Comissão de Saúde vai atuar para tentar suprir carências no IML

As dificuldades vivenciadas pelo Instituto Médico Legal (IML), que sofre com a carência de profissionais, foram relat...

30/08/2007 - 00:00
 

Comissão de Saúde vai atuar para tentar suprir carências no IML

As dificuldades vivenciadas pelo Instituto Médico Legal (IML), que sofre com a carência de profissionais, foram relatadas na manhã desta quinta-feira (30/8/07) na Assembléia Legislativa de Minas Gerais. O diretor do IML, José Mauro de Moraes, informou à Comissão de Saúde que faltam assistentes sociais, agentes administrativos, enfermeiros e auxiliares de necropsia - estes, profissionais do quadro da Polícia Civil. A deficiência dos auxiliares, na Capital, é de 16 pessoas e, no interior, de 150. "Sem o auxiliar, é impossível a realização da perícia no morto", esclareceu o diretor, que sugeriu a mudança na legislação, tendo em vista a extinção do cargo em 2005, ou a contratação de técnicos, que não teriam que ser policiais. Entre as suas incumbências, estão as de retirar os corpos do rabecão, conduzi-los dentro do instituto e higienizar o local da necropsia.

Como resultado concreto da reunião, solicitada pelo deputado Ruy Muniz (DEM), foram aprovados dois requerimentos, dirigidos ao secretário de Defesa Social, Maurício Campos Júnior. Um deles reivindica o envio de projeto de lei à Assembléia prevendo a recriação do cargo de auxiliar de necropsia no quadro da Polícia Civil, com a posterior realização de concurso público para suprir a carência. Outro requerimento reivindica a contratação dos seguintes profissionais para o IML da Capital: oito assistentes sociais, 10 agentes administrativos, dois enfermeiros e 16 auxiliares de necropsia. O deputado Carlos Pimenta (PDT), que presidiu a reunião, sugeriu que os requerimentos sejam formalmente entregues ao secretário. "A Medicina Legal é um campo desassistido em Minas", avaliou o deputado Ruy Muniz, que cobrou mais atenção para o setor, assim como o deputado Carlos Pimenta, que defendeu que o IML tenha prioridade absoluta.

Segundo Moraes, a solicitação dos auxiliares de necropsia já foi encaminhada à Superintendência de Polícia Técnico-Científica, que remeteu o pedido ao secretário. O diretor estimou, em entrevista após a reunião, que, com a contribuição também da Assembléia, o problema poderá ser resolvido em breve. Hoje, nas cidades em que há postos de perícia integrados (PPIs) - onde o trabalho da Medicina Legal se alia ao do Instituto de Criminalística -, parcerias com as prefeituras têm viabilizado a cessão de técnicos de enfermagem, treinados para atuar como técnicos de necropsia. São 14 os PPIs no interior, sete inaugurados. No entanto, para o médico legista Arnaldo Muzzi, que também falou aos deputados, a cessão de profissionais pelas prefeituras, entendida à primeira vista como ajuda, poderia comprometer qualidade e segurança de informações e materiais. "Esta é uma função policial", opinou, recebendo o apoio de Muniz e Pimenta.

Ponte Nova - José Mauro de Moraes fez um desabafo ao citar o trabalho dos médicos legistas no episódio recente da cadeia de Ponte Nova, quando 25 presos foram carbonizados. "Fizemos o que era humanamente possível, com seriedade e competência", lembrando que, em 24 horas, 15 corpos foram identificados por uma equipe de três médicos. Moraes lamentou que o IML seja lembrado apenas em momentos de grandes catástrofes como a da Zona da Mata. Em entrevista após a reunião, ele informou que a decisão de identificar os corpos na Capital foi tomada pelo fato de BH dispor de equipamentos e profissionais especializados para a realização do trabalho. "Utilizamos um protocolo de contingências da Defesa Civil que passará a ser aplicado a partir de agora. Se a tragédia tivesse ocorrido em local mais distante, teria sido usada a mesma lógica. Uma equipe de médicos tem autoridade para avaliar a situação e tomar a providência mais eficiente", explicou.

Convidado pede agilidade no atendimento

O 2º-secretário do Conselho Municipal de Saúde de Belo Horizonte, Roberto Santos, reivindicou a melhoria do atendimento à comunidade. Ele citou casos de pessoas que teriam esperado muito tempo para serem submetidos a exame de corpo de delito. Também relatou episódio em Ribeirão das Neves em que um cadáver teria ficado no chão, por quatro a cinco horas, à espera de ser recolhido. O diretor do instituto informou que foram encaminhados a Neves novos médicos legistas, contratados via concurso público. Sobre o questionamento de demora na liberação de corpos, explicou que o tempo médio é de duas a três horas depois que o corpo chega ao IML. Ponderou ser necessário um exame minucioso, para evitar que a necropsia seja refeita. "Damos prioridades às famílias que estão no local e é necessário um tempo mínimo para efetuar o trabalho."

Universidades - Depois de ouvir a médica legista Raquel Muniz, perita em trânsito, o deputado Carlos Pimenta sugeriu que seja aprofundado o debate sobre parcerias entre IML e universidades para doação de cadáveres, bem como sobre o processo de doação de órgãos após a constatação de morte cerebral. A perita, de Montes Claros, lembrou que a cidade é hoje pólo universitário e que há necessidade de cadáveres para estudos. Moraes explicou que há uma norma regulamentando este assunto. Os corpos ficam 30 dias no IML e, se não forem reclamados nem tiver sido localizada a família, a respectiva documentação é encaminhada ao setor competente, que comunica a instituição de ensino credenciada. Hoje, são credenciadas a UFMG, a Faculdade de Ciências Médicas de BH e instituição de Vespasiano. Quanto à doação de órgãos, Moraes ponderou que ela depende de tempo e que o rabecão - viatura comum, sem refrigeração, que leva o corpo ao IML - complete sua lotação (de quatro a seis corpos) para, somente depois, dirigir-se ao instituto.

Concurso público incorporou mais 158 médicos legistas

Respondendo às indagações dos deputados, o diretor do IML informou que concurso público recente viabilizou a contratação de 158 médicos legistas, elevando o número desses profissionais para 295 no Estado. Do total de concursados, três foram encaminhados para cada uma das 52 delegacias regionais. Na avaliação do diretor, seriam ainda necessários outros 40 profissionais para atender à necessidade de expansão das atividades. Espera-se que, com o encaminhamento dos médicos concursados para o interior, seja zerada em um mês a demanda reprimida documentada de exumações - que seria de 680 casos, com 47% já resolvidos.

Os deputados da Comissão de Saúde tiveram notícia também do trabalho feito pelo IML: são 25 a 30 necropsias por dia, abrangendo desde perícias relativas a mortes naturais até perícias em mortos por acidentes, homicídios, suicídios ou com essa suspeita. Outros 100 a 120 exames são realizados em vivos, diariamente. Do total de necropsias, cerca de 40% relacionam-se a mortes naturais. É justamente aí que reside outro problema vivenciado hoje pelo instituto, na opinião de Arnaldo Muzzi. Segundo ele, o médico legista, que tem formação policial, deveria se encarregar dos crimes violentos. As causas clínicas das mortes deveriam ser, para ele, apuradas por serviços de verificação de óbitos que, no caso de Belo Horizonte, seriam de responsabilidade da Prefeitura.

Presenças - Deputados Carlos Pimenta (PDT); Ruy Muniz (DEM) e Célio Moreira (PSDB), além dos convidados já citados.

 

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