Anastasia mostra os desafios da Assembléia
Metropolitana
Em sua palestra sobre as questões legais e de
gestão que envolvem a criação e o funcionamento da Região
Metropolitana de Belo Horizonte, o vice-governador de Minas, Antônio
Anastasia, alertou que a tarefa da Assembléia Metropolitana não será
fácil. Ele participou, nesta segunda-feira (20/8/07), da Conferência
Metropolitana da Região Metropolitana de Belo Horizonte na
Assembléia Legislativa de Minas Gerais. Segundo Anastasia, os
interesses dos municípios costumam não ser os mesmos. Por isso, será
necessário haver harmonia entre os seus membros.
"Não estamos acostumados a compartilhar esses
interesses", destacou. Porém, Anastasia reiterou por duas vezes que
o governador Aécio Neves determinou todo o empenho de sua equipe
para o êxito desse novo modelo metropolitano. Esse sucesso depende
da implementação de políticas públicas metropolitanas que provoquem
ações articuladas e resultados concretos para os habitantes da
Região Metropolitana de Belo Horizonte.
Anastasia afirmou que o tema é o maior desafio sob
o ponto de vista conceitual e de aplicação de políticas públicas no
Brasil. O fenômeno da conurbação, que é quando as áreas urbanas de
dois ou mais municípios crescem a ponto de se transformarem em um
aglomerado só, trouxe uma série de dificuldades administrativas,
como as responsabilidades sobre o transporte público, a segurança, a
saúde e outras. O vice-governador lembrou o modelo fracassado da
Associação dos Municípios da Região Metropolitana de Belo Horizonte
(Ambel) e disse que a Assembléia Metropolitana, instalada nesta
segunda-feira, prevê o equilíbrio na representação dos interesses do
Estado e dos municípios. "Trata-se de um modelo inovador, mas só
funcionará se houver harmonia entre seus membros e interesses",
afirmou.
O objetivo é reduzir as desigualdades
O deputado Roberto Carvalho (PT), 3º
vice-presidente da Assembléia, presidiu os trabalhos durante a fase
de palestras e destacou que trata-se de um marco histórico. "Já
temos a legislação, agora teremos os instrumentos efetivamente
funcionando", afirmou o deputado.
A segunda palestra foi proferida pelo professor
titular da Universidade Estadual do Norte Fluminense, Sérgio de
Azevedo, que falou sobre o papel estratégico e da
institucionalização da região metropolitana. Segundo ele, as
políticas públicas de médio e longo prazos elaboradas pela
Assembléia Metropolitana terão o objetivo de reduzir as
desigualdades entre os municípios. Ele também defendeu a sintonia
entre os membros da Assembléia, ressalvando que os avanços
pretendidos ainda estão longe de se tornar realidade.
Já o doutor em Ciência Política da Universidade de
São Paulo, Fernando Luiz Abrucio, falou da importância da governança
metropolitana e apresentou a experiência metropolitana do ABC
paulista, que reúne cidades industriais em São Paulo. Analisou
também a situação atual da Região Metropolitana de Belo
Horizonte.
Segundo Abrucio, a urbanização foi a grande
revolução do século XX. Por um lado, ela trouxe diversos avanços e
melhorias, mas essas qualidades vieram acompanhadas de vários
problemas, que se tornaram desafios em termos de governança. O
principal deles seria o federalismo compartimentado, que funcionaria
segundo as prateleiras numa despensa: quem tem os recursos e as
obrigações, em cada esfera de governo. Para ele, as primeiras
tentativas de transformação das regiões metropolitanas em entes
federados, surgidas após a Constituição de 88, resultariam na
formação de mais prateleiras na despensa.
Agências precisam produzir resultados
O palestrante avalia que no Brasil foram criadas
ótimas políticas de combate às desigualdades nos últimos dez anos,
mas sem uma visão metropolitana. Ele viu em funcionamento uma
tentativa informal, que foi o Grande ABC, reunindo sete municípios
em torno da capital paulista. "Esse arranjo produziu sinergia
durante algum tempo, mas depois se esvaziou", analisou. Para ele, é
mais fácil para qualquer pessoa viver numa região metropolitana,
onde pode ter os pés em mais de uma cidade: trabalhar em uma, morar
na outra e às vezes até estudar em outra. O grande desafio que ele
vê pela frente é como tornar as agências capazes de produzir
resultados, porque não enxerga grandes diferenças entre o modelo
delas e o das autarquias do passado que impunham políticas.
A explicação para o fracasso da experiência do
Grande ABC foi dada pela professora Maria Coeli Simões Pires,
secretária adjunta da Sedru. Ela detalhou dois modelos de
metropolização: as soluções estruturais horizontais, em que os
governos locais se associam livremente e criam consórcios públicos
para atender ao interesse comum; e as soluções verticais,
organizadas por uma instituição superior, onde os arranjos são
compulsórios. "Foi assim nos anos 70, durante os governos militares,
e essas soluções criaram o estigma de modelo autoritário",
esclareceu.
"A Constituição de 88 esvaziou as instâncias das
regiões metropolitanas e enfraqueceu o papel do Estado na gestão
metropolitana, que passou a ser negligenciada. A União se afastou e
o Estado limitou sua atuação. Os municípios, por sua vez, se
mostraram sem capacidade de superar a perspectiva local e formular
algo compartilhado", ensinou Maria Coeli.
Coeli falou também sobre a necessidade de
monitoramento dos fatores de pressão provenientes das mais diversas
forças que atuam no tecido social. Para ela, as decisões de alocar
recursos são sempre dramáticas, e devem ser compartilhadas, com seus
ônus e riscos. Sobretudo seria preciso aglutinar todas as forças
legítimas, para contrapor aos conflitos e confrontos decorrentes da
exclusão, representados pelo crime e pela especulação, que atuariam
como uma governança paralela instalada, embora ilegítima.
Ao final de sua exposição, Maria Coeli reconhece
que "o localismo exerce sobre nós um feitiço muito grande, mas
precisamos de um pensamento desprendido. O grande apelo é por uma
consciência metropolitana", concluiu.
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