Projeto que diminui área do Rola-Moça recebe críticas em audiência

"Esse projeto não tem possibilidade de prosperar", afirmou o deputado Sávio Souza Cruz (PMDB), presidente da Comissão...

22/08/2007 - 00:00
 

Projeto que diminui área do Rola-Moça recebe críticas em audiência

"Esse projeto não tem possibilidade de prosperar", afirmou o deputado Sávio Souza Cruz (PMDB), presidente da Comissão de Meio Ambiente e Recursos Naturais da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, durante audiência pública, realizada nesta quarta-feira (22/8/07), para discutir o Projeto de Lei (PL) 124/07, do deputado Ivair Nogueira (PMDB), que pretende alterar as dimensões e limites do Parque Estadual da Serra do Rola-Moça. Caso seja aprovado, o projeto diminuiria em 6,5% a área de 3.688,63 hectares do parque.

Com o auditório lotado de estudantes das universidades PUC Minas, UNA e UFMG, o debate reuniu representantes de órgãos governamentais, não-governamentais e da sociedade civil. Os autores do requerimento para a realização da audiência foram os deputados Padre João (PT) e Wander Borges (PSB). Padre João frisou a importância da discussão. "Não devemos enxergar a vida só no hoje. O que é mais importante? O minério, que é uma riqueza finita, ou a água que, além de tudo, é um bem renovável? Nosso objetivo aqui é ouvir a comunidade e ter esclarecimentos sobre o assunto", disse.

Borges também defendeu a ampliação da discussão sobre o projeto e lembrou a existência do PL 1.304/07, do deputado Délio Malheiros (PV), que propõe o aumento da área do parque, com a adição da área da Serra da Calçada, que significaria mais 1.100 hectares ao Rola-Moça. "Esse trecho fica às margens da BR-040, em frente ao condomínio Vale do Sol e será destruída se não lutarmos contra isso. Tancredo disse um dia que ninguém destrói as serras de Minas. A Companhia Vale do Rio Doce está fazendo isso, está nivelando nossas serras", afirmou Malheiros. Uma nova audiência pública discutirá o PL 1.304/07, no início de setembro.

Abaixo assinado contra o projeto já tem mais de 800 assinaturas

A diretora de Meio Ambiente do condomínio Retiro das Pedras (que fica na região do Rola-Moça), Ana Paula Bax, entregou 300 assinaturas que se somaram às mais de 500 que fazem parte de um documento contrário ao PL 124/07. "Também estamos com outro abaixo-assinado, já com 10 mil assinaturas, a favor do projeto do deputado Délio Malheiros", informou. Ela lembrou que a região tem várias espécies endêmicas, ou seja, que só existem ali.

Também esteve presente o gestor da APA-Sul e subgerente do Parque do Rola-Moça, Luiz Roberto Bendia. Ele lembrou que a região abastece cerca de 400 mil pessoas da Região Metropolitana com água potável. "São seis mananciais, além de Fechos, próximo ao local. Se tivermos atividades minerárias ali, a água vai diminuir.

Mais críticas - "O Instituto Estadual de Florestas é contra o projeto", salientou a diretora de áreas protegidas do Instituto Estadual de Florestas (IEF), Aline Tristão Bernardes. "Essa é a posição oficial do órgão. É inadmissível, em tempos de aquecimento global, discutir a desintegração de uma área protegida." A superintendente-executiva da Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda), Maria Dalce Ricas, fez coro aos opositores do projeto. "Nossas serras não são só estoque de minério. Minas Gerais tem somente 1,5% de áreas protegidas no seu território. Boa parte disso só no papel. A Assembléia deveria discutir essa situação", alertou.

O coordenador de graduação da unidade Barreiro da PUC Minas, Eugênio Batista Leite, lembrou a importância da participação popular, sobretudo dos estudantes ali presentes. "Fico feliz com essa mobilização. Podemos dizer não à falta de participação, não ao projeto neoliberal capitalista selvagem. Pergunta-se por que criar unidades de conservação se não há como mantê-las. Que se crie e que se corra atrás dessa manutenção, pois daqui a 50 anos, não teremos onde criar. Podemos mudar essa história aqui, na Assembléia, e não quebrando vidraça", destacou Eugênio, que foi muito aplaudido pela platéia.

Deputado pede atenção à tramitação de emendas sobre o tema

"Infelizmente, temos que estar atentos à apresentação de propostas similares de uma forma sutil, porque não dizer, desonesta. O deputado Ivair tem o mérito de fazer sua proposição às claras e não por meio de emendas de 2º turno, que é o que tem acontecido, como foi o caso da Serra da Piedade", frisou o deputado Sávio Souza Cruz. Ele lembrou que o projeto em questão ainda está na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e que ele será anexado ao PL 1.304/07, de Malheiros, para análise conjunta das proposições. Ele também solicitou um estudo técnico ao IEF com um memorial descritivo do Rola-Moça, que daria subsídios fundamentais ao relator do projeto na comissão.

O deputado Rômulo Veneroso declarou seu apoio à luta contra a diminuição dos limites do parque. "Que nossa militância possa ganhar corpo na sociedade", declarou o deputado Almir Paraca (PT), que elogiou a participação dos estudantes e falou também sobre a necessidade de discutir seriamente sobre a revitalização das margens do rio São Francisco.

"O planeta deveria ser considerado uma só Unidade de Conservação", disse o ex-deputado Laudelino Augusto. Antigo presidente da comissão, ele elogiou o fato de a proposta vir como projeto de lei "e não como emenda, como muitas que chegaram e foram aprovadas e sancionadas pelo governador, como a referente a Grão Mogol e à Serra da Piedade", falou. Ele e o deputado Padre João lembraram a realização do plebiscito organizado pelas organizações populares, na primeira semana de setembro, que pretende mobilizar os cidadãos para que a Companhia Vale do Rio Doce, privatizada em 1997, volte a ser controlada pelo Estado.

Projeto sobre auditorias ambientais está pronto para análise de 2o turno

Após a audiência pública, foram analisados os projetos na pauta do dia. Entre eles, está pronto para ser votado pelo Plenário, em 2o turno, o Projeto de Lei (PL) 347/07, do deputado Doutor Viana (DEM), que altera o artigo 4o da Lei 10.627, de 1992, que dispõe sobre a realização de auditorias ambientais e dá outras providências. A comissão aprovou o parecer do deputado Wander Borges, favorável ao projeto na forma do vencido em 1o turno.

Pela forma aprovada em 1o turno, o projeto reduz de três para dois anos o intervalo de realização das auditorias ambientais em empresas ou atividades de elevado potencial poluidor. Para o relator, a redução deste prazo é fundamental para fiscalização ambiental. De acordo com o texto, as empresas ficam obrigadas a enviarem relatórios das auditorias à Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam) e estão previstas punições em caso de infração, observada a legislação ambiental vigente.

Rejeição - Já o Projeto de Lei (PL) 538/07, do deputado Leonardo Moreira (DEM), que dispõe sobre a elaboração de planos de manejo florestal simplificados, teve o parecer de 1o turno pela rejeição aprovado. O relator da matéria, Almir Paraca, ponderou que já existem autorizações legais sobre o assunto, como o Decreto 43.710, de 2004, que regulamenta a Lei 14.309, de 2002, que dispõe sobre a política florestal e de proteção à biodiversidade. Destacou ainda que, apesar das correções legais apresentadas por meio do substitutivo nº 1, da Comissão de Constituição e Justiça, o projeto se mostra desnecessário, "uma vez que todas as pretensões do autor já se encontram em normas estaduais". A proposição segue agora para parecer de 1o turno, da Comissão de Fiscalização Financeira e Orçamentária.

Originalmente, o PL 538/07 estabelece que poderão apresentar plano de manejo florestal simplificado os proprietários rurais cujas propriedades tenham até 150 hectares e mais de 50% de sua superfície seja coberta de vegetação submetida a regimes de preservação permanente e reserva legal. Estabelece também a gratuidade da assistência técnica pelo Estado, direta ou indiretamente, por meio de empresa pública, para a elaboração do plano para os proprietários rurais de áreas de até 50 hectares. O substitutivo, por sua vez, altera os artigos 34 e 41 da Lei 14.309, de 2002.

Em turno único, foram aprovados os Projetos de Lei 1.286/07, do deputado Tiago Ulisses (PV), que institui o Diploma Prefeitura Municipal "Amiga do Meio Ambiente"; e 1.311/07, de Almir Paraca, que cria o Dia Estadual de Reflexão sobre mudanças climáticas. Os relatores foram respectivamente, Sávio Souza Cruz e Wander Borges.

Retirado de pauta - O presidente da comissão, deputado Sávio Souza Cruz, retirou da pauta o PL 346/07, do deputado Doutor Viana, que institui o Cadastro Estadual de Entidades Ambientais do Estado de Minas Gerais (CEEA). Também foram aprovadas sete proposições que dispensam apreciação do Plenário da Assembléia.

Comissão vai realizar audiências em Extrema e Vespasiano

Sete requerimentos foram aprovados pelos deputados, sendo que dois solicitam audiências públicas no interior do Estado: em Extrema, no Sul de Minas; e Vespasiano, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. No Sul do Estado, o deputado Dalmo Ribeiro Silva (PSDB) solicitou reunião para debater a destinação e a utilização das águas do Rio Jaguari e as conseqüências para a população da região. Já o deputado Dinis Pinheiro (PSDB) pediu uma audiência pública em Vespasiano com a finalidade de discutir os danos ambientais provocados pela empresa Soeicon no município.

Também foi aprovado requerimento do deputado Carlos Pimenta (PDT) pedindo que seja encaminhado ofício ao Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), solicitando a suspensão das penalidades aos proprietários de poços tubulares em Minas Gerais até que se conclua o cadastro geral de utilização das águas subterrâneas no Estado.

Paracatu - O deputado Almir Paraca teve ainda quatro requerimentos aprovados. O primeiro é desdobramento da reunião da comissão em Paracatu, na última segunda-feira (20), e pede ao Copam que os recursos financeiros provenientes da medida de compensação ambiental relacionadas à expansão da mina de ouro da Rio Paracatu Mineração (RPM) sejam investidos totalmente no município. Solicita ainda que seja mantido o montante destinado ao Parque Clarismundo Xavier e o restante aplicado na criação de uma unidade de proteção ambiental.

Outro requerimento pede que a empresa Serra da Mesa preste esclarecimentos sobre as medidas de controle ambiental que serão adotadas na construção da linha de transmissão de energia elétrica entre Paracatu e Montes Claros. Em seu terceiro pedido, Almir Paraca solicita à empresa Furnas Centrais Elétricas esclarecimentos a respeito do projeto de construção da hidrelétrica Batalha II no Rio São Marcos, na divisa de Minas Gerais e Goiás. Também deverá ser convidada a se pronunciar a construtora responsável pela obra.

O quarto requerimento do parlamentar pede, ao secretário de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Minas Gerais, José Carlos Carvalho, apoio sobre a implantação do Sistema Integrado de Proteção aos Mananciais (Sipam) dos cursos d´água de Santa Isabel e Espalha, na forma proposta pela Copasa e Prefeitura Municipal de Paracatu, em especial, à criação de uma unidade de proteção integral em suas bacias hidrográficas.

Presenças - Deputados Sávio Souza Cruz (PMDB), presidente; Wander Borges (PSB), Almir Paraca (PT), Rômulo Veneroso (PV), Padre João (PT) e Délio Malheiros (PV). Entre os convidados, além dos citados acima, esteve presente também o comandante da 7ª Companhia da Polícia Militar de Meio Ambiente e Trânsito de Minas Gerais, Major Cícero Leonardo da Cunha.

 

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