Segurança Pública prossegue apuração do massacre de Ponte
Nova
A Comissão de Segurança Pública pretende investigar
a tragédia ocorrida na cadeia de Ponte Nova, no mês passado, quando
25 presos morreram carbonizados. O presidente da Comissão, deputado
Sargento Rodrigues (PDT), elogiou os deputados da comissão por não
retirarem suas assinaturas do pedido de instalação de uma comissão
parlamentar de inquérito para tratar do tema, e apresentou, na
reunião desta quarta-feira (05/09/07), uma série de requerimentos,
todos aprovados, para dar seqüência às investigações.
Rodrigues quer ouvir o depoimento de Cristiane Lima
e Reis, da Secretaria de Defesa Social, que foi a primeira
funcionária a chegar ao local do massacre, na manhã do dia 23, e
ordenar providências. Alegando que ela tentou dificultar o acesso
dos deputados e que se negou a prestar informações, o presidente e o
vice, deputado Paulo Cesar (PDT), assinam requerimento de ofício ao
secretário de Defesa Social, Maurício Campos, convidando Cristiane
Reis.
"Se ela não atender ao convite, será convocada.
Queremos saber por que ela tomou iniciativas, a mando de quem, e
como essas iniciativas impactaram a apuração dos fatos. Às 11 horas,
quando chegamos, ela já havia mandado periciar e retirar todos os
corpos", estranha Rodrigues. O deputado Paulo Cesar também considera
suspeito o fato de a CPI da Câmara Federal ter concluído que todos
os presos foram mortos por combustão, sendo que um detetive que mora
ao lado afirma ter acordado com o ruído de disparos dentro do
presídio, e que um dos mortos teria sido encontrado acorrentado às
grades.
Outros requerimentos aprovados na reunião buscam
esclarecer os fatos. Sargento Rodrigues quer da Corregedoria Geral
de Polícia Civil remessa de cópias de todos os documentos, laudos e
perícias realizados em Ponte Nova. Quer também que o chefe de
Polícia Civil, Marco Antônio Monteiro de Castro, informe quantos
carcereiros "ad hoc" das prefeituras trabalham em delegacias fazendo
guarda de presos.
"Podem passar de 500 esses carcereiros sem
treinamento, sem concurso, que usam coletes da Polícia Civil, armas
e viaturas, e que precisam ser afastados urgentemente da
instituição", disse o deputado. Paulo Cesar acrescentou que em Nova
Serrana, cidade da qual já foi prefeito, um carcereiro que sequer é
funcionário estável da Prefeitura está respondendo por desvio de
armas.
Comissão quer contribuir para prevenir fugas e
rebeliões
Outro requerimento de Rodrigues marca, para 19 de
setembro, uma audiência pública para debater ações preventivas
capazes de coibir fugas, rebeliões e entrada de armas e drogas nos
estabelecimentos penais. O deputado pede que compareçam em pessoa o
secretário de Defesa Social, Maurício Campos; o comandante da PMMG,
Cel. Hélio dos Santos Jr; o subsecretário de Administração
Penitenciária, Genilson Ribeiro Severino; o juiz da Vara de
Execuções Criminais, Herbert Carneiro, e um representante do
Ministério Público. Por sugestão do deputado Délio Malheiros (PV),
foi incluído entre os convidados também o presidente do Conselho
Estadual de Criminologia.
Malheiros opinou que não faz sentido trancafiar à
noite presos albergados junto com os de alta periculosidade.
Rodrigues concordou e disse que os albergados gozam da confiança dos
carcereiros, e muitas vezes são coagidos a abusar dessa confiança,
introduzindo drogas e armas na carceragem.
O deputado Luiz Tadeu Leite (PMDB) também comentou
a promiscuidade em que convivem nas prisões os detentos de regimes
diferenciados. Atribui essa deficiência à falta de investimentos do
poder público. Leite anunciou que em breve a cidade de Montes Claros
contará com um presídio adequado, e que a velha cadeia pública, que
construiu quando foi prefeito, será destinada às mulheres condenadas
e aos presos albergados.
Luiz Tadeu revelou ainda que foram comunicadas aos
deputados da CPI da Câmara Federal 651 mortes de presos ocorridas
nos últimos quatro meses em todo o Brasil. "Esse número é muitas
vezes maior do que o de executados nos Estados Unidos, país onde há
pena de morte. Temos que entender que o Estado é responsável pelas
vidas dos condenados confiados a sua guarda, e que o preso tem que
pagar seu crime com a privação da liberdade, e não com a vida",
afirmou. A requerimento dele, foram incluídos para comparecerem à
audiência da Comissão convocada para ouvir a funcionária Cristiane
Reis, o delegado seccional de Ponte Nova, Luiz Carlos Chartouni, e o
delegado da Comarca, Wanderley Miranda.
Deputado aponta rixa de coronel PM contra
perueiros
Afirmando que não tem nada contra, nem a favor dos
perueiros, o deputado Sargento Rodrigues apresentou uma denúncia que
considera gravíssima, envolvendo o tenente-coronel Silas Barnabé,
comandante do 4º BPM, em Ribeirão das Neves. Rodrigues mostrou uma
lista de 103 policiais de todas as patentes entre capitão e soldado,
que teria sido preparada pelo comando, e que estariam sob suspeita
de receber propinas de R$ 120 para não multar perueiros.
Por outro lado, o deputado tem cópia de um
memorando de Barnabé exigindo que cada patrulha multe pelo menos
dois perueiros por dia. Para apurar o interesse do comandante
especificamente nessa categoria de motoristas, Sargento Rodrigues
quer uma reunião em que sejam convocados o comandante Silvas
Barnabé; o corregedor da PM tenente-coronel Cezar Romero; e
convidados o coordenador da Promotoria de Defesa do Patrimônio
Público, Eduardo Nepomuceno de Souza; e o tenente-coronel Domingos
Sávio de Mendonça, presidente da Associação dos Oficiais da
PMMG.
O deputado Délio Malheiros questionou a competência
da Polícia Militar para aplicar multas relativas a transporte ilegal
de passageiros. Rodrigues esclareceu que essa competência precisa
ser delegada pelo Poder Municipal.
Outros dois requerimentos de Sargento Rodrigues
foram aprovados, um deles pedindo ao Comandante Geral da PM
informações sobre os convênios mantidos com a BHTrans e os
respectivos valores. O outro pede ao major Evilásio Sena Jr,
secretário de Segurança, Defesa e Cidadania de Rondônia, que agilize
a liberação dos corpos de Lucas Silva Galvão e José Galvão Filho,
que estão no necrotério de Vilhena, após serem vítimas de
latrocínio.
Presenças: Deputados
Sargento Rodrigues (PDT), presidente; Paulo Cesar (PDT),
vice-presidente; Luiz Tadeu Leite (PMDB), Leonardo Moreira (DEM) e
Délio Malheiros (PV)
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