Deputados querem aliviar situação de cadeias de Ouro Preto e
Mariana
As cadeias públicas de Ouro Preto e Mariana,
acusadas de serem "caldeirões" de violência prestes a explodir por
estarem em situação pior do que a de Ponte Nova, foram visitadas na
tarde desta segunda-feira (3/9/07) pela Comissão de Direitos Humanos
da Assembléia Legislativa de Minas Gerais. Antes mesmo que os
deputados retornassem a Belo Horizonte, a visita já tinha produzido
resultados: o subsecretário de Administração Penitenciária, Genilson
Severino, telefonou ao deputado João Leite (PSDB) informando que vai
despachar imediatamente quatro defensores públicos para essas
cidades, com o objetivo de promover a transferência dos presos com
condenação definitiva e aqueles que têm direito à progressão para
semi-aberto.
O prefeito de Ouro Preto, Ângelo Oswaldo, que
acompanhou a visita, informou aos deputados que já assinou a ordem
de serviço para iniciar a reforma da cadeia da cidade, que custará
R$ 150 mil do Estado e R$ 50 mil da Prefeitura. A obra também
incluirá as instalações anexas do Prolae (Programa de Liberdade
Assistida ao Encarcerado), que é conduzido pela juíza que está há 17
anos na comarca, Lúcia Helena de Fátima Albuquerque Silva, com
projetos de recuperação e trabalho remunerado para os detentos.
Quem cuida dos beneficiários do Prolae é a
professora Shirley Xavier, voluntária da Escola Técnica de Ouro
Preto. Ela mostra os trabalhos de artesanato feitos pelas quatro
presas inscritas no programa e disse que os homens, além de cuidar
da horta, fazem trabalhos na cidade, especialmente de demolição e
construção civil. O prefeito Ângelo Oswaldo considera "maravilhoso"
o trabalho incentivado pela juíza, "um exemplo para todo o país".
Partiu do vereador petista Wanderley Kuruzu a
denúncia de que a situação naquelas prisões é pior do que a
verificada em Ponte Nova antes da tragédia que vitimou 25 presos na
madrugada de 23 de agosto. No entanto, os delegados de ambas as
cidades desconhecem que haja facções criminosas prestes a entrar em
conflito nas cadeias sob sua responsabilidade.
Sem condições de reformar sem transferir
presos
Em Ouro Preto são 174 presos em um espaço onde a
lotação máxima deveria ser de 80 pessoas, e a última rebelião
aconteceu há mais de um ano. Chama atenção o grande número de
condenados, que são 64 e deveriam estar em penitenciárias. Segundo o
delegado regional Eduardo da Silva, se fossem transferidos os
condenados e construídos os alojamentos para os 32 que estão
inscritos no Prolae, a cadeia ficaria numa situação ótima para ser
reformada.
Segundo o delegado seccional Flávio Tadeu Destro,
apenas dois homens fazem a guarda dos presos: o policial civil Jorge
Daniel Nascimento Filho, que está em desvio de função, e o soldado
PM Toledo. Seriam necessários, segundo seus cálculos, 30 agentes
penitenciários. A principal reclamação colhida pelo deputado Durval
Ângelo (PT), presidente da Comissão, foi sobre a péssima qualidade
da comida. O deputado comprometeu-se a dar andamento à queixa e
disse que "as marmitas vêm de Belo Horizonte e são muito bem pagas".
Os presos se apinharam nas grades para pedir ajuda
aos deputados quanto às condenações que acreditam já ter cumprido e
apresentar outras queixas. Miguel Agostinho reclamou de restrição à
visita íntima. Edson Prado disse que é maltratado e que não lhe
deixam telefonar para a família. Disnunsuei Januário se queixa que é
de Alpinópolis e está há mais de um ano cumprindo pena longe de sua
região. Elissandro Cássio Moreira alega que já pagou seu crime.
Willy Bauer está preso há 30 dias junto com seu filho Urias, que foi
detido por tráfico.
Mulheres também reivindicam visita íntima
As mulheres reclamam da falta de visita íntima e da
assistência de ginecologista, mas o delegado Eduardo da Silva alega
que não há instalações para visita íntima, e que teve que proibir
uma solução provisória, em que os presos armavam tendas de lona no
pátio e que essas eram derrubadas pelo vento, expondo os familiares
a constrangimentos. Um dos objetivos da reforma é a preparação de
uma cela para as visitas. Outro é a construção de um alambrado sobre
o pátio, já que os cúmplices dos presos lançam drogas ao pátio por
cima do muro.
Os detentos sempre se referem a seus crimes pelos
artigos do Código Penal: 33 é tráfico de drogas, 55 é furto, 157 é
roubo ou assalto com violência. O delegado Silva calcula que, dos
174, sejam 60 os condenados por tráfico de drogas. O deputado Durval
Ângelo disse à imprensa que a situação era pior, durante sua última
visita, há 18 meses. "Conseguimos a retirada dos menores que estavam
presos aqui e a verba para a reforma da cadeia. Infelizmente, com a
substituição do Professor Sapori na Secretaria de Defesa Social, não
foi efetivado o envio dos 30 agentes penitenciários", afirmou.
Em seguida os deputados se deslocaram para Mariana,
onde foram recebidos pelos delegados seccional de Ponte Nova, Luiz
Carlos Chartouni, e pelo delegado da comarca Isaías Rosa. Esses
informaram que mantêm 106 presos, incluindo os 40 albergados, num
espaço onde 50 presos seriam o número adequado.
Os deputados consideram que, apesar de as cidades
merecerem unidades prisionais melhores, a situação em Mariana não é
tão ruim quanto em Ouro Preto. Elogiam a atitude do juiz Paulo
Roberto da Silva, que manifestou intenção de conceder prisão
domiciliar para os detentos do regime aberto.
'Nem aos animais se permite viver nessas
condições'
No entanto, os deputados se depararam com as celas
apelidadas de "corró": dois espaços de 8 metros quadrados, sem
ventilação, expostos ao sol forte da tarde, onde sofrem 13 presos.
Durval Ângelo e João Leite querem que o juiz conceda a imediata
interdição dessas celas. "Não há nenhuma condição de sobrevivência
nesse lugar", disse o deputado João Leite, acrescentando que "muitos
têm direito a progressão de regime e outros a transferência para
penitenciárias, pois já têm sua condenação definitiva. A situação se
torna muito perigosa para a comunidade ao redor da cadeia, já que
não vemos nenhuma possibilidade de ressocialização desses jovens na
situação em que se encontram", avaliou.
O deputado Padre João (PT) se mostrou indignado com
a situação desumana a que estão expostos os presos. "Nem a Sociedade
Protetora dos Animais permitiria que um bicho seja confinado nessas
condições. São quase meninos, e que responderiam melhor a qualquer
ação eficiente para se recuperarem pelo trabalho. A Apac aqui seria
a melhor solução", sugere Padre João. Os prefeitos de Ouro Preto,
Mariana e Itabirito estariam cogitando de construir uma unidade da
Associação de Proteção e Amparo ao Condenado (Apac) para atender as
três cidades.
Presenças: Deputados Durval
Ângelo (PT), presidente; João Leite (PSDB) e Padre João (PT).
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