Cientista denuncia remédio ineficaz para tratamento de câncer

Um medicamento para tratamento de câncer, importado da Argentina pelo Ministério da Saúde para atender cerca de 200 m...

24/08/2007 - 00:00
 

Cientista denuncia remédio ineficaz para tratamento de câncer

Um medicamento para tratamento de câncer, importado da Argentina pelo Ministério da Saúde para atender cerca de 200 mil pacientes do SUS, tem um defeito na fórmula que pode induzir os médicos a erro na prescrição, e pode criar resistência no tumor, agravando o estado do paciente. Essa denúncia foi trazida ao conhecimento dos deputados da Comissão de Saúde da Assembléia Legislativa de Minas Gerais pelo cientista Antônio Salustiano Machado, e será esclarecida em audiência pública marcada para esta quarta-feira (29/8/07), a partir das 9h15, a requerimento do presidente da comissão, deputado Carlos Mosconi (PSDB).

"O professor Salustiano, que foi secretário de Ciência e Tecnologia no governo Itamar Franco, é PhD em Química na França. Portanto, tem qualificação para fazer essa denúncia tão grave. Segundo ele, falta um estabilizante na fórmula do medicamento docetaxel, importado de laboratórios argentinos. Queremos esclarecer também as razões pelas quais a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) recebeu a denúncia há um ano e meio e não tomou as providências que tem obrigação de tomar para analisar o medicamento e suspender sua distribuição, se comprovada a instabilidade", informa o deputado Mosconi.

Estão convidados para a audiência pública o secretário de Estado de Saúde, Marcus Pestana; o superintendente da Vigilância Sanitária de Minas Gerais, José Geraldo Leal de Castro; a diretora da Vigilância Sanitária em Medicamentos e Congêneres de Minas Gerais, Terezinha Póvoa; o presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia, Roberto Porto Fonseca; e o professor da Faculdade de Farmácia da UFMG, Gérson Pianetti.

Do médico Porto Fonseca, os deputados esperam obter informações que confirmem a suspeita sobre os erros na prescrição da dosagem que podem ser provocados pela instabilidade do docetaxel. Outro convidado importante com presença confirmada é o jurista Alexandre Dupeyrat, ex-ministro da Justiça, que travou recentemente batalhas jurídicas para defender a indústria farmacêutica nacional contra os interesses dos grandes conglomerados multinacionais.

Vigilância Sanitária estadual tem autonomia

O objetivo da audiência é pressionar a Anvisa para que realize as análises dos medicamentos e determine sua retirada, se comprovada a denúncia. No entanto, o deputado Mosconi acredita que, mesmo se a Anvisa não tomar providências, a Vigilância Sanitária estadual tem autonomia para determinar as análises, resguardando a Secretaria de Saúde, o município e o Ipsemg de adquirir medicamentos de eficácia duvidosa para o tratamento do câncer.

Segundo Salustiano Machado, o docetaxel é uma molécula extraída da casca do teixo, e conhecida desde a década de 60 por suas propriedades de eliminar tumores malignos, preservando os tecidos sadios. Só na década de 90, no entanto, foi possível sintetizar essa molécula em laboratório, abrindo caminho para o desenvolvimento do medicamento, que é um dos mais modernos para tratamento de câncer de mama, de próstata, de pulmão e pequenos tumores. Ele informa que a pesquisa básica foi toda financiada por dinheiro público na França, e mais tarde a patente foi entregue ao grupo Rhône-Poulenc, que comercializou o produto com altos lucros em todo o mundo.

No Brasil, um frasco do medicamento custava R$ 3,5 mil, até que o Laboratório Quiral, de Juiz de Fora, começou a fabricá-lo por R$ 790,00. Nesse laboratório, Salustiano analisou amostras de dez marcas do docetaxel utilizados no Brasil. As fabricadas pelo laboratório Eurofarma e pelo Sanofi Aventis Pharma (preposto no Brasil do Rhône-Poulenc) estão de acordo com as normas bioquímicas. Todavia, nas oito fabricadas por laboratórios argentinos faltaria um estabilizante que provoca a perda de potência e, em casos mais graves, sua decomposição em uma fórmula que cria, no tumor maligno, resistência ao tratamento.

"Por dever ético, apresentei reiteradas denúncias à Anvisa e estou perplexo porque esse gravíssimo risco à saúde pública não vem merecendo atenção por parte da agência. Decidi então procurar os deputados da Comissão de Saúde da Assembléia para dar repercussão à denúncia e iniciar, por Minas, o devido controle da qualidade desse medicamento", disse o cientista.

 

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