Especialistas defendem reconhecimento do lobby

O reconhecimento do lobby na arena política foi um dos assuntos discutidos na manhã desta quarta-feira (12/9/07), últ...

12/09/2007 - 00:00
 

Especialistas defendem reconhecimento do lobby

O reconhecimento do lobby na arena política foi um dos assuntos discutidos na manhã desta quarta-feira (12/9/07), último dia de palestras do Congresso Internacional de Legística, promovido pela Assembléia Legislativa de Minas Gerais. A secretária adjunta de Estado de Desenvolvimento Regional e Política Urbana, Maria Coeli Simões Pires, defendeu que o Parlamento deve "abrir a porta da frente" para as diferentes vozes durante o processo de formulação das leis. "O lobby não pode entrar pelo porão, pois assim se insere no conluio e precisa da barganha. Os mecanismos institucionais precisam estar abertos aos grupos de interesse. É na cena pública que o lobby deve vocalizar suas intenções", opinou.

Maria Coeli enfatizou que, quando se fala em participação da sociedade no processo legislativo, não há anjos ou demônios, mas sim interesses, inclusive o econômico. Os trabalhos da manhã foram coordenados pela deputada Gláucia Brandão (PPS), presidente da Comissão de Cultura da ALMG.

Reconhecer o lobby, regulamentando-o, foi idéia defendida também, no primeiro dia de palestras, pela professora da UFMG Fabiana de Menezes Soares, que coordena o Observatório para a Qualidade da Lei do programa de pós-graduação em Direito da universidade. Na opinião dela, a regulamentação do lobby representa uma possibilidade de grande potencial democrático.

A professora do Departamento de Ciência Política da UFMG Cláudia Feres Faria, conferencista desta quarta, concorda que não há anjos nem demônios na arena política. Pondera ainda que nesse espaço não se deve menosprezar nenhum ator, pois a validade dos diferentes interesses será testada publicamente. Assim como a secretária adjunta, Cláudia Faria destaca que a qualidade de uma lei - que é objetivo das técnicas da Legística - está vinculada essencialmente à sua legitimidade, com a possibilidade de vocalização das preferências dos indivíduos. "O cidadão deve se reconhecer na lei da qual é destinatário", reforçou Coeli.

Cláudia Faria lembrou que o cidadão tem limites para interferir no circuito do poder, dominado pelo Legislativo, Executivo e pelas burocracias públicas. Por isso, defendeu que os processos decisórios sejam permeados à participação. "São necessários novos arranjos institucionais que complementem o potencial da representação política na sociedade contemporânea. Deve haver uma multiplicidade de espaços públicos alternativos, a fim de que os representantes testem a validade de suas razões, com relações calcadas na força do melhor argumento", defendeu. Essa prática participativa, acrescentou, antecede e ao mesmo tempo informa as decisões de governo (tanto Executivo quanto Legislativo), promovendo a conexão entre participação e representação.

O técnico e o político

A secretária adjunta Maria Coeli Simões Pires lembrou que há uma dimensão de conflito imanente à produção legislativa, ao comentar o tema do painel desta quarta, "Diálogos e conflitos no processo de elaboração das leis". Na opinião dela, a Legística pode auxiliar, com suas ferramentas, a identificação dos fatores de tensão e do que "não está dito". Pode, inclusive, deter o impulso de legislar, caso se chegue à conclusão de que uma determinada norma poderá trazer prejuízos ao ordenamento em vigor. Na visão da secretária adjunta, a simplificação, o aprimoramento e a aplicabilidade dos comandos da lei defendidos pela Legística podem contribuir para restaurar a credibilidade do Parlamento e reverter o cenário de descrença da sociedade quanto à representação política. Para Coeli, no entanto, a Legística é o novo nome dado para a antiga preocupação com a boa técnica legislativa e com a qualidade das normas.

Tanto Coeli quanto o diretor da Consultoria Legislativa da Câmara dos Deputados, Ricardo José Pereira Rodrigues defenderam que, nesse processo de aperfeiçoar as leis, o Parlamento conte com consultorias institucionalizadas. Citando relatório do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) de 2006, Rodrigues destacou que as consultorias legislativas são avaliadas como um fator de garantia de que as futuras normas refletirão os acordos políticos, sem prejuízo da observância dos critérios técnicos. Nesse contexto, o diretor enfatiza que os consultores não podem negligenciar o componente político na elaboração legislativa e devem ter clareza de que é preciso mediar fatores como forma, conteúdo e legitimidade das proposições que tramitam no Parlamento. "É preciso levar em conta que o legislador tem objetivos políticos e não somente técnicos e jurídicos. Faz parte do jogo político", destacou.

Ricardo Rodrigues enfatizou, por outro lado, que uma proposição tecnicamente bem elaborada tem valor no jogo político. Esse auxílio desempenhado pelo técnico ao político foi exemplificado em números. Segundo ele, das 1.767 solicitações de proposições feitas à Consultoria da Câmara dos Deputados neste ano, 465 (30%) foram desaconselhadas de tramitarem. Já o aproveitamento das minutas de proposições elaboradas pelos consultores foi de 70%. A intervenção dos consultores no aprimoramento das propostas encaminhadas por outros Poderes também foi destacada pelo diretor. Ele informou que, na Câmara dos Deputados, 87% das proposições são de autoria do Executivo - o que não deve ser motivo de frustração, tendo em vista a possibilidade de intervenção dos parlamentares durante a tramitação.

A parceria entre os técnicos e os políticos foi destacada também pela deputada Gláucia Brandão, que disse ser a equipe técnica da ALMG uma das melhores do País. Maria Coeli também relatou o papel dos técnicos do Legislativo mineiro durante o processo de redemocratização do País e da retomada das prerrogativas do Poder, após a ditadura. Com citações nominais, a secretária adjunta - que é servidora aposentada da Assembléia de Minas e já foi secretária-geral da Mesa - relacionou o esforço do Parlamento de "abrir as portas" à sociedade. "Se não as abríssemos, elas seriam arrombadas", ilustrou, revelando a pressão dos conflitos em um cenário de abertura política e de demanda por soluções normativas. Ela citou que o investimento no corpo técnico, nos instrumentos de participação e comunicação legislativa e em novas tecnologias foi fundamental para responder a essas cobranças.

No fim da manhã, o Congresso de Legística abriu espaço ainda para a apresentação do trabalho que será desenvolvido pela primeira turma de monitores do Grupo de Acompanhamento do Legislativo (GAL). Formado por estudantes universitários, entre eles da UFMG e PUC, o grupo fará o acompanhamento presencial dos trabalhos das 17 comissões permanentes da Assembléia, conciliando a análise do desempenho dos deputados mineiros nas comissões com a dos projetos que tramitam em cada uma delas. Este é um projeto da ONG Associação Democracia Ativa, que tem o portal meudeputado.org.

Presenças - Compuseram a mesa dos trabalhos os convidados citados e a deputada Gláucia Brandão (PPS).

 

 

 

 

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