Fazer leis claras e transparentes é desafio para legisladores

O desafio da Legística, nos próximos anos, é desenvolver ferramentas para aplicar princípios como participação, trans...

11/09/2007 - 00:00
 

Fazer leis claras e transparentes é desafio para legisladores

O desafio da Legística, nos próximos anos, é desenvolver ferramentas para aplicar princípios como participação, transparência, necessidade e simplicidade na tarefa de produção das leis. Esta é a opinião do presidente da Associação Européia de Legislação, Luzius Mader, que ministrou a primeira palestra do dia, nesta terça-feira (11/9/07), no Congresso Internacional de Legística, cujos trabalhos foram conduzidos pelo presidente da Comissão de Participação Popular, deputado André Quintão (PT).

Promovido pela Assembléia Legislativa de Minas Gerais até esta quarta (12), o congresso reúne servidores, políticos e acadêmicos para troca de idéias e técnicas visando à produção de leis de qualidade. No cenário de um número cada vez maior de leis, de vida curta das normas jurídicas e de legisladores que negligenciam fatos ao elaborar normas, Mader defende que é preciso considerar o contexto e avaliar o impacto de novas regras sobre a sociedade, antes da tomada da decisão de legislar. Na opinião dele, o caminho para leis de qualidade passa também pela instrução e treinamento dos técnicos que assessoram os legisladores.

Mas qual seria um modelo ideal de avaliação legislativa? Ainda que não exista uma resposta quanto à adoção de um único modelo ou de modelos diferentes para Executivo e Legislativo, a professora da UFMG, Fabiana de Menezes, defende que se aproveite a experiência da Europa e do Canadá, onde a Legística, como área de conhecimento, desenvolve-se há três décadas. Mas também pondera ser preciso encontrar um modelo adequado para o Brasil.

Segundo ela, a Legística incorpora transparência ao processo legislativo. Isto porque, nessa etapa, colhem-se sugestões de especialistas e de pessoas que sofrerão os impactos da lei, além de se estudarem os custos de aplicação da norma. "Nessa tarefa, interesses ocultos também podem ser revelados", destaca a professora, que coordena o Observatório para a Qualidade da Lei do programa de pós-graduação em Direito da UFMG. Na opinião de Fabiana, quanto maior for a noção de participação no processo, mais o cidadão vai compreender as leis que forem criadas e mais facilmente vai internalizá-las.

Participação popular - Ratificando as palavras da professora da UFMG, o deputado André Quintão destacou a importância da participação popular na formulação e no acompanhamento das políticas públicas. Ele falou sobre o trabalho desempenhado, desde 2003, pela Comissão de Participação Popular da ALMG. "De maneira organizada, conseguimos que as entidades e os conselhos ajudassem na elaboração e no acompanhamento das peças de planejamento público e das leis orçamentárias", revelou, citando como exemplos a elaboração e as revisões do Plano Plurianual de Ação Governamental (PPAG). "A comissão não espera passivamente que a sociedade a procure; ela desenvolve institucionalmente mecanismos de participação", destacou.

Professora defende mobilização popular; ALMG relata experiência

A mobilização da classe política é defendida pela professora, que chamou atenção para o fato de que uma lei melhor traz dividendos políticos e credibilidade, além de promover o bem comum. A reunião dos segmentos interessados foi destacada tanto por Fabiana de Menezes quanto pela diretora de Processo Legislativo da ALMG, Cláudia Sampaio, que atuou como debatedora. Cláudia trouxe a experiência da Assembléia de Minas para o congresso. "Não podemos dizer que já adotávamos a Legística como ela se apresenta, mas não podemos falar que estamos começando do zero", analisou ela, ponderando que não é nova, para os legisladores mineiros, a reflexão sobre como produzir uma lei de qualidade e que propicie o desenvolvimento.

Ela lembra que, quando o Parlamento mineiro retomou suas prerrogativas após a ditadura militar, os deputados tiveram que responder a questões complexas que a sociedade já colocava. Entre elas, a cobrança pela construção democrática das políticas públicas. "Tivemos que desenvolver a capacidade de interlocução com a sociedade", explicou.

A experiência dos seminários legislativos foi mostrada como exemplo da aplicação de princípios da Legística pela ALMG. Cláudia Sampaio descreveu a dinâmica de um seminário, informando que, depois de escolhido o tema que será objeto de intervenção legislativa, ele é exaustivamente discutido com as entidades e segmentos interessados, que apresentam propostas, enriquecidas na etapa de interiorização e confirmadas pelo voto na plenária final.

De posse do documento final do seminário, a comissão de representação - eleita pelos próprios participantes - acompanha os resultados do evento, que podem ser a formulação de nova lei, a solicitação de providências ao Executivo ou o aperfeiçoamento de normas existentes. Repetindo referência feita pelo vice-governador Antônio Augusto Anastasia, na abertura do congresso, Cláudia Sampaio citou a legislação sobre regiões metropolitanas como exemplo de resultado prático de um processo como esse. São as Emendas à Constituição 65, de 2004, e as Leis Complementares 88, 89 e 90, de 2006.

Mader apresenta procedimentos da administração pública suíça

Luzius Mader, que é vice-diretor do Gabinete Federal do Ministério da Justiça da Suíça, relatou experiência vivenciada em seu país. Como funcionário do Executivo, ele analisa todos os projetos e propostas de regulamento preparadas por todos os ministérios. Nesse processo, o texto é remetido a uma consulta pública, que envolve as organizações econômicas e sociais interessadas, as ONGs e os partidos políticos, entre outros. Os grupos fazem sugestões e o texto é modificado, a fim de angariar o apoio político necessário. Somente depois disso o futuro projeto é remetido ao Parlamento. Todos os resumos das consultas públicas são publicados.

Como recado para os brasileiros, Luzius Mader revelou que a Associação Européia de Legislação está determinada a favorecer a cooperação entre profissionais e acadêmicos de diferentes países, para que a Legística receba atenção adequada. A meta, disse o presidente da entidade, é redefinir a sua abrangência geográfica, transformando-a numa associação internacional, que poderia receber novos membros, entre eles, o Brasil. Essa decisão poderá ser tomada em 2008, em assembléia.

Presenças - Compuseram a mesa dos trabalhos os conferencistas e debatedora citados, além do deputado André Quintão (PT). Também estiveram no congresso, pela manhã, as deputadas Cecília Ferramenta (PT) e Gláucia Brandão (PPS), além do secretário-geral da Mesa da ALMG, José Geraldo Oliveira Prado.

 

 

 

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