Participantes de encontro em Lafaiete sugerem mudanças no
ICMS
A ampliação do número de beneficiados pelo critério
dos municípios mais populosos do Estado para distribuição do ICMS,
de 50 para 85, e a exclusão do percentual destinado aos municípios
mineradores (0,11%) foram as principais propostas apresentadas pelos
participantes do encontro regional do Fórum Técnico ICMS Solidário,
realizado pela Assembléia Legislativa de Minas Gerais nesta
quinta-feira (23/8/07) em Conselheiro Lafaiete. A sugestão de
aumentar de 1% para 2% o percentual do critério meio ambiente voltou
a ser apresentada. Essa proposta tem sido recorrente nos encontros
regionais, que têm o objetivo de colher sugestões para aprimorar o
Projeto de Lei (PL) 637/07. O evento de Lafaiete reuniu mais de 100
pessoas de 27 municípios da Região Central do Estado, entre elas, 17
prefeitos.
O PL 637/07, do deputado Dinis Pinheiro (PSDB),
altera a Lei 13.803, de 2000, conhecida como Lei Robin Hood. A
proposta modifica os critérios de distribuição do ICMS entre os
municípios mineiros. O assunto está sendo discutido em todas as
regiões do Estado e a etapa final do fórum acontecerá em Belo
Horizonte nos dias 2 e 3 de outubro. "O sistema de distribuição do
ICMS no Estado é perverso, ultrapassado e beneficia uma minoria em
detrimento da maioria", afirmou o autor do projeto, deputado Dinis
Pinheiro. Ele salientou que o projeto vai melhorar o problema dos
municípios mais pobres, mas não vai resolver a situação de
desigualdade. "Os municípios mais ricos continuarão sendo os mais
ricos do Estado", afirmou, repudiando a posição crítica dos
prefeitos das cidades de Betim e Uberlândia em relação à
matéria.
Na abertura dos trabalhos, o deputado Célio Moreira
(PSDB), que representou o presidente Alberto Pinto Coelho (PP) no
encontro regional, ressaltou a importância da interiorização dos
debates sobre o projeto e lembrou que a maior parte dos municípios
mineiros sobrevive das transferências do Estado e da União, não
tendo movimentação financeira suficiente para manterem suas funções.
Todos os deputados presentes ao encontro fizeram apelos para a
participação dos municípios na etapa final do fórum. A deputada
Gláucia Brandão (PPS) disse que o projeto busca a justiça tributária
e usou o exemplo de sua cidade para reforçar sua posição favorável
ao projeto. Ribeirão das Neves tem 350 mil habitantes e arrecada R$
930 mil de ICMS por mês, enquanto Betim, que tem população de 400
mil habitantes, recebe quase R$ 29 milhões mensalmente.
No mesmo sentido, o deputado Fábio Avelar (PSC)
afirmou que os municípios mais ricos não vão perder, mas deixar de
ganhar um pouco. "E esse pouco é de suma importância para os
municípios que têm menos recursos", completou. O deputado também
acredita que o momento é bastante favorável à aprovação do projeto,
visto que a Frente Parlamentar em Defesa do ICMS Solidário já tem 66
assinaturas, o que demonstra o apoio dos parlamentares à proposta.
Para a deputada Maria Lúcia Mendonça (DEM), é importante que os
municípios mais ricos se solidarizem com os que recebem menos
recursos. Ela também lamentou a postura do prefeito de Uberlândia,
que pretende fazer manifestação contrária ao projeto.
Prefeito de Lafaiete defende projeto
De acordo com o prefeito de Conselheiro Lafaiete,
Júlio César de Almeida Barros, a necessidade de uma distribuição
mais justa do ICMS sempre foi assunto nos meios políticos. Ele disse
que sua cidade tem 135 mil habitantes e arrecadação per
capita de ICMS de R$ 7 ao mês, embora receba demandas de outros
18 municípios da região. O prefeito acredita que o projeto poderá
proporcionar mais justiça social. O presidente da Câmara Municipal
de Lafaiete, Valdir Vieira de Resende, lembrou que, dos dez
municípios da microrregião, apenas dois terão perdas de receita com
a aprovação do projeto. "Cerca de 165 mil habitantes de um universo
de 240 mil serão beneficiados", comparou.
De acordo com simulação feita pela Consultoria da
ALMG, com base nos valores de ICMS de abril deste ano, a Região
Central teria seu repasse de imposto reduzido em 2,1%, em média. Na
microrregião de Conselheiro Lafaiete, a queda global seria ainda
maior, de 3,8%, puxada pela redução de repasses para Congonhas
(-7,91%) e Ouro Branco (-8,38%). Os demais municípios da
microrregião teriam ganhos, inclusive Conselheiro Lafaiete, onde o
repasse seria ampliado em 12,01%. Na Região Central, também deve
ocorrer redução de repasses nas microrregiões de Belo Horizonte
(-2,21%), Itabira (-7,42%) e Ouro Preto (-9,19%).
Lei Robin Hood está em sua terceira versão
A coordenadora técnica da Lei Robin Hood da
Fundação João Pinheiro, Isabella Virgínia Freire Biondini, em sua
exposição explicou que até 1991 não havia critério técnico para
distribuição do ICMS definido pelo Estado. De 1991 a 1995, um
decreto estabeleceu que essa distribuição seria feita com base no
Valor Adicionado Fiscal - VAF (94%). Também foram distribuídos
recursos para os municípios mineradores (5,61%) e para os municípios
emancipados (0,323%). A partir de 1995, passou a vigorar a Lei Robin
Hood, que está hoje na sua terceira versão, que data de 2000.
Segundo Isabella Biondini, a necessidade da proposta de uma nova lei
de distribuição do ICMS deve-se à estagnação dos critérios, à
diminuição dos incentivos e à operacionalidade da lei.
O gerente de Economia e Finanças, Transporte,
Comunicação e Obras Públicas da Consultoria Temática da ALMG, Hélio
Ferreira dos Santos, explicou aos participantes as diretrizes do
novo projeto. A proposta original do PL 637/07 é distribuir, pelo
critério do VAF, o mínimo determinado pela Constituição Federal, que
é 75% - e não os 79,68% atuais. Assim, os 4,68% restantes serão
distribuídos a partir de um novo critério, chamado ICMS Solidário.
Já os demais critérios não terão o índice alterado, mas serão
separados em dois grupos, um relativo a critérios econômicos e outro
a critérios sociais. "Um dos objetivos do projeto é corrigir
distorções. Hoje 20% dos municípios detêm 80% dos recursos",
concluiu.
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