Audiência pública discute endividamento dos produtores rurais

A renda do produtor rural, segundo dados da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), ca...

13/08/2007 - 00:01
 

Audiência pública discute endividamento dos produtores rurais

A renda do produtor rural, segundo dados da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), caiu 33% em valores reais nos últimos dez anos. Para piorar, o custo da mão-de-obra subiu 125%, enquanto que o dos fertilizantes aumentou 130% no mesmo período. A Comissão de Política Agropecuária e Agroindustrial da Assembléia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) reuniu representantes de agricultores e de governos nesta segunda-feira (13/8/07) para discutir e propor soluções para a crise do setor agropecuário. A audiência foi requerida pelo deputado Antônio Carlos Arantes (PSC).

Uma das principais queixas dos produtores presentes foi em relação à dívida rural. Arantes informou que a safra brasileira atual é calculada em R$ 90 bilhões, mas os produtores devem R$ 130 bilhões. "Ou seja, a dívida da agricultura brasileira é de uma safra e meia", ilustrou. O deputado Chico Uejo (PSB) resumiu o sentimento dos agricultores ao dizer que "por melhores que sejam os próximos anos, o produtor rural não terá condições de saldar essa dívida". Ele frisou que os agricultores não pretendem dar calote na dívida, mas cobrou do governo a concessão de maiores prazos para o pagamento.

O superintendente federal do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento em Minas Gerais, João Vicente Diniz, informou que o ministro Reinhold Stephanes formou uma comissão para estudar o endividamento rural e que haverá novidades em breve. Apesar de não adiantar quais medidas poderiam ser tomadas, ele procurou tranqüilizar os presentes ao dizer que o Ministério tem a melhor equipe formada nos últimos anos.

Para o presidente da comissão, deputado Vanderlei Jangrossi (PP), outro problema é a questão tributária. Ele exemplificou com o ICMS cobrado sobre o álcool em Minas, que é de 25%, enquanto que outros Estados, como São Paulo, tributam esse combustível em 12%. O diretor executivo da Faemg, Marcos Abreu e Silva, acrescentou que o produtor rural, além de sofrer violência fiscal por parte do governo, está sujeito a furtos, roubos e todo tipo de ação criminosa. João Marcos Caixeta Franco, assessor técnico da Secretaria de Estado da Agricultura e Pecuária, completou que 65% da renda dos produtores rurais é transferida para outros setores da sociedade.

Faemg apresenta lista de 22 tópicos para reduzir endividamento

Diversas lideranças de entidades rurais se pronunciaram durante a reunião. Eles defenderam a mobilização da classe produtora no sentido de pressionar o governo a atender suas reivindicações e criticaram a tributação excessiva da agricultura brasileira, enquanto que no exterior essa atividade é subsidiada. A tônica da reunião, no entanto, foi o alongamento da dívida, defendido por todos. O representante da Faemg, Rodrigo Pontes, leu uma lista de 22 itens, detalhando mecanismos bancários e governamentais que a federação defende como justos para alongar a dívida e permitir que seja saldada.

Trajano Raul Ladeira de Lima, presidente da Associação Mineira de Cachaça de Qualidade (Ampaq), criticou a exclusão dos produtores de cachaça artesanal dos benefícios do Simples Nacional. Ele informou que a tributação sobre a cachaça industrial é de apenas R$ 0,38 por litro, enquanto a artesanal é tributada a R$ 2,23. "Só a garrafa, rótulo e rolha nos custam R$ 5,38 a unidade, fora o que gastamos para produzir. Assim, receio que, dos 660 alambiques rigorosamente registrados no Ministério da Agricultura, muitos possam optar pela clandestinidade", lamentou.

José Olímpio Nardelli de Castro, da área empresarial do Projeto Jaíba criada em 1998, relatou as turbulências políticas ocorridas desde essa época, e a catástrofe do Mal de Panamá, que dizimou os bananais, levando os produtores a acumular uma dívida de R$ 15 milhões com o BDMG. "Para nós, não há mais solução bancária, e sim uma solução política. A Assembléia pode nos ajudar a resolvê-la", reivindicou.

Leite e café sustentavam a formação universitária dos filhos

O deputado Arantes traçou um quadro sombrio da agricultura brasileira, e repeliu a imagem de "chorão" do produtor rural, apresentando números para ilustrar o divórcio entre a remuneração do produtor e o aumento dos insumos, dos combustíveis, dos impostos, da mão-de-obra, dos encargos trabalhistas. "Hoje vem fiscal até para cobrar outorga da água de serventia da casa do produtor, pequenas nascentes que há séculos são usadas naquelas propriedades", denunciou.

Arantes relatou casos concretos de produtores que empobreceram a ponto de perder as vacas e os veículos, sem condições de aproveitar o bom preço momentâneo do leite. "Há 20 anos um produtor conseguia educar seus filhos na faculdade tirando 500 litros de leite por dia e produzindo mil sacas de café por safra. Graças a isso temos hoje médicos, advogados e agrônomos atuando em nossas cidades. Hoje isso já não é mais possível", desabafou.

Ao final da reunião, João Vicente Diniz voltou a pedir confiança no atual Governo e no atual ministro da Agricultura, dizendo que há quatro anos começou "uma mudança radical para melhor na Agricultura", e que o Ministério estaria "lubrificando a máquina para andar mais rápido".

Requerimentos: três requerimentos foram aprovados na reunião. O primeiro, do presidente Vanderlei Jangrossi, propondo o encaminhamento das sugestões da Faemg à Secretaria da Agricultura e ao Ministério da Agricultura. Os dois seguintes, assinados pelos três deputados presentes, pedem envio de ofício ao Ministério da Agricultura pedindo empenho nas medidas de alongamento da dívida; e propõem audiência conjunta com a Comissão de Segurança Pública para discutir a violência no campo e medidas para segurança patrimonial do produtor rural.

Presenças - Deputados Vanderlei Jangrossi (PP), presidente da comissão; Chico Uejo (PSB), vice-presidente; e Antônio Carlos Arantes (PSC), Dalmo Ribeiro Silva (PSDB). Participaram também, além dos citados na matéria, o deputado federal Bilac Pinto, o presidente da Organização das Cooperativas do Estado de Minas Gerais, Ronaldo Scucatto; e o diretor-tesoureiro da Faemg, João Roberto Pulitti

 

 

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