Debate sobre designados da Uemg é marcado por
controvérsias
Reivindicações, dúvidas e controvérsias marcaram a
audiência pública da Comissão de Educação, Ciência Tecnologia e
Informática da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, realizada
nesta quarta-feira (5/9/07) para debater a situação dos professores
designados da Universidade do Estado de Minas Gerais (Uemg). O
auditório ficou lotado de professores, técnicos e alunos, que
participaram da reunião solicitada pelo deputado Deiró Marra (PR),
presidente da comissão. Ele manifestou o interesse da comissão em
buscar soluções para o problema dos designados e disse que foi
pessoalmente à Uemg conversar com o vice-reitor, diretores e
professores da instituição.
Os docentes são contrários ao concurso público para
preenchimento de 270 vagas de professores da instituição, cujo
edital deve ser lançado em outubro. Na opinião deles, os designados
deveriam ser efetivados, tendo em vista que passaram por processos
de seleção pública com critérios e níveis equivalentes aos de
concurso público. De acordo com a professora da Uemg, Lucileide
Malaguth Colares, a partir de 1996 foram realizados processos
seletivos para a função pública de professor designado. Os
professores foram classificados e convocados após aprovação em
provas escrita, didática, entrevista e de títulos, conforme
critérios estabelecidos nos editais dos diversos processos
seletivos, publicados no órgão oficial do Estado. A maioria deles
está na instituição há mais de dez anos ininterruptos. "O processo
teve caráter de seleção aberta, ampliada à universidade dos
indivíduos com prerrogativas para a participação", afirmou.
Quadro da Uemg tem 90% de designados
A vice-presidente da Regional Leste do Sindicato
Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes),
Solange Bretas, informou que 90% dos professores da Uemg são
designados. "A precarização das relações de trabalho prejudica
diretamente a qualidade do ensino", continuou. Ela comentou ainda o
fato dos profissionais não concursados terem dificuldades para se
aposentar, para ampliarem sua titularização e conviverem com a
constante ameaça de serem substituídos. Solange Bretas também
comparou a situação dos designados a figura dos substitutos, nas
universidades federais. Esses últimos assinam contratos de um ano
prorrogáveis por mais um e precisam esperar dois anos, no mínimo,
para poderem trabalhar em outra instituição. "A falta de concurso
leva a essa situação absurda", afirmou.
A vice-presidente do Andes também defendeu a
previsão legal de repasses para as universidades estaduais, para
garantir a autonomia financeira das instituições. Opinião semelhante
tem o deputado Ruy Muniz (DEM), que defendeu o repasse de 1% das
receitas correntes para a Uemg e 1% para a Unimontes. "O
desenvolvimento do Estado passa pelo investimento na formação
universitária", afirmou.
A situação da Unimontes também não é tão
confortável, de acordo com os dados apresentados pela professora
Ilva Ruas. Segundo ela, a instituição ficou em 2º lugar no Exame
Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade), que mede a qualidade
das universidades brasileiras. O primeiro lugar ficou para a UFMG.
"No entanto, Minas Gerais paga os piores salários do Brasil",
comparou. A professora disse que a Unimontes tem 800 professores
designados, o que representa 60% de seu quadro e, segundo ela, não
há previsão de abertura de concurso. "Com a expansão das
universidades, os professores passam a ser cada vez mais exigidos,
sem que haja a contrapartida necessária para isso", concluiu.
Número de professores titulados causa
polêmica
A afirmação do pró-reitor de Planejamento, Gestão e
Finanças da Uemg, Mário Fernando Valeriano Soares, de que a
instituição teria apenas 1,5% de professores titulados, quando, de
acordo com o MEC, deveria ter 30% para ser considerada universidade,
provocou descontentamento da platéia. Lucileide Colares afirmou que,
no Campus BH, esse número seria de 38%. O deputado Deiró Marra
também manifestou sua incompreensão em relação a esses dados.
Segundo ele, na véspera da reunião o vice-reitor da Uemg afirmou a
ele que não existiam mestres e doutores entre os designados e que
isso seria requisito para o concurso público. Posteriormente, o
pró-reitor corrigiu a informação e disse que são 524 designados em
todas as unidades da Uemg, sendo 182 mestres e 32 doutores.
Na fase de debates, professores e alunos que
compunham a platéia da audiência contaram suas dificuldades e
pediram que sua experiência não seja desprezada em função do
concurso público. Eles afirmaram que são responsáveis por vários
projetos de pesquisa e extensão premiados, além de terem buscado a
titulação à revelia de incentivos da universidade.
Deputados manifestam apoio aos professores
designados
A deputada Elisa Costa (PT) manifestou apoio e
solidariedade de sua bancada aos designados, mas ponderou que a
situação é delicada. "Temos justiça e moralidade de um lado e o
aspecto legal de outro", afirmou. Segundo ela, desde a Constituição
de 1988 o ingresso no serviço público deve ser feito por meio de
concurso. O deputado Carlin Moura (PCdoB) levantou a discussão sobre
o Projeto de Lei Complementar (PLC) 27/07, do governador, que
efetiva os designados da Educação. Na interpretação do deputado, o
projeto não contemplaria os funcionários da Uemg e da Unimontes, mas
esses professores têm compreensão diferente da matéria. "É preciso
haver um entendimento claro da expressão 'unidade estadual de
ensino'", afirmou o deputado.
A deputada Maria Lúcia Mendonça (DEM) disse ter
ficado estarrecida com as informações transmitidas na reunião. Ela
afirmou ter se reunido com o vice-governador do Estado, Antônio
Augusto Anastasia, para tratar da situação dos docentes da Uemg. Na
ocasião, ele teria garantido a ela que não haveria concurso para a
universidade do Estado. A deputada disse que voltará a ele para
esclarecer essa situação.
Requerimentos - Seis
requerimentos foram aprovados durante a reunião, dois deles dos
deputados Deiró Marra, Carlin Moura e da deputada Maria Lúcia
Mendonça. O primeiro pede que a reitora da Uemg esclareça se os
cursos de mestrado, doutorado e especializações serão computados com
pontuação extra em concurso para docentes a ser realizado por aquela
instituição, assim como os eventuais critérios para essa pontuação
extra. O outro requerimento pede o envio de ofício ao governador do
Estado, ao secretário de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino
Superior e aos reitores da Uemg e Unimontes pedindo informações
sobre os procedimentos adotados para a efetivação dos professores
designados dessas instituições de ensino superior.
O deputado Deiró Marra e a deputada Maria Lúcia
Mendonça apresentaram requerimento pedindo que seja solicitada à
reitora da Uemg informação sobre os motivos da não nomeação de
docentes aprovados em concurso público já realizado por aquela
instituição. Também o deputado Carlin Moura apresentou dois
requerimentos. Um deles pede a realização de audiência pública para
debater os procedimentos adotados pela Secretaria de Estado da
Educação, no que diz respeito à reforma da Escola Estadual Pedro II,
e as repercussões junto aos corpos docente e discente. Ele quer
saber ainda, junto à Secretária de Estado da Educação, a previsão de
início e término dessas obras. A deputada Elisa Costa pediu a
realização de um debate público com o objetivo de aprofundar o
conhecimento da realidade atual do ensino público profissionalizante
e superior em nosso Estado e a discussão das perspectivas para os
próximos anos.
Presenças - Deputados Deiró
Marra (PR), presidente; Carlin Moura (PCdoB); Ruy Muniz (DEM) e
Dalmo Ribeiro Silva (PSDB); e as deputadas Maria Lúcia Mendonça
(DEM), vice-presidente; Ana Maria Resende (PSDB) e Elisa Costa (PT).
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