FFO propõe reunião de trabalho para rever legislação ambiental

A Comissão de Fiscalização Financeira e Orçamentária (FFO) da Assembléia Legislativa de Minas Gerais agendou para o d...

29/08/2007 - 00:01
 

FFO propõe reunião de trabalho para rever legislação ambiental

A Comissão de Fiscalização Financeira e Orçamentária (FFO) da Assembléia Legislativa de Minas Gerais agendou para o dia 3 de outubro uma reunião de trabalho com os órgãos ambientais do Estado para tratar de ajustes na legislação dessa área. A data foi acertada durante reunião com convidados, realizada nesta quarta-feira (29/8/07) para debater o Decreto 44.309, de 2006, e outras normas jurídicas de proteção e fiscalização ambiental, a requerimento dos deputados Antônio Júlio (PMDB) e Lafayette de Andrada (PSDB). A reunião de trabalho foi proposta pelo deputado Sebastião Helvécio (PDT), diante do consenso quanto à necessidade de reforma do decreto.

O Decreto 44.309 estabelece normas para o licenciamento ambiental e a autorização ambiental de funcionamento; tipifica e classifica as infrações às normas de proteção ao meio ambiente e aos recursos hídricos; e estabelece o procedimento administrativo de fiscalização e aplicação de penalidades. Mas, de acordo com os autores do requerimento para a reunião, a norma apresenta incongruências e alguns absurdos. "Transportar aparelho de pescar, como uma vara, sem licença gera multa mínima de R$ 500. Mas desmatar uma floresta nativa de até cinco hectares rende multa de R$ 100", exemplificou Lafayette de Andrada.

Para o deputado, a burocracia nos órgãos ambientais também precisa ser revista. "Uma pequena serraria que queira comprar um eucalipto de um fazendeiro precisa ter a planta topográfica do terreno", citou Andrada. O deputado Antônio Júlio também ressaltou os absurdos da legislação, que atingem geralmente pessoas simples, gerando desgaste para o governo. Segundo ele, todos os órgãos estão legislando, por meio de normas internas e portarias com valor de lei, criando distorções. "Uma cisterna antiga sem outorga foi multada em R$ 11 mil. A água é mais cara que a da Copasa", afirmou, citando um dos muitos casos que, segundo ele, têm chegado ao seu gabinete.

Também o deputado Fábio Avelar (PSC), vice-presidente da comissão, afirmou que tem sido procurado por vítimas de arbitrariedades motivadas pelo decreto. "Quando fizemos a revisão da lei da pesca, mais de mil pessoas participaram das audiências públicas e, àquela época, ninguém foi contrário às penalidades", salientou. Por outro lado, o diretor do Departamento de Meio Ambiente e Trânsito (Demat) da Polícia Militar, coronel Reinaldo Martins, reforçou que a PM é "escrava da lei" e não pode ser omissa.

Antônio Júlio pediu a suspensão imediata da norma e o cancelamento das penalidades aplicadas sob sua vigência. O chefe de gabinete da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), Augusto Horta, afirmou, porém, que a suspensão do decreto feriria a Constituição Federal, que obriga a aplicação de penalidades e sanções administrativas. "A fiscalização é ponto importante na gestão ambiental. E, apesar de algumas incongruências, o Estado está fazendo seu papel. Isso nos deixa felizes porque a sociedade apostava na inércia do Estado", reforçou Alice Beatriz Pereira Soares, diretora de Monitoramento e Fiscalização Ambiental da Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam).

Horta apresentou ainda alguns argumentos técnicos do decreto e ressaltou que algumas de suas incongruências têm origem nas leis. "A Lei 14.181, de 2002, aprovada nessa Casa, definiu a pesca como ato de pescar ou tendente à pesca. Por isso a penalidade para quem transporta vara de pescar", exemplificou. O diretor de Monitoramento e Fiscalização Ambiental da Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam), Eduardo Martins, também apontou que a nova Lei Ambiental (Lei 14.308, de 2002), trouxe perda de qualidade no trabalho e dificuldades de aplicação, assim como o Decreto 44.309.

"Apesar dos defeitos, o decreto corrigiu erros como o intervalo de dez anos entre a fiscalização e a penalidade. Quem levaria uma legislação assim a sério?", ponderou Augusto Horta. Lafayette de Andrada argumentou, porém, que o decreto tem que ser claro, uma "receita de bolo" para que não haja dúvidas na aplicação.

Nova minuta de decreto deve ser concluída em setembro

O secretário executivo do Comitê Gestor de Fiscalização Ambiental Integrada (CGFAI), Paulo Teodoro de Carvalho, informou aos deputados que o Executivo criou, em junho passado, um grupo de trabalho para rever o Decreto 44.309 até janeiro de 2008. "Dada a urgência, estamos trabalhando para apresentar uma nova proposta no final de setembro, quando teríamos, então, a contribuição da Assembléia e da sociedade. Uma nova rodada de discussões seria feita, com a previsão de promulgação no final de novembro", relatou.

Esse grupo de trabalho, segundo Paulo Teodoro, envolve os órgãos do Sistema Estadual de Meio Ambiente, incluindo a Polícia Militar. Para Sebastião Helvécio, os deputados devem aproveitar a ocasião para ampliar a discussão e rever também a legislação ambiental. Fábio Avelar citou requerimento aprovado na comissão para, inclusive, consolidar as várias leis dessa área.

Já a diretora de Monitoramento e Fiscalização do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), Marília Carvalho de Melo, informou sobre campanha do órgão voltada para cadastrar os usuários de água do Estado e convocá-los para a legalização. Questionada pelo deputado Antônio Júlio sobre a continuidade da fiscalização pela PM, mesmo durante a campanha, ela argumentou que o usuário que se cadastrar ganha uma legalidade temporária, um documento que o isenta de multa. Paulo Teodoro acrescentou que, em todo o Estado, mais de um milhão de pessoas usam água bruta, como de cisternas e rios.

O deputado Irani Barbosa (PSDB) criticou o que considera uma indústria de arrecadação de multas. Ele afirmou que os ambientalistas se preocupam com a transposição do Rio São Francisco, e que a fiscalização aplica multa por cisternas, mas ninguém se posiciona contra transposição feita em Minas pela Samarco, que seca rios do Estado. Fábio Avelar salientou, porém, que trata-se de uma exploração econômica licenciada.

TACs - Durante a reunião, Lafayette de Andrada citou ainda irregularidades constatadas em Termos de Ajuste de Conduta (TACs) firmados pelo IEF. Há, segundo o parlamentar, divergências em relação ao volume do passivo ambiental e pedidos de carros para o órgão fiscalizador. Eduardo Martins afirmou que um grupo de trabalho do IEF já está estudando novas alternativas para aplicação dos termos de ajuste.

O deputado Antônio Júlio criticou a ausência constante de secretários e chefes de repartições importantes nas audiências promovidas pela ALMG. "Essa tem sido uma característica desse governo, um desrespeito à Assembléia", afirmou. O deputado Zé Maria (PSDB), ponderou que os convidados presentes ao encontro são os formuladores das políticas em seus respectivos órgãos. Paulo Teodoro reforçou que os articuladores da fiscalização, objeto do Decreto 44.309, são ele e o coronel Reinaldo Martins.

Presenças - Deputados Zé Maia (PSDB), presidente; Antônio Júlio (PMDB); Elisa Costa (PT); Lafayette de Andrada (PSDB); Sebastião Helvécio (PDT); Fábio Avelar (PSC); Irani Barbosa (PSDB); e Wander Borges (PSB). O deputado Jayro Lessa (DEM) enviou mensagem justificando sua ausência, já que participa de Comissão de Representação do Estado de Minas em Curitiba (PR). Além das autoridades citadas, participaram da reunião Alexandre Magrineli dos Reis, da Feam; e o capitão PM Washington Luiz, da Demat.

 

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