Inquérito sobre agressão a skatistas deve estar concluído em 15 dias

O inquérito da Corregedoria Geral de Polícia sobre a agressão supostamente cometida por policiais militares contra sk...

16/08/2007 - 00:02
 

Inquérito sobre agressão a skatistas deve estar concluído em 15 dias

O inquérito da Corregedoria Geral de Polícia sobre a agressão supostamente cometida por policiais militares contra skatistas na Praça Sete, no centro de Belo Horizonte, na madrugada do última dia 12 de abril, deve estar concluído em 15 dias. A informação foi transmitida pelo deputado Durval Ângelo (PT), durante reunião da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, nesta quinta-feira (16/8/07). Ele disse que o corregedor apresentou essa justificativa para não participar da reunião para discutir o caso, e se colocou à disposição para apresentar o relatório do inquérito, assim que estiver concluído. "Já faz quatro meses que as agressões ocorreram e os policiais continuam trabalhando normalmente", lamentou o deputado. Ele esclareceu que o episódio foi gravado pelas câmeras do sistema "Olho Vivo". "Espero que o relatório da corregedoria traga punição exemplar para os policiais, já que as imagens são evidentes", afirmou.

De acordo com os relatos de um dos cinco jovens que estariam no momento da agressão, Felipe Guilherme Cunha e de seu pai, Gledson Cordeiro Cunha, que é policial civil, os skatistas voltavam de um restaurante e pararam na Praça Sete para que dois deles pegassem ônibus. Os policiais à paisana se aproximaram e, um deles, com a arma na mão, começou a ameaçar os jovens e dizer que eles não poderiam andar de skate naquele local. Quando o policial disse que os levaria à delegacia, Felipe concordou. Foi quando o policial agrediu o jovem com chutes e tapas, tomou seu skate e o quebrou. Eles dispersaram e Felipe ligou para a mãe, que mora nas proximidades da praça, e ela entrou em contato com o pai do jovem. Gledson Cunha seguiu os policiais para saber o que teria levado às agressões e eles informaram ao pai de Felipe que teriam sido agredidos primeiro pelos rapazes. Gledson disse duvidar dessa versão, já que os policiais estavam armados.

Imagens sobre as agressões foram exibidas na reunião

As imagens coletadas pelas câmeras instaladas no centro da cidade pelo sistema "Olho Vivo", foram exibidas durante a reunião. Gledson Cunha chamou a atenção para o tempo de duração das filmagens, cerca de 12 minutos. "Acho curioso que nenhuma viatura tenha sido acionada para verificar o que estava ocorrendo", afirmou.

O deputado João Leite (PSDB) questionou Gledson sobre as providências que ele tomou a partir desse dia. O pai de Felipe respondeu que solicitou as imagens por meio de seu chefe na polícia, levou o filho e o amigo que também foi agredido para fazerem o exame de corpo delito no IML, e apresentou cópias das fitas e pedidos de providências à Corregedoria da PM, à Ouvidoria-Geral de Polícia e ao 21º Distrito Policial, que fica na região onde aconteceu o episódio. Gledson Cunha disse ainda que, após as denúncias, começou a receber telefonemas de ameaça. "Acredito na Justiça, porque eu trabalho com a Justiça. Sou policial há 23 anos e aquilo não é ser policial", afirmou.

A presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal de Belo Horizonte, vereadora Ana Paschoal dos Anjos, defendeu a conscientização sobre o papel da polícia. "Não podemos deixar que os jovens pensem que o policial é um inimigo", defendeu. Ela também criticou a repressão dos policiais ao skate e disse que a prática de esportes deve ser incentivada. O deputado João Leite também afirmou que a agressão é inaceitável e que é também uma agressão ao esporte. As alternativas que a Prefeitura de Belo Horizonte vem buscando para garantir espaços para a prática de esportes radicais foram apresentadas pelo gerente de Política e Intercâmbio da Juventude, Leandro Cruz.

Comissão aprova requerimentos de providências

O deputado Durval Ângelo afirmou que os policiais supostamente envolvidos nas agressões aos skatistas respondem também a outros processos. Vários requerimentos do deputado Durval Ângelo foram aprovados durante a reunião referentes a esse caso. Um deles pede o envio de ofício ao juiz do Tribunal do Júri de Uberlândia, solicitando a marcação de júri que figura como acusado por homicídio o cabo da Polícia Militar que, supostamente, agrediu Felipe Cunha. Ele também pede envio de ofício ao juiz da Comarca de Pitangui solicitando providências para a agilização do processo de ação de alimentos que figura como parte o sargento que teria participado da agressão aos skatistas.

Também foram aprovados requerimentos pedindo o envio de ofícios ao Comando-Geral da Polícia Militar para que informe sobre a ocorrência de registro policial contra skatistas no hipercentro da capital e, em caso positivo, que envie cópias das ocorrências à comissão; ao comandante da Cia. de Policiamento do Hipercentro, solicitando informações com relação a demora ou o não deslocamento de uma viatura policial para a Praça Sete, quando o Sistema Olho Vivo captou a agressão aos skatistas; e ao coordenador do CAO-Direitos Humanos, solicitando à operadora de telefonia celular a bilhetagem do celular de Gledson Cunha em função de telefonemas anônimos e de ameaças depois do episódio.

A comissão também aprovou requerimento solicitando o convite à Corregedoria-Geral de Polícia para prestar esclarecimentos, em audiência pública, sobre violência e maus tratos a skatistas cometidos por policiais no hipercentro de Belo Horizonte.

Pinga-fogo - Na fase da reunião reservada para denúncias da população, a comissão coletou depoimentos de violação de direitos humanos e deu os encaminhamentos possíveis. Uma denunciante relatou que traficantes teriam atirado na porta, invadido sua casa, roubado suas coisas e que ela, ao procurar uma delegacia, foi encaminhada à Comissão de Direitos Humanos. Segundo ela, o delegado teria dito que "foi aprovada uma lei na Assembléia para proteger bandido e que ele não poderia fazer nada". O deputado Durval Ângelo apresentou requerimento para visitar a casa da denunciante na próxima segunda-feira (20), às 14 horas, em companhia de um corregedor de polícia, para verificar os estragos feitos na residência.

Ainda foram aprovados outros requerimentos. O deputado Duval Ângelo pediu a realização de uma reunião conjunta com a Comissão de Participação Popular para obter esclarecimentos sobre a situação de cerca de 600 famílias residentes no Bairro São José, no município de Paracatu. Desde 2004, as famílias estão ameaçadas de despejo em razão de uma ação de reintegração de posse proposta por um suposto proprietário da área que, segundo a Associação de Moradores do bairro, teria juntado documentos falsos ao processo para comprovação da propriedade. O mesmo deputado pediu que o presidente da Assembléia marque uma data para a realização de entrega solene de cópia do Livro Negro do Terrorismo no Brasil ao acervo do Memorial da Ditadura, do Arquivo Público Mineiro. O deputado João Leite pediu a formulação de manifestação de repúdio ao presidente da República pela deportação dos dois boxeadores cubanos.

Comitê da Espanha visita comissão

A comissão recebeu a visita de membros do Comitê Dom Oscar Romero, da Espanha, que trabalha com questões ligadas à violação de direitos humanos no mundo. De acordo com Miréia Rúbio Melín, do comitê, a denúncia contra a violência seria o ponto comum entre o trabalho que o grupo realiza e aquele realizado pela Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa. No entanto, ela acrescentou que eles também lidam com a violência estrutural, buscando a sensibilização para a situação dos empobrecidos; e com a violência cultural, que visa prestar apoio aos imigrantes. "Tentamos ter uma atitude preventiva em relação à violência, observando suas causas e os comportamentos que podem levar a ela", afirmou. Ela concluiu citando Dom Pedro Casaldáglia: "Nosso desafio é humanizar a humanidade".

Presenças - Deputados Durval Ângelo (PT), presidente; João Leite (PSDB) e Lafayette de Andrada (PSDB).

 

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