Professores denunciam demissões em universidade particular

Denúncias de possíveis irregularidades na Fundação Mineira de Educação e Cultura, mantenedora da universidade particu...

22/08/2007 - 00:03
 

Professores denunciam demissões em universidade particular

Denúncias de possíveis irregularidades na Fundação Mineira de Educação e Cultura, mantenedora da universidade particular Fumec, apresentadas por professores que dizem terem sido demitidos arbitrariamente pela instituição, foram tratadas nesta quarta-feira (22/8/07) na Comissão de Educação, Ciência, Tecnologia e Informática da Assembléia Legislativa de Minas Gerais. Como desdobramento, a comissão aprovou requerimentos para que o assunto seja novamente discutido, com a presença do Conselho Estadual de Educação e da direção da Fumec - que foi convidada para a reunião, mas não compareceu, justificando a ausência. A carta da direção foi lida no início do encontro pelo presidente da comissão, deputado Deiró Marra (PR).

Os deputados ouviram relatos dos professores Antônio Pereira dos Santos e Audineta Alves de Carvalho, que faziam parte do corpo docente da Fumec há cerca de três décadas. Segundo eles, teria havido arbitrariedades na recente demissão de até agora 27 profissionais, em um processo que teria sido desencadeado por um relatório de auditoria externa a que a comunidade escolar não teria tido acesso. Esse relatório teria apontado indícios de irregularidades administrativas por parte desses professores e representaria uma justificativa da instituição para afastar os profissionais.

Professor de ética e filosofia, Antônio Pereira dos Santos denunciou o que chamou de "poder tirânico" da direção e do Conselho de Curadores, que estariam desrespeitando os estatutos da instituição, e disse ter sido tratado como um criminoso ao ser demitido. Denunciou que teve seu nome incluído ilegalmente em um contrato e que a universidade instalou um "clima de terror" entre os professores. "Não somos simples funcionários demitidos por rotina administrativa. Foi uma perseguição política", acusou, afirmando que as demissões não estariam contemplando o direito de defesa dos envolvidos, além dos altos gastos com esses processos. Segundo a professora Audineta Alves de Carvalho, teria havido casos de pessoas que não foram ouvidas pela auditoria ou estariam na iminência de aposentarem-se. Ela denunciou irregularidades também no processo de nomeação de gestores - e não diretores - de ensino.

Também presente na reunião, o presidente do Sindicato dos Professores de Minas Gerais, Gilson Reis, afirmou que o sindicato fez várias tentativas de mediar a questão com a direção, sem sucesso. Segundo ele, a universidade, que deveria seguir os princípios democráticos, não teria respeitado os corpos docente e discente para discutir seu regimento. O sindicalista defendeu o fim do tratamento da educação como mercadoria e a necessidade de democratização efetiva do Conselho Estadual de Educação. Pediu à Comissão de Educação da Assembléia para aprofundar esse debate, que acaba tendo repercussão em outras instituições de ensino.

Deputados querem o contraditório

Após ouvirem os convidados, os deputados afirmaram que será essencial ouvir a direção da universidade para que se estabeleça o contraditório. Para isso, aprovaram quatro requerimentos sobre o assunto, de autoria conjunta. Eles pedem que a reitora e o presidente da Fumec sejam convidados a comparecer à reunião da comissão; e que a Fumec envie cópia do relatório da recente auditoria na instituição. Além disso, pedem a realização de reuniões para debater a atuação do Conselho Estadual de Educação no ensino superior privado e o tema "Educação não é Mercadoria".

A autora do requerimento pela reunião, deputada Ana Maria Resende (PSDB), disse que ficou surpresa ao receber em seu gabinete a denúncia sobre a instituição, que tem décadas de tradição no Estado, e que solicitou a reunião para ouvir as opiniões e esclarecer não propriamente as dispensas dos funcionários, mas as denúncias feitas por eles. "Como deputados, não podemos fazer pré- julgamentos. Queremos ajudar, buscar detalhes e ouvir o contraditório", apoiou o presidente da comissão, deputado Deiró Marra. Segundo ele, as denúncias de grampos telefônicos e contratos falsos são graves e devem ser investigadas.

O deputado Vanderlei Jangrossi (PP) também comentou a gravidade das denúncias, como a de demitir pessoas prestes a aposentar, e afirmou que é urgente convidar a direção da instituição para esclarecer a situação. "Temos que tratar a educação no nível em que ela precisa ser tratada. A ALMG busca solução para os problemas da população e essa questão deve ser esmiuçada", defendeu a deputada Maria Lúcia Mendonça (DEM), vice-presidente da comissão.

O deputado Carlin Moura (PCdoB) lembrou que o ensino superior privado é uma concessão do Estado e por isso deve estar sujeito ao princípio do controle público e da publicidade, além de dever ser tratado de maneira diferenciada. Para ele, é urgente e necessária a discussão sobre a composição e o papel do Conselho Estadual de Educação, que tem como função constitucional a fiscalização.

Carta da Fumec - Em carta enviada à comissão, a reitora, Romilda Rachel Soares da Silva, afirmou que "como toda instituição de ensino superior da natureza e do porte da Fumec, o processo de admissão e demissão de pessoal faz parte de sua rotina operacional, atendendo aos interesses da instituição e decorrendo de motivos como adaptação do quadro de pessoal para atender a legislação pertinente, demandas operacionais, questões de ordem administrativa e/ou acadêmica e, ainda, por solicitação de funcionários. Nossa instituição não tem como cuidar, de forma particular, da situação dos trabalhadores demitidos, a não ser nos âmbitos institucional e legal, como se dá, por exemplo, nos casos de processos judiciais movidos por esses trabalhadores. Atualmente, processos dessa natureza estão em curso, notadamente de dirigentes que foram demitidos pela fundação".

Presenças - Deputado Deiró Marra (PR), presidente; deputadas Maria Lúcia Mendonça (DEM), vice-presidente, e Ana Maria Resende (PSDB); deputados Carlin Moura (PCdoB) e Vanderlei Jangrossi (PP).

 

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