| Falta de debate institucional é discutida em Congresso de 
            Legística A importância do debate público institucional para 
            a legitimação do processo legislativo e a pobreza desse debate no 
            Brasil foram alguns aspectos discutidos na tarde desta terça-feira 
            (11/9/07) no Congresso Internacional de Legística, promovido pela 
            Assembléia Legislativa de Minas Gerais. O assunto foi abordado pelos 
            expositores Marta Tavares de Almeida, especialista em Legística e 
            colaboradora na Pós-Graduação da Universidade Nova de Lisboa, e 
            Menelick de Carvalho Netto, coordenador do Programa de Pós-Graduação 
            em Direito da UnB, e doutor em Direito pela UFMG. O debate foi 
            coordenado pelo deputado Lafayette de Andrada (PSDB), presidente da 
            Comissão de Redação da ALMG. O Congresso de Legística tem o objetivo de promover 
            uma reflexão sobre a adoção de práticas mais modernas, democráticas 
            e eficazes de legislar, com a meta de transformar a lei em um 
            instrumento efetivo de promoção do bem-estar público. Nesta terça à 
            tarde, tanto Marta Tavares quanto Menelick de Carvalho destacaram a 
            importância do envolvimento popular no processo legislativo para a 
            legitimação das leis. "Consultas e participação são uma das fases 
            mais importantes do processo legislativo", ressaltou a especialista 
            portuguesa. Esses procedimentos são úteis, segundo ela, por garantir 
            a transparência e trazer novas informações pertinentes. A professora 
            salientou que legislar é um processo político, e que por isso é 
            indispensável fazer a sociedade presente no fazer das leis. Quanto à trajetória da legística na Europa, Marta 
            Tavares afirmou que a discussão atual sobre o assunto foi iniciada 
            na década de 90, como resultado de um debate sobre a melhor forma de 
            enfrentar a crise da lei, como instrumento eficiente de regulação 
            social. A discussão, feita no âmbito da Organização para a 
            Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que reúne os países 
            mais desenvolvidos, chegou à conclusão que a solução não era 
            incentivar uma desregulamentação, mas sim uma política de qualidade 
            na produção das leis. Uma norma publicada em 1995, como resultado 
            desse debate, indicou três diretrizes principais para enfrentar o 
            problema: planificação do processo legislativo, consulta e 
            participação pública e avaliação da lei. Professor homenageia jurista José Alfredo 
            Baracho No início de sua apresentação, Menelick de Carvalho 
            dedicou sua exposição ao jurista José Alfredo Baracho, falecido 
            recentemente. Ele disse que a realização de um Congresso de 
            Legística é um sinal de coragem da Assembléia Legislativa, em um 
            contexto de ausência quase absoluta de debate público-institucional. 
            Esse debate, para o especialista, é a única forma de legitimação do 
            processo legislativo. "Nada controla os órgãos de poder, a não ser a 
            cidadania. E não há escola para a cidadania", afirmou Carvalho. O jurista chegou a dizer que, em termos de processo 
            legislativo, ainda vivemos uma ditadura, em razão da falta de debate 
            público-institucional, inclusive com o apoio da mídia. "Queria que 
            vocês me dissessem uma vez em que a Rede Globo tenha feito uma 
            matéria sobre processo legislativo, que não fosse uma baixaria 
            qualquer", desafiou Carvalho. O mesmo problema que dificulta o 
            processo legislativo, prejudica outros tipos de discussão, em sua 
            avaliação. "Como discutir reforma política, sem um mínimo de debate 
            institucional? Que bobagem é essa, se a gente elege para participar 
            de um cocho?", afirmou, referindo-se ao clientelismo. Ele criticou o excesso de racionalismo de quem 
            superestima o poder da lei. "É bom que os movimentos sociais saibam 
            que uma conquista em lei não é conquista alguma. Leis são a porta de 
            entrada dos argumentos no ordenamento jurídico", declarou o jurista. 
            Só o engajamento do cidadão, em sua avaliação, é que garante as 
            conquistas. Essa abertura do processo legislativo à participação 
            popular, em sua avaliação, significa que as regras desse processo 
            não podem ser consideradas como assuntos internos de cada 
            instituição. Enquanto coordenador do debate, o deputado 
            Lafayette de Andrada também questionou se não seria o momento de 
            repensar o ritmo do processo legislativo, a fim de acompanhar a 
            velocidade vertiginosa da realidade contemporânea. Após os debates, 
            houve a apresentação de estudos desenvolvidos por participantes do 
            Congresso de Legística.   
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