indignação com o tratamento dado pela Viação Pássaro Verde aos familiares de vítimas de acidente envolvendo a empre...

13/09/2007 - 00:01
 

Familiares de vítimas de acidente na MG-262 denunciam descaso

A indignação com o tratamento dado pela Viação Pássaro Verde aos familiares de vítimas de acidente envolvendo a empresa no início deste ano marcou a reunião conjunta das Comissões de Direitos Humanos e de Transporte, Comunicação e Obras Públicas da Assembléia Legislativa de Minas Gerais nesta quinta-feira (13/9/07). De acordo com o deputado Padre João (PT), autor do requerimento para a realização da audiência, até hoje as famílias não foram indenizadas e não tiveram a atenção merecida por parte da empresa.

O acidente ocorreu por volta das 23 horas dia 16 de fevereiro no km 41 da MG-262, provocando a morte de 13 pessoas, entre elas o motorista, o trocador e um auxiliar, e deixando outras 23 feridas. O ônibus seguia de Belo Horizonte a Ervália e, próximo a Viçosa, trafegava na pista contrária para realizar uma ultrapassagem quando bateu de frente com uma carreta que carregava bobinas de papel.

Desinformação - A falta de informação sobre o acidente foi a principal queixa das famílias que compareceram à audiência pública. A representante das famílias, Maria Teresa Fialho de Sousa Campos, que perdeu um filho de 18 anos no acidente, disse que ficou sem notícias do filho das 23 horas do dia 16 até as 7 horas do dia 17. Ela contou aos deputados que recebeu informações do fiscal da plataforma de que o ônibus estaria parado na rodovia quando, na verdade, o acidente já teria ocorrido. "Os guichês foram fechados e os telefones da empresa não atendiam. Só fomos procurados pela empresa dois meses depois", contou, indignada.

Maria Teresa informou que a empresa também não disponibilizou transporte para os familiares nem assistência médica ou psicológica. "Não queremos que o acidente sirva apenas para um comparativo entre os percentuais de acidentes de um ano para outro", protestou. Maria Teresa cobrou treinamento defensivo para os motoristas e prestação de ajuda financeira e psicológica para as vítimas e familiares em caso de acidentes. José Moisés de Almeida, que também perdeu uma filha no acidente, endossou as palavras de Maria Teresa e fez novas denúncias contra a empresa, como a de um caso recente em que 13 passageiros viajavam em pé.

O prefeito de Viçosa, Raimundo Nonato Cardoso, contou que seu sobrinho estava no ônibus acidentado e chegou em casa de táxi pago por ele mesmo. O prefeito também criticou a falta de assistência prestada aos familiares. Para o prefeito de Ervália, Edson Rezende, a assistência da empresa por meio de funcionários qualificados é essencial em caso de acidente.

Gerente da empresa diz que feriado dificultou acesso ao local do acidente

A defesa da Viação Pássaro Verde foi feita pelo gerente e assessor da diretoria da empresa, Paulo Brito de Oliveira. De acordo com ele, o fato de o acidente ter acontecido na véspera do feriado de Carnaval dificultou a comunicação do acidente e o acesso ao local. O gerente contou que havia mais de 15 km de engarrafamento na estrada e que a notícia do acidente teria chegado à direção da empresa "por terceiros". "Deslocamos um ônibus reserva achando que seria possível continuar a viagem. Não tínhamos a dimensão do acidente", afirmou. Ele informou ainda que o guichê estava fechado porque o expediente se encerra à meia-noite.

Paulo de Oliveira também afirmou que o contato com as famílias era impossível nos primeiros instantes, porque para o transporte intermunicipal não é exigida a identificação dos passageiros. Ele disse ainda que não tinham como prestar assistência psicológica no momento do acidente. "Podemos dizer que atendemos 100% das vítimas, com assistência funerária ou médica. Ainda hoje custeamos o tratamento de algumas delas", afirmou. O gerente da Pássaro Verde acrescentou que o ônibus foi atingido pelas bobinas, cada uma pesando três toneladas, transportadas inadequadamente pelo caminhão, e que não houve choque entre os veículos. Ele também comentou os casos de indenização que já estão em andamento.

O gerente de Fiscalização do Departamento de Estradas de Rodagem (DER-MG), Ronaldo de Assis Carvalho, respondendo a questionamento do deputado Padre João, disse não haver registros de outros acidentes graves envolvendo a empresa Pássaro Verde. O deputado Ruy Muniz (DEM) defendeu o investimento na capacitação dos motoristas, na qualidade de vida do trabalhador e também na tecnologia de monitoramento dos veículos via satélite. O deputado Durval Ângelo (PT) manifestou preocupação com as longas jornadas impostas aos motoristas, sobretudo nos feriados.

Deputados encaminham pedidos de providências quanto ao acidente

Ao final da reunião foram aprovados vários requerimentos sobre o assunto debatido. Ao DER-MG, os deputados solicitam cópias dos relatórios do acidente e informações sobre o detalhamento das negociações com as famílias das vítimas; fiscalização extraordinária na Pássaro Verde para apurar as condições de trabalho dos motoristas e o estado dos veículos; e pedem, ainda, a apuração de denúncia apresentada na reunião sobre a quase colisão envolvendo um ônibus da empresa, que teria ocorrido nesta quinta-feira (13), às 5h45, perto de Ponte Nova.

Os deputados também formularam apelo aos diretores da Pássaro Verde pedindo que o cálculo das indenizações leve em conta valores indicados em jurisprudências, para que os acertos sejam agilizados. Também aprovaram requerimento pedindo o envio de ofício ao juiz da 2ª Vara Cível de Viçosa para que os processos de indenização das vítimas do acidente possam ser analisados prioritariamente. Os deputados também nomearam o deputado Padre João, por meio de requerimento, representante das Comissões de Direitos Humanos e de Transporte nos contatos com as partes envolvidas no acidente. Foram ainda aprovados requerimentos pedindo ao presidente da ALMG que o Projeto de Lei 863/07, do deputado Ruy Muniz, seja colocado na pauta de votação ainda neste semestre. O projeto determina da apresentação de carteira de identidade e a elaboração de cadastro simplificado dos passageiros na emissão de passagens rodoviárias pelas empresas de transporte do Estado, em trajetos superiores a 150 km.

Também foi aprovado requerimento pedindo o envio das notas taquigráficas da reunião para os vários órgãos envolvidos na apuração dos fatos.

Presenças - Deputados Durval Ângelo (PT), presidente da Comissão de Direitos Humanos; Ruy Muniz (DEM); Padre João (PT) e a deputada Gláucia Brandão (PPS). Também participaram da reunião o presidente da Câmara Municipal de Viçosa, José Antônio Gouvea; o diretor de Fiscalização do DER-MG, Paulo Rubens Pereira Diniz, vereadoras de Viçosa e familiares das vítimas.

 

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