Direitos Humanos busca solução para despejo de famílias em Contagem

A Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa de Minas Gerais se comprometeu, nesta terça-feira (4/9/07), ...

04/09/2007 - 00:00
 

Direitos Humanos busca solução para despejo de famílias em Contagem

A Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa de Minas Gerais se comprometeu, nesta terça-feira (4/9/07), a mediar uma solução para famílias da Vila Novo Boa Vista, próxima à BR-040, em Contagem, ameaçadas de despejo para realização das obras do Rodoanel. Em audiência realizada na Câmara Municipal de Contagem, dezenas de moradores manifestaram preocupação e ansiedade em relação à iminente demolição de suas casas, solicitada pelo Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transportes (Dnit). Eles alegam que desconhecem o tamanho da área a ser desocupada e o número de famílias atingidas.

De acordo com Márcio Ferreira da Silva, um dos líderes comunitários presentes à audiência, cerca de 600 famílias vivem na vila, totalizando 2.500 pessoas, entre elas 300 crianças. "Não temos como sair da área para, depois, discutir a indenização. Não temos condições de pagar aluguel", argumentou. Segundo Silva, a ação demolitória do Dnit fala em 79 famílias e tantas quantas estiverem na área de jurisdição do órgão. "A metragem citada consome toda a vila", lamenta. Os moradores também têm dúvidas quanto ao destino da área: se seria utilizada efetivamente para as obras do Rodoanel ou para uma expansão da BR-040.

O defensor público da União, Estêvão Ferreira Couto, explicou que a ação é de 2000 e busca destruir todas as construções. Porém, segundo ele, o processo está lento porque o juiz não conseguiu citar todos os moradores. "O Dnit quer a citação por edital, argumentando que a região é violenta. Mas nossa luta é para que todos os moradores sejam notificados", completa. A ação já conta com uma liminar proibindo a construção de novas casas, deferida pela 11ª Vara da Justiça Federal.

O deputado Durval Ângelo (PT), presidente da comissão, salientou que, infelizmente, muitas obras públicas colocam a questão social em último lugar no empreendimento. Segundo ele, essa tem sido também uma luta dos direitos humanos. "No caso das obras da Linha Verde, conseguimos uma negociação inédita para os moradores das vilas e favelas. Eles puderam optar entre retornar para suas cidades no interior ou se mudar para apartamentos, todos eles de três quartos", citou.

Representando a Prefeitura, a secretária-adjunta de Habitação de Contagem, Antônia Puerta Jimenez garantiu que nenhuma demolição será feita na Vila Novo Boa Vista sem o consentimento da administração municipal e sem a participação dos moradores. "Vocês têm direitos previstos no Estatuto das Cidades, no Código Civil e na Constituição de 88", garantiu. Segundo ela, a política de habitação do município tem como prioridade a remoção das famílias para locais próximos, buscando não romper a rede de serviços e as relações sociais da vila. No caso do Novo Boa Vista, moradores argumentam, inclusive, que trabalham na Ceasa Minas, e que a remoção para uma local distante inviabilizaria os empregos.

O deputado João Leite (PSDB) também se apresentou como um convertido à causa dos moradores. "Fui atingido pela Via Expressa, que partiu no meio a Vila Oeste, onde eu nasci, e acabou com o campo de futebol onde eu comecei a jogar", justificou. Segundo ele, não é possível que, nos dias de hoje, haja desocupações como essa. Leite citou a iminente demolição de casas às margens da BR-381, em Sabará e Santa Luzia, também promovida pelo Dnit. "Até hoje os legisladores não conseguiram inscrever nas leis a proteção aos cenários da nossa vida, aos quais estamos ligados. Por isso é necessário a resistência dos moradores", completou.

Também o deputado Carlin Moura (PCdoB) afirmou ser um defensor da obra do Rodoanel, mas não ao preço da destruição da vida dos moradores. "O progresso não pode ser um retrocesso para a qualidade de vida", pregou.

Rodoanel - O projeto Contorno Norte do Rodoanel, obra do governo federal ligará a rodovia Fernão Dias, em Betim, à BR-381 norte, no distrito de Ravena (Sabará). A obra terá 64,3 quilômetros de extensão, passando por Betim, Contagem, Ribeirão das Neves, Vespasiano, Pedro Leopoldo, Confins, Santa Luzia e Sabará. O custo da obra, sem o cumprimento das condicionantes ambientais e desapropriações, é estimado em R$ 583 milhões, saltando para R$ 700 milhões com a inclusão dessas providências.

Vários vereadores participaram da audiência e manifestaram apoio à causa dos moradores, entre eles o presidente da Câmara, Avair Salvador, e os vereadores Dimas Fonseca e Lucas Cardoso, que pediram a realização da audiência à Comissão de Direitos Humanos. Alguns parlamentares municipais lembraram que o Rodoanel é uma obra importante para Contagem, mas salientaram a prioridade da questão social envolvendo as desapropriações.

Ao final da reunião, os deputados apresentaram vários requerimentos, que serão apreciados nas próximas reuniões. Um deles solicita visita da comissão à juíza Ângela Catão, da 11ª Vara Federal para discutir a situação das famílias. Para Durval Ângelo, ela foi induzida a erros pelo Dnit. Há ainda a previsão de visitas à Vila Novo Boa Vista e ao Dnit. Outra solicitação é para realização de audiência pública para tratar do problema dos moradores com ameaça de despejo em Contagem, na BR-381 e ainda na Fundação Navantino Alves, em Belo Horizonte, cujo imóvel foi tomado por 60 famílias.

"Vamos também provocar o Conselho Estadual de Assistência Social", acrescentou João Leite. Segundo ele, em casos de grandes obras envolvendo desapropriações, o Ceas tem que aprovar um plano para a remoção das famílias.

Presenças: Deputados Durval Ângelo (PT), presidente; João Leite (PSDB); e Carlin Moura (PCdoB). Além dos citados, participou também do encontro a defensora pública da União Giêdra Cristina Moreira.

 

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