Projeto que limita venda de comida em escolas divide
opiniões
A proposta de proibir a comercialização de
alimentos e bebidas de alto teor calórico ou pouco nutritivos, como
doces, salgadinhos e refrigerantes, nas escolas do Estado recebeu
elogios e críticas na reunião conjunta das Comissões de Saúde e de
Educação, Ciência, Tecnologia e Informática da Assembléia
Legislativa de Minas Gerais, nesta terça-feira (28/8/07). A medida
está prevista no Projeto de Lei (PL) 898/07, de autoria do deputado
Délio Malheiros (PV), que tramita na ALMG e está sendo analisado
pela Comissão de Constituição e Justiça, em 1º turno. A reunião teve
a presença de nove deputados e foi acompanhada por especialistas da
área da educação e da nutrição.
Enquanto a posição de alguns é que a simples
proibição de vender alimentos apenas dentro das escolas não vai
resolver o problema da alimentação inadequada de crianças e
adolescentes, os defensores do projeto acreditam que a medida será
um primeiro e importante passo para ajudar o poder público a evitar
nesses jovens a obesidade e os problemas dela decorrentes.
"Pesquisas indicam que a obesidade infantil cresce a um ritmo
alucinante. Não podemos cruzar os braços diante de estatísticas tão
alarmantes. Os pais são responsáveis pela alimentação das crianças,
mas dentro da escola não temos controle. O lucro não pode falar mais
alto", defendeu o deputado Délio Malheiros, pedindo que a proposta
seja discutida e aprimorada, se necessário.
Medida exigiria mudança de comportamento
Ao comentar a proposta contida no projeto de lei, a
coordenadora de Projetos da Secretaria de Estado de Educação (SES),
Lúcia Vieira Sarapu, esclareceu, primeiramente, que é preciso
diferenciar os programas de merenda escolar da existência de
cantinas nas escolas públicas. Segundo ela, essas lanchonetes -
ainda encontradas, mesmo que em pequeno número - não fazem parte da
estrutura da Secretaria, mas são gerenciadas pelas próprias escolas,
seguindo o modelo de autonomia escolar.
Sobre a proposta de proibição da venda de
alimentos, a representante da SES afirmou que acredita que a questão
não deve ser restrita ao ambiente da escola, pois os alunos passam
apenas uma pequena parte do dia naquele ambiente. Além disso, ela
acredita que uma proibição desse tipo pode acabar aumentando a
oferta desses produtos no entorno das escolas, como ocorre hoje.
"Uma política pública deve envolver uma mudança de comportamento
lenta e em vários níveis, como na família', afirmou.
Particulares - A posição
contrária à proibição de certos tipos de alimento nas escolas, pelo
fato de que não são de horário integral, e uma solução que passe
pela mudança de comportamento também foram os pontos de vista
defendidos pelo representante das escolas particulares, o presidente
do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Estado, Ulysses de
Oliveira Panisset. Para ele, quando chegam à escola as crianças já
estão alimentadas, fazendo ali apenas um rápido lanche. Panisset
também lembrou o problema existentes nas proximidades das escolas:
os vendedores ambulantes, que são devidamente credenciados para
vender esses tipos de alimentos. Para ele, campanhas efetivas seriam
medidas mais eficientes que uma lei puramente proibitiva.
"Os avanços se fazem por etapa. A experiência na
escola é sim uma referência para o aluno", discordou o professor
emérito do Departamento de Bioquímica e Imunologia da UFMG, médico
nutrólogo Ênio Cardillo Vieira, defendendo a aprovação do projeto.
Segundo ele, a criança e o adolescente obesos têm de 30 a 80% mais
chances de se tornarem adultos obesos. Em recente congresso
internacional sobre o assunto, relatou, autoridades de todo o mundo
decidiram lutar pela proibição da própria propaganda de alimentos
infantis na televisão. "Nosso governo será pressionado", adiantou
aos deputados.
Deputados têm projetos na área
O presidente da Comissão de Educação, deputado
Deiró Marra (PR), citou projeto de lei de sua autoria que prevê a
contratação de nutricionistas pelas superintendências regionais de
ensino. Para ele, a solução dos problemas de alimentação infantil
passa pela qualidade da merenda. O deputado Carlos Pimenta (PDT)
lembrou que as políticas públicas nesse sentido devem levar em conta
regionalidades do Estado, pois em algumas regiões o problema não é
obesidade, mas desnutrição. Ele, que também relatou projeto de sua
autoria sobre o assunto, sugeriu que todas as propostas sejam
reunidas e consolidadas, para que possam ser realmente cumpridas.
A deputada Maria Lúcia Mendonça (DEM), pediu que
todos os projetos sejam discutidos pela Comissão de Educação, da
qual é vice-presidente. Ela destacou a deficiência de recursos para
alimentação nas escolas e lembrou que a maioria dos alunos chega
para a aula sem nada ter comido. O presidente da Comissão de Saúde,
Carlos Mosconi (PSDB), alertou sobre os riscos crescentes da
obesidade infantil no País e também destacou a importância da
merenda escolar, "que tem o mérito de ter reduzido
significativamente o nível de desnutrição no Brasil".
Prós e contras - Para o
deputado Vanderlei Jangrossi (PP), a ação de profissionais de
nutrição e a realização de campanhas são medidas que podem
efetivamente combater a obesidade infantil, no lugar de um projeto
proibitivo, que poderia resultar no aumento da vontade das crianças
em consumir produtos inadequados. Já o vice-presidente da Comissão
de Saúde, deputado Hely Tarqüínio (PV), lembrou que, apesar do
mérito da proposta, não basta que a ALMG a aprove; ela deve ser
sancionada e regulamentada pelo Executivo, que deve ter os recursos
para cumpri-la - ou não será efetivada. Para ele, é preciso avançar
nas discussões, principalmente em relação às leis já existentes.
Por outro lado, para o deputado Doutor Rinaldo
(PSB), a proibição da venda de alimentos nas escolas pode não ser um
divisor de águas, mas irá dificultar o acesso das crianças a tais
alimentos. Também o deputado Carlin Moura (PCdoB) mostrou-se
favorável ao projeto, com as mudanças que se fizerem necessárias: "A
escola é o espaço do exemplo e tem responsabilidade sobre as
crianças que estão ali dentro. O projeto tem grande sintonia com a
realidade objetiva".
Debates - Ainda na reunião,
o nutricionista Felipe França, da Secretaria de Saúde, falou sobre o
projeto-piloto "Alimentação Saudável", desenvolvido pela pasta. Já
Márcia Regina Mazacotti, do Conselho Regional de Nutricionistas,
falou sobre algumas normas do Rio de Janeiro que tratam de proibição
de alimentos, onde, segundo ela, as discussões já estão um pouco
mais avançadas. Há uma lei estadual, por exemplo, que proíbe a venda
de doces e alimentos com corantes a 200 metros de escolas. Outras
pessoas também usaram a palavra na fase dos debates.
Tramitação - O PL 898/07
está aguardando parecer de 1º turno da CCJ. No dia 3/7, o deputado
designado relator do projeto, Gilberto Abramo (PMDB), concluiu pela
inconstitucionalidade da matéria. O parecer ainda não foi votado
pela comissão, devido a adiamento de discussão pedido pelo deputado
Hely Tarqüínio.
Presenças - Da Comissão de
Saúde, deputados Carlos Mosconi (PSDB), presidente; Hely Tarqüínio
(PV), vice; Carlos pimenta (PDT); Doutor Rinaldo (PSB); e da
Comissão de Educação, Deiró Marra (PR), presidente; Maria Lúcia
Mendonça (DEM), vice; Carlin moura (PCdoB) e Vanderlei Jangrossi
(PP), além do deputado Délio Malheiros (PV)
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